Estudantes e professores da rede pública baiana partiram nesta quinta-feira (05) para Portugal pelo projeto sociocultural Era uma vez… Brasil, que atende alunos do oitavo e nono ano da Bahia, Pernambuco e São Paulo. Na viagem de 10 dias, os participantes vão conhecer monumentos históricos do país europeu e ter contato com alunos de escolas portuguesas para que possam aprender juntos sobre a ligação das duas nações.
O estudante Cauã Furtado, 15 anos, faz parte do grupo de 27 intercambistas e conta que se inscreveu para ir à Europa conhecer museus, bibliotecas e castelos. “Depois que eu conheci o significado do projeto, me apeguei mais do que só a viagem. É um aprendizado muito importante. Não é uma viagem só para Portugal, ele [o projeto] faz você conhecer pessoas e culturas diferentes”, acrescenta.
Na Bahia, o Era uma vez… Brasil inclui estudantes de Salvador, Jacobina e Mata de São João. Apesar da viagem ocorrer para um país do velho continente, especificamente para aquele que está na origem da formação do povo brasileiro, não é só a herança lusitana que está em foco.
A coordenadora-geral do projeto, Marici Vila, lembra, por exemplo, que uma iniciativa como o Era uma vez… tem ainda mais importância em Salvador, considerada a cidade mais negra fora da África. Os traços africanos, no entanto, ainda não são focados nas escolas. “[O projeto] é fundamental para trazer a proposta de refletir a história do Brasil de uma forma bem mais consciente. A grande maioria dos livros ainda ressalta a figura do europeu como figura heroica. Mudar esse paradigma é a proposta do projeto”, afirma.
Turma embarcou nesta quinta com destino a Portugal (Foto: Paula Fróes/CORREIO) |
O conceito de ensino pluralizado foi o que influenciou o estudante Natanael Pereira a se inscrever no processo seletivo, que atraiu cerca de 700 alunos na Bahia. O jovem de 15 anos foi um dos selecionados para a viagem e comemora a oportunidade de ir para outro país e aprender sobre a cultura brasileira através do projeto.
Natanael conta que morou em uma comunidade quilombola até os 10 anos e reclama que as aulas de história, em geral, não consideram a realidade indígena e negra no Brasil. “Na sala de aula, aprendemos só o que está nos livros, que é praticamente o que está na visão do homem branco europeu. No projeto, aprendemos a olhar do outro lado, do lado dos indígenas que foram invadidos aqui no Brasil, dos africanos que foram trazidos do seu continente até aqui”.
O intercâmbio intercontinental faz parte da terceira etapa do programa. Antes disso, há um processo seletivo para os inscritos. Os alunos têm aulas de história com abordagem centrada na diversidade da fundação do Brasil e precisam produzir atividades de leitura e pesquisa. Na próxima fase, os selecionados passam sete dias em um campus, onde visitam aldeias indígenas, comunidades quilombolas e participam de oficinas de interpretação, roteiro, som e fotografia para realizar um projeto audiovisual.
Após o retorno para o Brasil, os participantes se reunirão para a última fase do projeto. O propósito é que os estudantes apresentem, a partir dos aprendizados, uma proposta de mudança para a cidade em que residem. As apresentações serão em 21 e 28 de maio, e a organização e patrocinadores irão financiar o projeto vencedor, sendo a vivência um legado não somente para os alunos, mas também para a comunidade onde estão inseridos.
*Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo