InícioEditorialColuna – Paris 2024 não será o último desafio de Susana Schnarndorf

Coluna – Paris 2024 não será o último desafio de Susana Schnarndorf

A natação apresentou Susana Schnarndorf ao esporte, mas foi pelo triatlo, mesclando as braçadas com passadas e pedaladas, que a gaúcha se apaixonou. Além de pentacampeã brasileira, ela competiu 13 vezes no Ironman, uma das mais exigentes provas da modalidade, onde os atletas percorrem 3,8 quilômetros nadando, 180 km em cima da bicicleta e 42,195 km correndo.

Susana convive com uma doença chamada atrofia múltipla dos sistemas (SMA, na sigla em inglês), que afeta o sistema nervoso autônomo. Degenerativa, a condição comprometeu os movimentos e, inicialmente, deu a ela cerca de três anos de expectativa de vida (isso há 16 anos). A natação, novamente ela, para a qual retornou em 2010, foi fundamental para driblar as probabilidades. Mais que isso: transformou-a outra vez em uma atleta de alto rendimento, com três participações em Paralimpíadas (e uma medalha de prata, no Rio de Janeiro, em 2016, na prova de revezamento) e pódios em Campeonatos Mundiais paralímpicos, sendo um deles no topo, nos 100 metros nado peito, em 2013.

 
 
 
 
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Aos 54 anos, cerca de 12 após o esporte adaptado lhe reabrir portas, Susana planeja encerrar a carreira paralímpica nos Jogos de Paris (França), em 2024. Mas longe dela querer ficar parada. Pelo contrário. O sonho para depois da Paralimpíada é justamente retornar ao triatlo. Mais precisamente, voltar a um Ironman.

“Estamos planejando um projeto para disputar o Ironman de novo em 2028. É bem ousado, mas gosto de desafios. Sempre fui movida a desafios, quero deixar esse legado, de que nada é impossível, nem completar um Ironman com mais de 56 anos de idade e com uma doença que já era para ter me levado há muito tempo”, disse Susana à Agência Brasil.

Até lá, o foco é 100% na natação e na conquista de uma vaga na Paralimpíada de Paris. O caminho iniciou árduo, já que Susana não atingiu os índices determinados pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) para o Mundial deste ano, em Funchal (Portugal), nas duas primeiras fases do circuito nacional de natação paralímpica. O ano chave, no entanto, será mesmo 2023, quando a gaúcha passará por outra reclassificação funcional, processo que determina em qual categoria, conforme o grau da deficiência, ela competirá.

Na natação, os atletas com deficiências físico-motoras são divididos em dez classes (S1 a S10). Quanto menor o número, maior o comprometimento. Por ter uma condição degenerativa, Susana mudou várias vezes de categoria desde que entrou no movimento paralímpico, começando na classe S8 e, atualmente, integrando a S4. Com a piora da patologia, ela espera ser reclassificada como S3, onde seria mais competitiva.

 
 
 
 
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“Já fiz oito reclassificações. Antes da Paralimpíada do Rio foi bem estressante, porque baixei de classe [da S6 para S5] em um evento-teste a três, quatro meses dos Jogos. Se não tivesse baixado de classe, não teria conseguido índice para o Rio. Agora estou passando pela mesma coisa, mas tento ser forte, viver um dia após o outro e aguardar a primeira competição internacional do ano que vem, quando farei a reclassificação, e seja o que Deus quiser”, comentou a gaúcha, cuja rotina deixa claro que tentar ser forte não é modo de dizer.

“Tomo vários medicamentos por dia. Sem eles, não consigo nem levantar da cama, fico completamente travada. Mas é bem difícil de lidar, pois eles têm efeitos colaterais, ajudam em uma coisa e pioram em outra. Falam que sou muito forte, mas tenho meus dias difíceis também, que fico com mal-estar e é difícil treinar. Tem um grupo de médicos que me ajuda muito e me dá essa assistência, de ter um certo conforto, mesmo com os sintomas. Estou com muito espasmo, não consigo parar de mexer e isso incomoda, dói, mas tem que deletar”, descreveu.

Se a vaga em Paris vier, Susana será, novamente, a veterana da natação brasileira nos Jogos. Foi assim em Tóquio (Japão), no ano passado, onde foi também a terceira mais experiente de toda a delegação nacional, atrás somente de Fabíola Dergovics (hipismo) e Beth Gomes (atletismo). A gaúcha representou o Brasil em uma equipe de nadadores renovada, com 12 dos 35 integrantes tendo 23 anos ou menos.

“É muito bacana poder passar minha experiência de 40 anos como atleta, mais até, e poder ensiná-los um pouquinho, mostrar que conseguimos chegar onde nunca imaginamos. É bem difícil conviver com a doença, mas [a motivação] é o amor que tenho pela vida, a vontade de estar com meus [três] filhos e mostrar a todos que sempre há um lado bom”, concluiu.

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