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Bahia teve 9 aumentos no preço da gasolina este ano; acumulado é de 27%

O terror que é parar um veículo em um posto não para de ganhar cenas mais tensas para quem é da Bahia. Isso porque os combustíveis tiveram mais um reajuste no estado. A Acelen, que administra a Refinaria de Mataripe, anunciou, ontem  um  aumento nos preços do diesel S10 (11,3%), diesel S500 (11,4%) e da gasolina (6,7%). De acordo com um levantamento do Sindicato dos Revendedores de Combustíveis do Estado da Bahia (Sindicombustíveis Bahia), esse é o nono reajuste feito pela empresa. Com isso, em quatro meses, a gasolina registra uma  alta de 27%  e o diesel de 64%, muito acima da inflação oficial do país que, até março, acumulava uma alta de 3,20%. 

Em nota, a Acelen disse que os reajustes “seguem critérios de mercado que levam em consideração variáveis como custo do petróleo, que é adquirido a preços internacionais, dólar e frete”. A reportagem procurou a empresa para obter detalhes sobre os aumentos  e os valores disponibilizados pelas distribuidoras, mas não obteve retorno. Secretário executivo do Sindicombustíveis Bahia, Marcelo Travassos afirma que os aumentos já têm impacto nas vias e afeta a competitividade de quem comercializa combustível no estado. 

“As consequências dos constantes aumentos são a redução do consumo e a queda nas vendas, principalmente, nos postos de rodovias, que já sentem uma queda de mais de 50% em suas vendas. E isso se dá também pela dificuldade da Bahia em concorrer com estados, a exemplo de Pernambuco, onde as refinarias são geridas pela Petrobras, que pratica preços mais baixos”, diz Travassos.

As declarações do secretário corroboram com os dados apresentados pela Petrobras, que alega ter feito apenas dois reajustes nos preços dos combustíveis esse ano. Em janeiro, o preço comercializado por litro da empresa para as distribuidoras na gasolina saiu de R$ 3,09 para R$ 3,25 e, em março, aumentou de R$ 3,25 para R$ 3,86. Nos mesmos meses, o diesel subiu de R$ 3,34 para R$ 3,61 e de R$ 3,61 para R$ 4,51. 

A reportagem procurou a Acelen para obter detalhes sobre os aumentos da empresa e os valores disponibilizados pelas distribuidoras, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.

Aumento na bomba

O que aumenta na refinaria tem sido repassado pelos postos ao consumidor. Segundo dados da plataforma Preço da Hora, que registra o valor médio de mais de 500 mil produtos de todos os municípios da Bahia, o litro de gasolina que, em média, saía a R$ 6,88 em janeiro, custa R$ 7,58 em maio nos postos do estado. Já o diesel, que tinha o valor médio do litro em R$ 5,81, sai a R$ 7,44 para quem quer abastecer com o combustível. Para se ter ideia dos aumento, ainda de acordo com dados da Preço da Hora, em maio de 2021 o litro da gasolina e do diesel custava, respectivamente, R$ 5,71 e R$ 4,56. 

São números que indicam um aumento acumulado de 10,17% de janeiro a maio na gasolina e 28,06% no mesmo período no diesel, segundo o economista Edísio Freire. Ele afirma que o crescimento do combustível está acima da inflação oficial, mas ressalta que tem um motivo para isso. “O que define o aumento não é só a  inflação. Ela reflete já que, no instante em que os custos internos aumentam, as distribuidoras e postos precisam aumentar os preços, mas o principal [fator] é o preço mundial do petróleo e o câmbio”, explica. 

O aumento da bomba, no entanto, não é um problema para quem abastece ou para os que precisam pagar passagens mais caras ou viagens por aplicativo mais custosas. É que a alta no combustível faz com que os custos cresçam em todos os setores da economia. “Combustível é energia. Se você imaginar que indústrias usam o diesel em geradores, que toda logística do  transporte rodoviário também usa, o aumento combustível vai impactar diretamente na mesa do trabalhador, nos produtos finais. […] Toda cadeia acaba sofrendo. Algumas, não de imediato. Mas, à medida que o combustível sobe, o repasse de valor chega ao consumidor”, diz.

Uso limitado

Os altos custos têm feito os baianos limitarem as saídas com veículos. Exemplo disso é o autônomo Anderson Farias, 28 anos, que mora em Feira de Santana e passava o fim de semana em Salvador duas vezes por mês. Agora, só aparece na capital em datas comemorativas.

“Eu tinha esse costume de ir frequentemente pra Salvador. Só que com esse preço da gasolina ficou completamente inviável e tive que dar uma diminuída. Todo mês eu estava lá, no geral com duas visitas mensais. Hoje, fico meses sem ir. Aí deixo para aparecer em feriados como o da páscoa. Agora mesmo, só vou em junho”, conta.

Matheus de Carvalho, 24, é analista de produção e costumava usar sempre o carro para as atividades do dia a dia. Neste ano, passou a limitar ao máximo as saídas da garagem para não ter que arcar com tantas despesas na hora de abastecer.

“Por conta do preço dos combustíveis, tenho evitado ao máximo sair de carro. Trabalho em casa e isso me ajuda muito a evitar custos maiores. Para as outras coisas, tento avaliar ao máximo se vale a pena gastar gasolina para fazê-las ao invés de buscar outras alternativas. Se tem como fazer sem o carro, eu faço”, garante ele. 

Outra que também limita o uso de carro é a jornalista Lara Silva, 23. Ela conta que o gasto com gasolina praticamente dobrou de um ano para cá. “Os R$ 100 que eu abastecia e ficava no tanque mais de uma semana, agora dura, geralmente, uns quatro dias. No máximo, em cinco dias tenho que abastecer de novo. Assim, cada saída é calculada por quilômetro, não tem jeito”, afirma.

Para não dizer que tudo é problema na vida do consumidor, o gás (GLP) da Acelen apresentou uma redução de 10%. Em abril, na Petrobras, o preço médio do kg de GLP tinha caído de R$ 4,48 para R$ 4,23.

Duas casas decimais

Já no próximo sábado (7), todos os postos deixarão de exibir preços em três casas decimais e terão que apresentar os valores apenas com duas. Uma mudança que foi definida em novembro de 2021 pela Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) para facilitar a vida de quem compra combustível na hora de pagar.

De acordo com a ANP, a alteração não vai mudar os preços finais para o consumidor porque  não traz custos relevantes a quem está vendendo e nem restrições aos preços praticados, apesar de arredondar valores para cima, segundo o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec). 

Preço médio dos combustíveis nos postos da Bahia por mês em 2022 com base nos dados da Preço da Hora:

Gasolina comum

Janeiro: 6,88
Fevereiro: 6,95
Março: 7,51
Abril: 7,37
Maio: 7,58

Maio de 2021: 5,71

Diesel

Janeiro: 5,81
Fevereiro: 5,95
Março: 6,77
Abril: 6,93
Maio: 7,44

Maio de 2021: 4,56

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro

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