Um mês após o desabamento de parte de um casarão na Ladeira da Montanha, no Centro de Salvador, equipes ainda estão trabalhando na demolição do que restou de pé. O acidente aconteceu no dia 21 de abril, durante uma frente fria que causou estragos na cidade, e não deixou feridos. Por conta do risco de novos desmoronamentos a via foi interditada e o trânsito foi alterado. Ainda não há previsão para liberação.
Local do acidente (Foto: Paula Fróes/ CORREIO) |
O casarão já estava escorado antes do acidente acontecer e ficava na parte baixa da Ladeira, próximo ao bairro do Comércio. Neste sábado (21), blocos de concreto bloqueavam o acesso a via e trabalhadores recolhiam materiais no local. Os motoristas estão sendo orientados a usar a Avenida Lafayete Coutinho (Contorno) para fazer a ligação entre as Cidades Alta e Baixa, mas a mudança desagradou a população.
A atendente de call center Aline dos Santos, 25 anos, está preocupada com a falta de segurança no bairro. “Existe um ponto de ônibus no pé da Ladeira que foi desativado por conta do acidente. Agora, a gente tem que caminhar até o Terminal da França ou até o Elevador Lacerda, sendo que aos fins de semana, feriados e à noite esse deslocamento é arriscado. Espero que eles resolvam logo esse problema”, contou.
As ruas que ficam ao pé da Ladeira estão liberadas, mas moradores e trabalhadores contaram que o movimento diminuiu. “As pessoas não usam muito a Ladeira da Montanha para subir a pé, geralmente o trânsito é de carro ou de ônibus, e como ela está fechada, quem tem carro está indo pela Avenida Contorno e quem anda a pé vai pegar o ônibus no Terminal da França. As ruas ficaram mais desertas”, contou o promotor de venda Alex Souza, 34 anos.
O imóvel que cedeu pertencia ao Governo do Estado. Procurada, a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) informou que fez uma vistoria no local, na semana passada, acompanhada de representantes da prefeitura. O Município se comprometeu a fazer a demolição das paredes que ainda apresentam risco de ceder e a Conder ficou responsável por recolher o entulho depois que o serviço for concluído.
Em nota, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur) informou que a demolição começou no sábado (14), e que deve durar pelo menos 15 dias. Já a Defesa Civil de Salvador (Codesal) informou que fará uma nova avaliação do local após a conclusão do serviço.
Desabamento
O feriado de Tiradentes foi caótico para os soteropolitanos, foi o sexto dia seguido com registro de chuva na capital. A Codesal recebeu cerca de 300 solicitações pelo 199 naquela quinta-feira, a maioria era situação de deslizamentos de terra, alagamento de imóveis, queda de árvores e desabamentos. Até aquele momento havia chovido 24% a mais do que o esperado para o mês inteiro. O casarão desabou durante a manhã.
O imóvel estava dentro de uma área tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), era de responsabilidade do Governo do Estado e apresentava características de abandono. Na época, a Conder informou que adquiriu o casarão já em estado precário e que pretendia reformar e transformar o espaço em um conjunto de unidades habitacionais.
A Ladeira da Montanha tem 662 metros, liga o bairro do Comércio à Praça Castro Alves, e foi construída no século XIX. A via é um cartão postal de Salvador e foi um dos cenários explorados pelo escritor baiano Jorge Amado no romance Capitães da Areia (1937).