Salvador está no centro da disputa eleitoral deste ano na Bahia. Embora nenhum dos cargos eleitorais sejam relacionados ao município, a gestão da capital baiana, principal colégio eleitoral do estado, ocupa o centro das atenções dos principais grupos interessados em governar a Bahia a partir de 2023. Salvador é um dos principais cartões de visita do ex-prefeito ACM Neto, pré-candidato ao governo pelo União Brasil, que desponta como favorito de acordo com as pesquisas de intenções de votos. Para o vereador Duda Sanches, vice-presidente da Câmara e presidente do União Brasil em Salvador, isso tem motivado investidas de adversários do ex-prefeito contra a cidade. “Salvador entendeu que não pode votar apenas de maneira ideológica. Hoje, quem pensa das mais diferentes maneiras entendeu que o mais importante é colocar um bom gestor na cadeira”, avalia. Por isso, ele acredita que as iniciativas dos adversários não terão efetividade.
Quem é
Eduardo Henrique Brito dos Santos Sanches é formado em Direito pela Unifacs e cursa Administração pela mesma instituição. É vice-presidente da Câmara dos Vereadores e presidente do União Brasil em Salvador. Eleito em 2012 pelo recém-criado PSD, além de líder da legenda no parlamento foi líder do PSD Jovem na Bahia. Reelegeu-se em 2016 e em 2020.
Qual é a sua expectativa para as eleições deste ano?
Eu vejo que a Bahia precisa retomar um espaço que nunca deveria ter perdido. Salvador, há mais de oito anos era assim, a maior capital do Nordeste, porém uma das últimas em diversos aspectos. A gente vinha perdendo espaço para Recife e Fortaleza, mas hoje Salvador retomou o seu caminho e é totalmente diferente do que era. Eu vejo a Bahia como aquela cidade de nove anos atrás. O baiano não sai mais às ruas com medo de ser assaltado a qualquer momento. Não se pode ir a uma farmácia, um restaurante ou um barzinho. A verdade é que nós trocamos de lugar com os bandidos. Eles deveriam estar numa cela, mas nós é quem vivemos presos. Além disso, a Bahia vem se destacando nacionalmente de uma maneira muito negativa na educação. E isso é algo muito sério porque está sendo dito por pessoas isentas e aparece de maneira muito consistente nos índices e dados sobre o assunto. O estado foi o pior em educação agora na pandemia e está sempre entre os últimos há quase 16 anos. Esse drama na educação é muito grave para mim porque é com uma transformação nesta área que podemos enfrentar o problema da violência de maneira mais consistente a longo prazo. Nossos jovens estão cada vez mais sem perspectivas e estamos perdendo essa batalha. A Bahia que a gente quer no futuro é a que podemos comparar com a Salvador de hoje.
Te ouvindo, a gente percebe que educação e segurança são assuntos bastante enfatizados. Serão o tema desta eleição?
Tenho plena convicção. Só gostaria de incluir a saúde porque a regulação é um problema mais conhecido que muitas celebridades. Quando o nome de um cidadão está na regulação do estado a gente já sabe que esta pessoa vai ter dificuldades para ser atendida e provavelmente não vai atingir o objetivo que a levou para o serviço de saúde. É sinônimo de sofrimento, dificuldade. Este será um dos problemas que Neto vai enfrentar e vai mudar. Hoje o sistema regula a morte, todo mundo sabe disso. É uma dificuldade ter acesso ao básico, que é um atendimento médico, cirurgia ou um exame. Agora, quando falamos em educação e segurança, tenho convicção que serão os principais nesta eleição porque foram duas áreas completamente abandonadas pelo governo estadual. ACM Neto traz em sua experiência a marca da firmeza. Tenho convicção de que teremos uma gestão focada no cidadão. Olha o que ele fez como prefeito, com a recuperação de espaços públicos e iluminação, devolveu as ruas para as pessoas.
Salvador é o grande cartão de visitas da gestão de Neto. Qual é a sua expectativa eleitoral na cidade?
Salvador entendeu que não votar apenas de maneira ideológica. Hoje, quem pensa das mais diferentes maneiras entendeu que o mais importante é colocar um bom gestor na cadeira. Se fizermos uma análise eleitoral, vamos perceber que Neto foi considerado o melhor prefeito do Brasil por pessoas de direita, de esquerda e de centro. E ele sempre fugiu desta lógica como prefeito. Governou focado nas transformações. Ele é visto nacionalmente como uma liderança e um bom gestor. Isso o credibiliza a ter uma votação diferente daquela lógica que estávamos acostumados. Se falava muito que o nosso grupo político tinha 30% de votos, o PT outros 30% e o restante era o que entrava em disputa, mas as últimas disputas aqui mostraram o contrário. Eu acredito que ele pode ter uma eleição avassaladora porque o nosso candidato é o líder do grupo, enquanto os adversários apostaram em um candidato que precisa de uma muleta para se eleger.
Tem um discurso da base de apoio ao governo estadual de que a adesão do presidente da Câmara, Geraldo Júnior (MDB), seria capaz de equilibrar as coisas em Salvador. Você concorda com essa análise?
Eu discordo porque Geraldinho é conhecido por ser um político pesado. É um vereador que, diferente de Paulo Câmara, que foi presidente da Câmara porque foi o mais votado, ou até mesmo como o deputado Alan Sanches, que também foi o mais votado como vereador e depois se elegeu deputado. Geraldo teve uma campanha que a cidade inteira assistiu, espalhou camisas coloridas por tudo quanto foi lugar, se via um imenso comitê político na região do Iguatemi, porém não foi o mais votado. Ele tem uma estrutura grande, mas não converte isso em votos. Essa é a pura verdade. Mas eu acho que a aposta do PT nele é mais pelo potencial de confusão, nessa pseudocrise que imaginam ter criado ao tirar o chefe do Legislativo municipal da base de apoio do prefeito (Bruno Reis). O efeito que querem criar com Geraldinho pode ser visto nas confusões que estão criando em votações. É nisso que apostam, que a posição que ele ocupa vai criar problemas. A movimentação mostra que não estão preocupados com a cidade. Não é possível que Geraldo tenha mudado tanto a sua forma de pensar de uma hora para a outra. De uma hora para outra ele deixou de ser a favor de tudo o que o prefeito fazia e passou a ser contra, porque acordou com uma febre vermelha.
Você tem exemplo de uma postura que vá de encontro ao interesse da cidade?
A gente pode observar claramente agora no projeto dos ônibus. Tenho esperança de que o Geraldo Júnior não seja contra esse projeto que está na casa. É um projeto que permite o subsídio da tarifa do transporte público na cidade. Em resumo, se o projeto não for votado e aprovado, a Prefeitura não estará autorizada a subsidiar o sistema. É um projeto do interesse da cidade. Não se pode jogar contra o interesse da população. A gente torce que se faça campanha sem envolver o bem estar do povo. Esse é um limite que não deve ser ultrapassado. Não vai ter entendimento se não houver compreensão de que o interesse da população é soberano.
Você percebe interesse eleitoral neste impasse?
Totalmente. Não adianta dizerem que houve um movimento nosso primeiro para o que eles chamam de crise porque no dia em que o Geraldo Júnior votou a mudança no regimento da Câmara que permitiu a ele se reeleger em um mesmo mandato, ele votou também uma série de outros que deixavam muito claro que havia má fé sobre a condução do legislativo a partir da nova reeleição dele, pela terceira vez.
Qual é exatamente o problema da reeleição?
Toda instituição tem o seu conjunto de regras que indica como as coisas acontecem. Na Câmara, nós temos a Lei Orgânica do Município, que é nossa Constituição, e o Regimento Interno, que guia o agir do vereador. São duas normativas que devem ser modificadas sempre com bastante cuidado. Tudo tem que ser feito com muita clareza e debate exaustivo. Tudo precisa ser publicizado no Diário Oficial, respeitando-se o devido prazo, porém nada disso foi obedecido por Geraldo Júnior, ao promover uma série de modificações no Regimento Interno e na Lei Orgânica nos últimos tempos. Mais especificamente no dia 23 de março, quando ele modificou as leis, possibilitando a reeleição dele dentro de um mesmo mandato, algo que tinha sido abolido. Questionamos a maneira como isso foi votado, a gente pede as gravações das sessões, mas não consegue ter acesso, nem mesmo pela Lei de Acesso à Informação.
Estamos falando de um processo que diz respeito aos anos de 2023 e 2024. Existe precedente de uma eleição definida com tamanha antecedência?
Que eu saiba não, certamente na história recente do Legislativo, não. Sempre se jogou dentro das quatro linhas. Se o presidente entendia que tinha diálogo com os vereadores, por que não esperou chegar o período natural? Olha, de acordo com o Diário Oficial, a convocação para a eleição se deu às 11h30 do dia 29 de março para as 14h30 do mesmo dia. Como dar publicidade com um prazo desses? Digo mais, no dia 23, quando afirma ter modificado a Lei Orgânica e o Regimento Interno, temos gravíssimos indícios de alterações de notas taquigráficas. São os registros de servidores de carreira da casa. Pelo site da Câmara, percebemos que houve uma alteração e estamos pedindo providências. As notas taquigráficas não deveriam ser alteradas. Para mim, está clara a má fé, pegou os colegas vereadores de surpresa. Aí no dia 29, a eleição foi realizada por uma convocação ilegal, que pegou todos de surpresa.
Politicamente falando, como o senhor vê a preocupação do presidente da Câmara em garantir um novo mandato, ao mesmo tempo em que é pré-candidato a vice-governador?
Sinceramente, isso mostra o quanto ele confia na vitória do lado de lá. Sabe que a eleição é difícil. Se ele se garantisse, entendesse que poderia vencer, por que se comprometer com 2023 e 2024?
A base de apoio a Neto ganhou o PP, mas perdeu o MDB. Qual é o saldo?
É muito simples fazer essa conta, basta comparar a quantidade de prefeitos que o PP tem com o MDB. O PP é uma potência a nível estadual, tem uma bancada muito grande na Assembleia Legislativa e no cenário federal. Não quero de maneira nenhuma desmerecer o MDB, que até a pouco estava conosco, mas não tem sequer um deputado federal e, salvo engano, não tem bancada estadual. Olha, o MDB é um partido que tem uma história, deve ser respeitado, mas na atualidade tem uma expressão infinitamente menor que o PP. Nós gostaríamos de continuar tendo eles conosco, mas tomou essa decisão.
Neto vai enfrentar um candidato que conta com o apoio da máquina estadual. O governador Rui Costa deixou escapar numa rádio que já está empenhado na disputa eleitoral. Enfrentar essa estrutura assusta?
A máquina nunca vai ser mais forte do que a vontade do povo e a esperança. Na política nós temos duas grandes vertentes, uma é a fadiga de material, que é fatal. Chega um momento em que o cansaço se torna avassalador e não tem dinheiro que resolva. Outra coisa é o modelo de gestão. A experiência que Neto passou para os soteropolitanos dá a ele a credibilidade de se apresentar como uma certeza, contra uma aposta. ACM Neto tem uma história. Juntando a fadiga do PT, com 16 anos de desserviços ao nosso estado, com a esperança de que se faça em no interior o que foi feito na capital, vamos chegar à vitória em outubro, após uma longa caminhada. Não podemos desmerecer os adversários, mas estamos do lado da esperança de dias melhores.
Como o senhor vê a estratégia de não nacionalizar a disputa eleitoral?
Neto é o nome que nós propomos para comandar a reconstrução da Bahia. Foi prefeito e enfrentou o argumento de que sem o governo do estado a Prefeitura não conseguiria fazer nada, mas o resultado está aí. Agora querem adotar este mesmo argumento no estado. Neto não precisa de muletas.