Com mais de 560 mil quilômetros quadrados de área, a Bahia é um pouco maior que a França, mas apenas disso, o estado que possui uma economia espalhada territorialmente – com regiões agrícolas, turísticas e industriais por toda a sua extensão – tem uma aviação regional pouco desenvolvida. Para Héctor Hamada, CEO da Abaeté Aviação, falta ao estado um plano para tornar realidade o potencial que a região tem.
“A aviação regional pode impulsionar o desenvolvimento e melhorar a qualidade de vida das pessoas, porque torna destinos que hoje são muito distantes e caros mais acessíveis”, explicou o executivo da empresa baiana durante a sua participação no programa Política & Economia, veiculado ontem no Instagram do CORREIO (@correio24horas). A Abaeté é a empresa aérea brasileira que há mais tempo opera em território nacional, fundada em 1979.
Na comparação entre o início de 2021 e o de 2022, a empresa conseguiu quadruplicar as suas receitas, conta o CEO da Abaeté.
Segundo Hamada, nos últimos anos a Abaeté iniciou algumas mudanças, com um trabalho intensivo de reestruturação, atração de novos talentos e um foco na definição de linhas aéreas. Ele diz que hoje a empresa já tem voos regulares para Morro de São Paulo e Barra Grande e segue trabalhando para abrir mais duas novas rotas, possivelmente na Chapada Diamantina e em Boipeba.
Além disso, a empresa está conversando com algumas companhias de grande porte para fechar acordos comerciais de codeshare, para expansão na oferta de tráfego. “Estamos trabalhando bastante, com pé no chão. Agora com o dólar alto, com a guerra que está acontecendo e impacta o combustível, é bastante desafiador o cenário”, ressalta. “Já vivi de perto o impacto que a aviação regional pode ter em um país como o Brasil”, conta ele, que no passado comandou a amazonense MAP, que cresceu a ponto de chamar a atenção das grandes empresas nacionais e acabou sendo comprada pela GOL.
“A aviação regional é fundamental para o desenvolvimento porque ajuda a levar tecnologia, profissionais que estão distantes e cria alternativas para o comércio, permitindo que tudo chegue muito mais rápido”, destaca. Ele lembra que aqui na Bahia, por exemplo, existem lugares em que se leva um dia inteiro para o deslocamento a partir de rodovias.
Ao ser questionado pela audiência, Hamada reconheceu que uma das empresas que está em negociação para um acordo de codeshare com a Abaeté é a GOL. “Estamos trabalhando bastante, está muito avançada a parceria e hoje (ontem) recebi um esboço do trabalho que estamos fazendo com a GOL, mas também estamos trabalhando com outras companhias aéreas”, respondeu. “Temos um hub da GOL, mas Salvador recebe muitos voos de fora também. Tem a Air Europa, que retoma em dezembro, da TAP para Portugal, as Aerolíneas Argentinas”, enumera.
Tributação é principal gargalo na aviação
A questão tributária é hoje o maior desafio para o desenvolvimento da aviação regional na Bahia, aponta Héctor Hamada. Enquanto qualquer uma das grandes empresas do setor conseguem enquadramento para pagar apenas 5% de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o combustível da Aviação, mas micro regionais, como a Abaeté, estão sujeitas à alíquota de 18%, destaca o CEO da empresa, Héctor Hamada.
O aproveitamento do potencial que a Bahia tem para a aviação regional depende de muito trabalho para a superação de alguns gargalos, acredita. “O simples fato de existir um potencial, que está aí a vida inteira, não muda as coisas sem trabalho”, defende. Ele ressalta que a empresa está fazendo a parte dela. “Nós estamos trabalhando, avançando e ganhando espaço”, diz. Além dos destinos atuais, a companhia mira regiões do estado como a Chapada Diamantina, Boipeba e os grandes polos agrícolas da Bahia.
“Morro de São Paulo é um destino consolidado. Os outros destinos ainda precisamos trabalhar um pouco mais. A Península de Maraú, Boipeba, a Chapada Diamantina”, exemplifica. “Com os parceiros que teremos através da GOL e de outras companhias aéreas, vamos fortalecer este modelo de negócios”, avalia. Após a consolidação do modelo no estado, Hamada acredita que o próximo passo seria a replicação em outros estados da região Nordeste ou no Norte do Brasil.
Segundo Héctor Hamada, um exemplo que demonstra o potencial de crescimento da aviação regional é que no Brasil pré-pandemia, o mercado doméstico era de 100 milhões de passageiros por ano e apenas 1% deste volume era de aviação regional. “Nos Estados Unidos, o percentual é de 4%, outro país continental. Isso mostra a importância dessa atividade e o quanto ainda podemos crescer aqui”, diz.
“Podemos unir quem está num grande centro a uma cidade menor”, aponta.