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Desfile da Resistência faz jus ao nome e leva espetáculo emocionante ao Santo Antônio

Foto: Sivaldo França/Divulgação

A abertura com um trecho forte do espetáculo Navio Negreiro Dos Tempos Atuais, da Focus Produções, seguido de uma apresentação de dança afro da pequena Julia, 7 aninhos, indicava: quem esteve no Forte de Capoeira nesse sábado (2) não foi somente pra um desfile de moda. O nome já indicava isso. A prática só confirmou.

O Desfile da Resistência colocou mais de 150 modelos, jovens negras e negros, na passarela montada sob o céu azulzinho do Santo Antônio Além do Carmo.

A beleza de quem desfilou também era fruto do trabalho incrível das mais de 30 marcas que colocaram seus trabalhos para jogo no evento, que teve como tema “Gueto: As ruas falam”, tentando colocar na passarela expressões cotidianas, artísticas e sociais das favelas da Bahia e pautando seu estilo com originalidade e fuga do padrão.

Foto: Sivaldo França/Divulgação

Cores, ousadia, beleza e representatividade subiam jà passarela junto de cada modelo e as cerca de 80 pessoas que acompanhava com olhares atentos tudo o que acontecia por ali.

Dono da loja Black Atitude e produtor geral do evento, Vander Charles comentou que fica emocionado ao ver o resultado do trabalho e valorizou a coletividade para alcançar o feito.

“Me sinto com a emoção do dever cumprido. Sabemos como é difícil. Nós negros não conseguimos acessar produtos que destacam nossa beleza, fortalece o black money e dá viabilidade a empreendedores. Muitas vezes, largam sua mão e fica difícil de continuar. Numa caminhada dura, só os duros caminham”, apontou o produtor.

Ele não escondeu a satisfação de ver as pessoas felizes num momento que alegou ser muito negado à comunidade negra no Brasil: de celebração das próprias belezas, traços, qualidades e, por que não, dos defeitos também? Afinal de contas, desfiles desse tipo são para resgatar a humanidade tão negada aos nossos.

Foto: Sivaldo França/Divulgação

Apresentadora do grande dia, Pérola Anjos fez um discurso emocionado sobre o propósito da iniciativa e mencionou a importância de ações do tipo para fortalecer e dar visibilidade à beleza negra. Nessa mesma linha, o diretor executivo da Focus Modas, Jonas Bueno, resumiu: “mais do que um simples ato estético ou desfile de moda, isso aqui é um manifesto, briga por revolução, fruto de um sonho por desenvolvimento coletivo”, afirmou.

Jonas ainda destacou o próprio espaço. Muitos negros escravizados foram presos e apanhavam no Forte de Capoeira, onde aconteceu o evento, e estar ali anos depois recontando a história, falando das mazelas deixadas pelo período escravagistas se tornou uma maneira de contar novos capítulos.

“Chegamos vestindo as ruas de nós e por nós, fazendo barulhos que reverberam além dos nossos guetos e mostrando todo o nosso poder a ser ouvido, visto e desfilado pelas ruas”, afirmou Vander Bispo.

Vários modelos que passaram pelo Afro Fashion Day, maior passarela negra do Brasil e que chegará à sua 8ª edição em 2022, estiveram por lá. Seja na passarela, seja prestigiando amigos e colegas que estão buscando o mesmo sonho.

Foto: Sivaldo França/Divulgação

Hoje modelo internacional, Carlos Cruz iniciou sua caminhada no AFD em 2017 e desde então já desfilou em países como Milão, Inglaterra e China. O objetivo para 2022 é fazer trabalhos na Índia, mas antes disso ele aproveita a temporada em Salvador para tocar projetos pessoais. Um deles foi desfilar no Resistência.

“Eu acho que estou já metade do caminho, mas nunca esqueço do primeiro passo. Toda vez que venho a Salvador, participo de projetos sociais e iniciativas como essa porque sei a importância que elas têm para jovens de periferia, como a violência acomete nossos bairros e a gente ter uma ação como essa é significante para meu coração”, disse Carlos. 

Como em todos os anos, o Afro Fashion Day acontece no mês de novembro, no dia 21, da Consciência Negra. As primeiras ideias para a edição deste ano começam a ser discutidas no próximo mês.

Mais de 250 modelos já passaram pela passarela do Afro Fashion Day, que já revelou muitos talentos. Entre eles, a top model Ana Flávia, primeira mulher negra vencedora do concurso Supermodel Of the World Brasil; Munik Lemos, que era vendedora de peixe frito na Ribeira e já participou de clipe da cantora Anitta.

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