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Zebrinha: “não queremos representatividade, queremos presença”

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Se você é uma pessoa antenada no mundo do teatro e da dança, certamente viu alguém comentando sobre a presença de Zebrinha no júri técnico da Dança dos Famosos, ao lado de Ana Botafogo e Carlinhos de Jesus. De fato, muita gente se emocionou com a presença de José Carlos Arandiba, um dos maiores coreógrafos baianos, à frente de instituições como o Bando de Teatro Olodum e Balé Folclórico da Bahia.

É natural, portanto, a felicidade de seus alunos, filhos e discípulos, cheios de orgulho por vê-lo na TV. Para Zebrinha, no entanto, é algo normal: “Eu já ganho esse dinheiro há um tempo”, disse aos risos, antes de completar que tudo que está acontecendo em sua vida não é exatamente uma novidade. Na realidade, agora ele sente que a importância é mais para os outros – e valoriza o feito.

Afinal de contas, é um homem negro, retinto, gay, que está ali no papel de especialista – algo que não é comum na TV brasileira e trabalhos como o de Zebrinha têm o poder de modificar. “O povo está fazendo uma zuada por causa da Dança dos Famosos, mas eu já trabalho na Globo faz um tempo. Fiz Lado a Lado, Segundo Sol, Mr. Brown, um monte de oficina”, enumera.

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Jurados da Dança dos Famosos: Zebrinha, Ana Botafogo e Carlinhos de Jesus (Foto: TV Globo: Divulgação)

É natural, portanto, a felicidade de seus alunos, filhos, filhas, alunas e alunes, cheios de orgulho por vê-lo na TV. Para Zebrinha, no entanto, é algo normal: “eu já ganho esse dinheiro há um tempo”, disse aos risos, antes de completar que tudo que está acontecendo em sua vida não é exatamente uma novidade. Na realidade, agora ele sente que a importância é mais para os outros – e valoriza o feito. Afinal de contas, é um homem, negro, retinto, gay, que está ali no papel de especialista – algo que não é tão comum na TV Brasileira e trabalhos como o de Zebrinha têm o poder de modificar.

“Eu trabalho na Globo faz um tempo. O povo está fazendo uma zuada por causa da Dança dos Famosos, mas já ganho aquele dinheiro há muito tempo. Fiz Lado a Lado, Segundo Sol, Mr. Brown, um monte de oficina também do projeto de brasilidade que eles tinham, dei oficina pro grupo do RJ, um monte de coisa”, enumerou.

Apesar de não ter o ar de novidade que parece, ele faz algumas ponderações: a primeira é afirmar o quanto ama esse trabalho, que chega à terceira rodada domingo (24) no Caldeirão com Huck. E aproveitou para dizer que não é novidade estar no papel de auditor e avaliador, funções que exerce sempre nas ‘peneiras’ do Bando de Teatro Olodum ou do BFB.

A segunda: há, de fato, alguns desafios nessa nova função e tem sido curiosa a rotina de se maquiar, colocar figurino e partir para gravações. “Estar com essa exposição é um desafio pra minha pessoa, minha imagem, de não poder dizer um palavrão durante uma hora”, conta, rindo, em conversa no Teatro Miguel Santana, onde comanda os ensaios do Balé Folclórico.

De camisetinha branca e um short confortável, Zebrinha abriu seu coração até chegar à terceira e última ponderação. 
 

“Sempre fui essa referência para pessoas, adolescentes e não que eu buscasse, o orixá me levou para esse caminho e lá eu estou sendo uma referência para muitos pretos. Como diz Ana Maria Gonçalves, minha amiga que escreveu Um Defeito de Cor, não queremos representatividade, queremos presença. Então estar presente ali conta muito para a comunidade preta que assiste televisão. É um grande ganho e sei disso”, reconhece

Sentado na plateia do Teatro Miguel Santana, Zebrinha conversou com a reportagem do CORREIO (Foto: Ana  )

Uma de suas filhas de coração, a cantora Nara Couto também comentou sobre a importância de sua imagem e trabalho num espaço de visibilidade nacional como a dança dos famosos. 

“Receber a notícia que Zebrinha, meu pai, faria parte do júri técnico da dança dos famosos, foi uma grande felicidade. Zebrinha é um artista com mais de 50 anos de carreira, um currículo que é inspiração para todos. É um artista, um professor, um mestre, um pai para todos os alunes, alunas e alunos que ele já trabalhou”, iniciou a cantora, que também já foi bailarina do Balé Folclórico.

Ela completa: “Mais uma vez, falando o óbvio, representatividade importa e muito, quando a gente vê um homem como zebrinha, com toda  a grandiosidade que ele é, sabemos que nós podemos fazer o que quisermos da nossa vida. É só felicidade”,afirma. 

Diretor do BFB, Vavá Botelho afirma que o Brasil tem a obrigação de dar o reconhecimento devido a Zebrinha e tê-lo no júri da Dança dos Famosos é uma maneira de cumprir essa obrigação.  “Ter Zebrinha como jurado da dança dos famosos nos traz uma felicidade muito grande. É um reconhecimento do Brasil a um dos maiores profissionais que nós temos em nossa terra e um reconhecimento mais do que merecido. Por tudo que Zebrinha representa para a dança brasileira, a dança negra brasileira. Todo esse processo de resgate que o BFB faz da cidadania e valorização da cultura negra. O fato dele estar fixo como jurado é uma obrigação que esse país tem e deve a pessoas como Zebrinha”, diz Vavá.

Medida provisória

Um outro filho famoso que Zebrinha tem é o ator e diretor Lázaro Ramos, que conheceu ainda jovenzinho no Bando de Teatro Olodum. “Lázaro diz que sou o segundo pai dele e demorei um pouco para assumir esse lugar. Hoje assumo e temos uma relação de puro amor, intocável, com muito afeto e respeito. O quanto eu fui mestre e professor dele e hoje sou admirador do que ele faz porque é um cara genial, aquela cabeça não dá para descrever em poucas palavras”, afirma.

Ele diz que o novo filme de Lázaro, Medida Provisória, é um marco para o cinema brasileiro. “Acho que nem ele imaginava que numa distopia conseguiria retratar tão bem o Brasil. Esse lugar está um inferno!”, exclama, indignado. Zebrinha aparece nas cena que fecha a produção – estreia de Lázaro como diretor.

Esse realidade infernal cansa. Zebrinha diz que está acostumado com a sua situação, mas nunca com a pobreza e abandono: “Adolescentes dormindo no meio da rua, criança de 10 anos se drogando, famílias que não têm condições de sustentar e criar filhos, escolas depredadas, educação relegada a nada. Meu sonho um dia passar na rua sem vontade de chorar. Não dá pra segurar e não é culpa de quem está nessa situação, é de um Brasil que não cuida da gente”, desabafa.

Mas será que na carreira ele ainda tem algum sonho? Depois de morar em mais de 7 países, trabalhar em mais de 20, só com o Balé Folclórico, e se tornar referência, Zebrinha conta que está ansioso para o momento de descansar e já tem o cenário perfeito: atravessar o rio Imbassaí, adotar mais dois cachorros, um gato e ficar na beira da praia comendo peixe frito.

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