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Os nomes e os livros

Escolher nome de livro é um baita desafio. Pior que batizar filho. Já perdi um de bobeira por não saber guardar segredo. Uma perda e tanto, diga-se, pois não me considero expert nisso. Mesmo os internos, de crônicas ou contos. Poemas? Custam noites de sono. Penso que há algo muito particular e emocional nesses batismos.

Chega a doer desapegar de um título que cai, feito um corpo, no vazio. Hoje vigio a boca. Guardo comigo, se tenho dúvidas. Divido só com os mais íntimos. O silêncio ajuda, pois o nome amadurece ou apodrece. Título bom escapole da mente, das mãos. Se é genial então, brinca de pique-esconde. Dá um estalo, desaparece.

Recomendo aos amigos que anotem, sempre que possível. Mesmo se lhes parece tolo ou absurdo. É válido também deixar de molho, pensar por uns dias, pesar os prós e os contras. Ver se o nome eleito soa dúbio. Para além dos conteúdos, gosto muito de alguns títulos. Não que sejam os melhores ou agradem a todos.

Me ganham pela irreverência, certa ironia. Risco no disco, de Ledusha, por exemplo. Quase dá para sentir o chiado da agulha no sulco do vinil. Na rua, a caminho do circo, da inesquecível Assionara Souza, percurso duma fuga extraordinária. Senhoras e senhores, o amanhecer, de Narlan Matos, bela evocação do nascer do dia.

Ou ainda Me segura que vou dar um troço, de Waly Salomão. Ah, eu amo esse título por tantos motivos que até oscilo entre a razão e a emoção. Uns outros me fisgam pela melancolia sensível. Nesse quesito, considero imbatível o do livro póstumo de Rodrigo de Souza Leão: Me roubaram uns dias contados.

Do mesmo modo, gosto de Chove sobre minha infância, de Miguel Sanches Neto, na contramão de ensolaradas visões do período. Na jugular do leitor, o nome dos livros convida à fruição como quem promete vida eterna. República Luminosa, de Andrés Barba, título que mais esconde do que entrega a sua trama.

E o que dizer dos mínimos de Domenico Starnone, Laços, Segredos, Assombrações? Há ainda os longos e intrigantes, Como se estivéssemos em palimpsesto de putas, de Elvira Vigna, Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios, de Marçal Aquino, um chevette girando no meio da tarde, de Dênisson Padilha Filho.

E os muito enigmáticos, aqueles que ficam ecoando na cabeça da gente depois que fechamos suas páginas. O sêmen do rinoceronte branco, de Cinthia Kriemler. Oroboro baobá, de Emmanuel Mirdad. Olhe que nem citei os clássicos. A essa lista, poderia acrescentar muitos outros. Mas, diga lá, qual a sua lista de títulos?

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