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Toca aqui todo mundo que não vai tirar a máscara nem a pau 

O rapaz escreveu, no post de minha amiga, que, na academia que ele treina, depois da tal “liberação”, “só aposentou a máscara quem já usava no queixo mesmo”. A garçonete que vinha, com o rosto desnudo, trazendo o cardápio, na área aberta do restaurante, teve que voltar pra trás depois que eu (mascarada) disse “ô, minha linda, arranje uma coleguinha de máscara pra atender a gente, por favor”. As duas moças que pediram carona a minha amiga, lá no Capão, precisaram seguir a pé por motivo de nudez facial. Escolhas. Cada qual com as suas. 

O que importa é que, apesar da crescente “liberação”, não tá proibido usar máscara. Pode usar, sim. Em qualquer situação. Inclusive, quem diz “não consigo tirar a máscara nos ambientes liberados”, não precisa conseguir. Do mesmo jeito que não precisa conseguir comer salada sem lavar nem tirar meleca no elevador nem passar uma semana sem tomar banho. Que são coisas totalmente permitidas, por lei, mas podemos escolher não fazer porque temos noção. Essa coisa que tá em falta no mercado e isso não é novidade alguma. O negócio é cada uma/a procurar sua turma. Então, toca aqui todo mundo que não vai tirar a máscara nem a pau. 

Eu tô garrando “ginge” de quem anda com a cara de fora, achando a coisa mais natural. Aquele sentimento que a gente pega e, a partir dali, não consegue ir muito com a cara da pessoa mais. Não quero proximidade. Menos ainda de quem tá comemorando loucamente que “agora posso ver próteses dentárias de estranhos, sentir o bafo dos outros, mostrar minha lesão de herpes, exibir os cravos do meu nariz, tomar chuva de perdigotos e espalhar os meus por aí” ainda completando “com alguma sorte, pego o vírus e passo pra alguém que pode até morrer ou produzo, em mim, uma nova cepa, que massa!”. Só consigo ver assim. 

“Tira logo a máscara das escolas que os catarros dos/as dimenó não tão podendo se misturar”, dizem os/as ainda mais retardados/as. Tem um povo que nunca quis proteger as crianças, né? Que nem as escolas queriam fechar, no auge da pandemia, lembra? Eu tô ligada. Suspiro revirando os olhos. Mais uma vez. A pandemia não nos deixou mais generosos/as, empáticos/as nem amorosos/as como previam as Polianas. Muito menos mais solidários. A minha esperança era de que nos deixasse, pelo menos, mais higiênicos e civilizados. Só que gente é raça ruim e nem isso esse povo quis aprender. Crendeuspai. 

Toda doença, toda epidemia, trouxe aprendizados de modos e costumes. Até arquitetônicos, saiba. Por exemplo, veja os hábitos de higiene que aprendemos com a Peste Negra. Também vá estudar o motivo pelo qual, hoje, tem banheiro em sua casa. Aproveite e conheça a história do médico húngaro Ignaz Semmelweis. Pioneiro dos procedimentos antissépticos, foi ele quem começou questionar a moda de médicos andarem com as roupas sujas de sangue, lá no século XVII, pra mostrar que eram retados. Quanto mais sujeira, mais prestígio. E ninguém lavava as mãos. Semmelweis foi alvo de muita contestação, claro. Só mais tarde, Louis Pasteur conseguiu provar a importância da higiene para a saúde humana, também em ambiente hospitalar. Isso mudou o rumo da prosa da humanidade. 

Sempre evoluímos, aprendemos alguma coisa, incorporamos novos hábitos à rotina. Menos dessa vez. Pra muita gente, o objetivo da vida, de uns tempos pra cá, passou a ser andar pra trás. Porque essa tara por “tirar as máscaras” é apenas isso: jogar no lixo a possibilidade de aprendizado. Popularizar esse equipamento de segurança é uma coisa boa que a covid fez, no meio de tanta desgraça. Máscaras protegem de muitas doenças, agora todo mundo sabe disso. Devem ser mantidas para algumas situações e podem continuar salvando vidas. É muito difícil entender? 

Sim, tem gente que eu gosto que tá “negacionista de máscara” e vou ter que dar um jeito de conviver, claro. Mas, comemoro que existe a minha laia. A gente se acostumou com as máscaras e, até bem antes da pandemia, já não entrava em casa com sapatos. A gente já lavava tudo que vai para a geladeira e passava um paninho, pelo menos, nas compras que são guardadas na despensa. A gente já lavava roupas novas antes de usar e não ficava falando na cara de recém-nascidos. A gente já lavava a bunda depois de fazer cocô, em vez de espalhar porcaria com o papel. A gente até já não deitava em cama com roupa de rua, a não ser que chegasse bêbo da farra. Mas, aí, trocava a roupa de cama na manhã seguinte. 

Agora, estamos ótimos/as com as máscaras, com o alquingél e sem as aglomerações evitáveis. Gostamos de ser diferentões e diferentonas de todos os rolês, achamos charme. Igual a minha amiga – a mesma da história da carona, lá de cima – que achou divertido ser a única de máscara naquele casamento, mês passado. “Dá um ar especial”, também acho. Entre todos/as os/as convidados/as, só ela usava. E os/as “serviçais”, claro. Que, certamente, pela mentalidade do povo, só pobre que passa doença pra rico e nunca o contrário, né? Esquecem, apenas, de que o primeiro caso de transmissão de covid-19 na Bahia foi de uma empregada contaminada pela patroa. Agora, inverteram a lógica. Mas eu tô bem acordada. 

Por mim, podem baixar quantos decretos quiserem, tô nem aí. Aqui, máscaras continuarão sendo usadas. Do tipo PFF2, evidentemente. Chiquérrimas. Com todas as trocas necessárias, a companhia luxuosa do alquingél e algum distanciamento social. Não vejo problemas nessas três medidas que me causam zero desconforto e garantem alguma civilidade na interação social.  Depois do fim da pandemia, quando isso for anunciado pela OMS (OMS, tá?), posso trocar a PFF2 pela cirúrgica que é mais levinha. Tenho também. De cores variadas.

 

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