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Rui Costa e o Planet Hemp, o fantasma da CPI dos Respiradores, e a porteira aberta do PT

Planet Hemp
Pelo visto, o governador Rui Costa (PT) não era fã da banda Planet Hemp, grupo de rap rock do Rio de Janeiro que fez muito sucesso entre os anos 90 e o início dos anos 2000. A banda tinha nos vocais o cantor Marcelo D2, grande defensor da legalização da maconha. Na tradução livre, a palavra hemp significa justamente maconha em inglês. Pois bem, não é que o governador disse em depoimento à Polícia Federal no caso dos Respiradores que contratou a empresa Hempcare por não ter “pleno domínio da língua inglesa”?! A declaração do petista foi divulgada pela revista Veja, que teve acesso a trechos do depoimento, e teve uma repercussão nacional, com críticas de todos os lados. Para os bolsonaristas, então, foi prato cheio. Os seguidores do presidente Jair Bolsonaro, antagonista do PT na polarização nacional, inundaram as redes sociais com cards, textos e piadas para todos os gostos. 

Enrolation
Nos bastidores, deputados classificaram a declaração de Rui como desastrosa, mas não perderam a piada. Um deles disse que a fala era uma tentativa de “enrolation” do governador petista para se livrar das investigações. Outro, disse que Rui podia até não dominar o inglês, mas parecia falar muito bem o mandarim – uma das principais variações da língua chinesa – dada a sua relação próxima com o país asiático – vide a ponte Salvador-Itaparica e o VLT do Subúrbio. 

Bola fora
Mas, para além das piadas, houve também quem tratasse o tema com a seriedade que ele merece. Parlamentares governistas dizem que a declaração de Rui é quase um “atestado de incompetência” e que reforça a tese de que a operação para a compra dos respiradores foi uma fraude – lembrando que os equipamentos nunca foram entregues, enquanto os quase R$ 50 milhões foram pagos antecipadamente pelo Consórcio Nordeste, presidido no período por Rui. 

Momento oportuno
Neste cenário, a oposição aproveitou a deixa da operação da Polícia Federal contra o ex-secretário Bruno Dauster e o empresário Cleber Isaac nesta semana e conseguiu as 21 assinaturas necessárias para pedir a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) para investigar o caso. A bancada vinha tentando desde dezembro as assinaturas. Agora, cabe ao presidente Adolfo Menezes (PSD), apoiador ferrenho do governador, permitir ou não a abertura da CPI. Fato é que líderes da oposição já avisaram que, se Adolfo negar, pretendem ir à Justiça e contam com o precedente da CPI da Covid no Senado, que só foi aberta após decisão favorável do Supremo Tribunal Federal (STF). Confidenciaram ainda que pretendem tocar os trabalhos de forma técnica. Inclusive, pretendem se municiar de todos os dados e fatos para evitar acusações de “politização” da CPI. 

Desgaste
Na outra ponta, deputados do governo não esconderam a preocupação com o caso. Dizem que, dado o grau de envolvimento de Dauster e Rui (além de pessoas ligadas ao Palácio de Ondina) no caso, é inevitável que haja um desgaste para o grupo. Quem conversou com o líder do governo na Alba, deputado Rosemberg Pinto (PT), no dia que a oposição entregou o pedido disse que o petista estava quase “soltando fogo pelas ventas” de tão irritado. Andou até distribuindo patadas a jornalistas. Dizem as más línguas que aprendeu com Rui. Que maldade. 

Trabalho adiantado
Líderes do bloco oposicionista dizem que já vão iniciar os trabalhos “com meio caminho andado” graças ao “relatório robusto” elaborado pela CPI da Assembleia do Rio Grande do Norte, que foi finalizada em dezembro passado. Por lá, Rui e Dauster estão entre os indiciados. Deputados dizem que o relatório aponta fatos gravíssimos contra o governo baiano e, com uma CPI no estado, a investigação pode ser aprofundada com a coleta de mais depoimentos e informações que envolvem o governador, o ex-secretário e outros integrantes da Bahia. As investigações apontam que estão na Bahia os “cabeças” da operação. 

Banho de água fria
As recentes pesquisas de intenção de votos para o Governo da Bahia divulgadas pelos institutos Paraná e Seculus devastaram a empolgação da militância petista. Além de os números do candidato do PT, Jerônimo Rodrigues, estarem ainda muito baixos, a pontuação alcançada por ACM Neto demonstra não apenas uma consolidação da liderança como que não houve queda mesmo diante dos ataques promovidos nas últimas semanas. 

Porteira aberta I
Caciques da política baiana ficaram de queixo caído com o anúncio do apoio do prefeito e vice de São Francisco do Conde, Antônio Calmon (PP) e Nem do Caípe (PT), à pré-candidatura de ACM Neto ao governo do estado. Calmon já era até esperado, mas Nem foi surpresa, uma vez que não apenas é filiado ao PT como é muito ligado aos deputados petistas Rosemberg Pinto e Jorge Solla. Para muitos, foi mais recado de que os ventos sopram cada vez mais favoráveis a Neto. 

Porteira aberta II
E Nem do Caípe não parece ser um único. Nas próximas semanas, de acordo com uma liderança com muito trânsito no grupo de Neto, a tendência é que o movimento de mudança de lado se intensifique, tanto com a consolidação da liderança do ex-prefeito de Salvador apontada nas pesquisas quanto pela própria insatisfação da população com questões relacionadas aos governos do PT, especialmente na educação e segurança pública. 

Bomba relógio
Por falar em segurança pública, o tema tem causado “profunda preocupação” na cúpula do governo devido à escalada da violência nas últimas semanas no estado, tanto na capital quanto no interior. Os casos estão tirando o sono do governador, garantem fontes com trânsito no Palácio de Ondina, principalmente porque “dá brecha” para o discurso da oposição de que a área vive um caos. Além disso, o petista não esconde mais de ninguém sua insatisfação contra o secretário da Segurança Pública, Ricardo Mandarino, de quem Rui nunca foi muito fã. Aliados próximos ao governador dizem que a principal queixa de Rui é que Mandarino não consegue nem reduzir os indicadores nem dar uma resposta rápida aos casos mais midiáticos, o que causa desgaste ao governo. 

Tudo nosso, nada deles
Para além da insatisfação dentro de seu próprio partido, outra situação que o governador precisa lidar é com a queixa cada vez mais recorrente de deputados de partidos aliados ao PT que não estão na federação (que tem ainda PCdoB e PV). Segundo os parlamentares, a máquina governista só está trabalhando para eleger deputados estaduais e federais da federação, deixando os demais a ver navios. 

Voo solo
Justamente por isso que muitos destes deputados resolveram ignorar o candidato do PT ao governo, Jerônimo Rodrigues (PT), para se dedicarem às próprias candidaturas. Tanto é que são poucos os que estão nas redes sociais declarando apoio público e fazendo campanha por Jerônimo. Como diz o ditado: farinha pouca, meu pirão primeiro. 

Na mira
Auditores do Tribunal de Contas do Estado (TCE) já estão de olho nos convênios que o governo tem assinado com prefeituras. Na semana passada, a coluna chamou atenção para o tema. Especialistas em contas dizem que são muitas as suspeitas de irregularidades, entre elas que parte dos recursos está sendo paga sem qualquer controle, sem contar que chama a atenção os elevados valores em ano eleitoral – de dezembro para cá, já foram mais de R$ 400 milhões. Na Alba, deputados já sondam a possibilidade de uma CPI para investigar o caso, que pode terminar em denúncia de abuso de poder político e econômico por parte do governo. 

Fantasma
Um fantasma tem pairado sobre Jerônimo nesta semana: o movimento por aumento salarial dos professores das universidades estaduais. A categoria já vem, nos últimos anos, se queixando da falta de valorização e de estrutura nas instituições de ensino superior do estado e, nesta semana, fizeram uma mobilização que é encarada como pré-greve. Em 2019, quando Jerônimo já era secretário da Educação, representantes das universidades acusaram o governo de contingenciamento de recursos das instituições, o que ganhou repercussão nacional. Se houver agora uma paralisação da categoria, é um banho de água fria para Jerônimo.

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