O número de eleitores baianos da faixa etária entre 16 a 18 anos que tiraram o título de eleitor entre janeiro e abril deste ano aumentou 70% em relação ao mesmo período de 2018, ano de eleições presidenciais.
Enquanto o Tribunal Superior Eleitoral registrou 88.603 alistamentos de adolescentes na Bahia em 2018, o número atingiu os 151.184 em 2022. A Bahia tem 488 mil jovens com 16 e 17 anos. No Brasil, a participação do público de 16 e 17 anos nas eleições não é obrigatória.
No ano eleitoral de 2014, a quantidade de alistamentos foi 76% menor em relação ao ano de 2022, segundo o TSE. Foram 85.472 novos alistamentos durante o período do ano. Os dados obtidos não levam em consideração todo o período em que foi possível retirar e regularizar o título de eleitor, já que, neste ano, o prazo final foi até o dia 4 de maio.
O professor e advogado de Direito Eleitoral, Rafael Petracioli, acredita que isso se deve, dentre vários fatores, à polarização no cenário político atual, que impulsiona uma mobilização de todas as camadas da sociedade e, inclusive, dos jovens.
“É um engano achar que o público, por ser jovem, segue determinada tendência ou tem desinteresse na política. É óbvio que quando tem questões ideológicas mais fortes dos candidatos, as pessoas querem maior participação. Temos visto isso nas manifestações, nas passeatas, e o jovem não fica de fora”, afirma.
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E os números tiveram forte crescimento principalmente depois de mobilizações nas redes sociais promovidas pela Justiça Eleitoral na internet: apenas 15% dos jovens baianos aptos a votar haviam feito o título de eleitor até março. Do total de 150 mil alistados de janeiro a abril, 84 mil se regularizaram com o TSE em abril.
Artistas e políticos também utilizaram seus perfis para atrair os adolescentes ao alistamento. Anitta, Leonardo DiCaprio e Mark Ruffalo foram algumas figuras públicas que fizeram o apelo ao público brasileiro.
Petralioci reforça que a mobilização foi resultado de um Judiciário e de uma sociedade civil preocupados com a manutenção das instituições democráticas. “Já existiam campanhas em outros anos, mas nunca nessa intensidade. Isso é resultado de um temor da parte do Judiciário porque os últimos dois anos tem sido de embate direto com o Executivo”, esclarece.
Guardadas as devidas proporções, o professor utiliza a guerra da Ucrânia e Rússia para exemplificar o escalonamento da tensão entre as figuras de poder. “Claramente vemos as temperaturas subindo todo santo dia, ao ponto de que pensamos ‘vai dar guerra, não tem jeito’. É mais ou menos o que estamos vendo entre STF, que é órgão máximo desse poder, e o Presidente da República, com o caso Daniel Silveira”.
Nas últimas semanas, os embates tomaram novos rumos após o presidente Jair Bolsonaro assinar um decreto que concedeu perdão da pena ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado a 8 anos e nove meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Silveira é ex-policial militar e foi preso por estímulo a atos antidemocráticos e ataques a instituições.
Petracioli reforça, entretanto, que a força dos votos dos jovens não está unidirecionada. “O público jovem é heterogêneo, então não adere somente ao lado lulista ou bolsonarista. É precipitado achar que os novos eleitores pendem para um lado só. Nada está definido e ainda tem muita água para rolar”, finaliza.
*sob orientação da subeditora Carol Neves, com colaboração de Victor Meneses