Quanto questionada sobre a qual “cura” se refere o título de seu novo espetáculo, Deborah Colker logo alerta: “Não é a cura do coronavírus, porque, para este, tem a vacina. Com este, a gente sabe o que fazer”. A coreógrafa, claro, não minimiza a covid, mas ela diz que sua nova montagem, chamada Cura, é sobre aquelas curas que ainda não foram encontradas e que a humanidade ainda busca.
A montagem, que será encenada neste sábado e domingo no Teatro Castro Alves, tem trilha sonora de Carlinhos Brown, direção de arte de Gringo Cardia, e dramaturgia do rabino Nilton Bonder, autor de livros como A Alma Imoral. Deborah assina criação, coreografia e direção.
O espetáculo, define a coreógrafa, fala da “cura que não tem cura”. “Quando você chega à conclusão que a grande cura é a morte, você percebe que está sempre investigando saberes, conhecimentos, possibilidades, dores com que a gente se depara. Antes, eu era filha, irmã… aí, passei a ser mãe, tia, avó. Então, esse tempo vai te ensinando certos valores que eram tão importantes, que deixam de ser”.
Deborah Colker (Foto: Leo Aversa/divulgação) |
E foi a sua experiência de ser avó que originou a montagem de Cura, que começou a ser pensada há uns cinco anos. Theo, neto de Deborah, sofre de epidermólise bolhosa distrófica recessiva, uma raríssima mutação genética que provoca feridas constantes na pele provocadas por mínimos atritos, mas não é contagiosa.
“Com o Theo, tive essa primeira escuta, de que a mutação genética dele – prefiro falar em ‘mutação genética’ em vez de doença, porque doença é a ignorância – não tem cura. Saber que não tem cura é cruel, é difícil, absurdo trágico e não tem cura. Mas me indignei e fui lutando com isso, resistindo”, revela a avó de Theo.
Enquanto concebia a montagem, Deborah se surpreendeu com a história de Obaluaê, que conheceu através do coreógrafo Zebrinha. O orixá, que é o deus da cura, havia sido adotado por Iemanjá, depois de ter sido rejeitado pela mãe, por ter nascido muito feio e cheio de feridas, conta Deborah. Para protegê-lo, Iemanjá o cobre de palhas.
Entusiasmada, Deborah conta a história ao repórter: “Ele tem uma roupa de palha porque Iemanjá quer protegê-lo. E os outros perguntam: ‘como Iemanjá, uma mulher tão bonita, tem um filho coberto de palha?’. E ela responde: ‘ele é tão lindo que ninguém ia aguentar vê-lo de tanta beleza”.
Deborah contou a história a Theo, que ainda não sabia ler nem escrever, mas memorizou cada detalhe, incluindo os nomes dos deuses. Um dia, contou a história para a avó, que gravou, sem pretensão. Agora, aquela gravação está em Cura.
“E, quando mostrei a Brown a gravação, sugeri levar Theo a um estúdio pra regravar. Mas Brown não quis, disse que tinha que ser aquela. Mas tava com ruído, gravada em meu celular… mas ficou essa e é lindo!”, comemora.
Mas Deborah usa a dança para falar também de outras curas, como a de Stephen Hawking, cientista que sofria de ELA (Esclerose lateral amiotrófica). “Ele perdeu todos os movimentos e terminou mexendo só a pálpebra. Mas era um gênio! Como incluir essas pessoas na sociedade? Esse cara tem um problema e daí? Tem que ter um lugar, uma cadeira de rodas, um computador… o que for necessário para viver. E pronto! Essas pessoas [fora dos padrões] se escondem, têm vergonha, se inibem… isso não pode!”, protesta a coreógrafa.
SERVIÇO
CURA – novo espetáculo da Cia de Dança Deborah Colker Dias 9 e 10 de abril, 21 e 20h respectivamente
Sala Principal do Teatro Castro Alves (Pça 2 de Julho, Campo Grande) Ingressos à venda através do Sympla (https://bileto.sympla.com.br/event/72028)
FILAS “A a P”: R$180,00 (inteira) e R$90,00 (meia)
FILAS “Q a Z”: R$ 120,00 (inteira) e R$ 60,00 (meia)
FILAS “Z1 a Z8”: R$ 80,00 (inteira) e R$ 40,00 (meia)
FILAS “Z9 a Z11”: R$ 50,00 (inteira) e R$ 25,00 (meia)
*Assinantes do Clube Correio tem 40% de descontos sobre o valor da inteira