A indústria baiana precisa superar três grandes desafios para crescer de maneira sustentada, aponta Vladson Menezes, superintendente da Fieb: melhorar a qualidade da educação, a sua infraestrutura de escoamento da produção e dar mais suporte para os investimentos em ciência e tecnologia. “As mudanças levam tempo para acontecerem, mas nós temos um imenso potencial de desenvolvimento que precisa começar a ser melhor aproveitado”, apontou.
Após dois anos muito difíceis, a indústria baiana dá sinais de recuperação agora em 2022. Para Vladson Menezes, o baque no setor industrial baiano foi mais drástico que o percebido no conjunto da economia brasileira. “Lógico que o mundo passou por grandes dificuldades com a pandemia, o Brasil também, mas no caso da indústria baiana o sofrimento foi maior”, garantiu o executivo, que foi o convidado do programa Política & Economia, apresentado pelo jornalista Donaldson Gomes, editor do CORREIO.
“Há um ano e quatro meses, foi anunciado o fechamento da Ford. A montadora e os seus sistemistas representavam entre 5% e 6% da indústria de transformação da Bahia”, calcula. Além disso, a produção de derivados de petróleo na antiga Refinaria Lamdulpho Alves, atual Mataripe, vinha caindo antes da venda da unidade para a Acelen, lembra Menezes.
A produção dos derivados de petróleo, que representam quase 28% da indústria baiana, tiveram uma queda de 18%, somada a quase 100% de queda na indústria automobilística, calcula o superintendente da Fieb. “A Bahia sofreu muito mais por razões mais amplas e agora, em 2022, estamos vivenciando um movimento oposto, porque a refinaria começou a operar numa capacidade muito maior e nós não teremos outro evento negativo como foi o da Ford”, diz.
Este cenário, somado ao desempenho de segmentos como o da indústria química, produção de celulose, mineração, calçados, produção de energia e a construção civil, entre outros, explicam o crescimento da indústria neste primeiro trimestre 3,5%, em comparação com os primeiros três meses de 2021. No mesmo período, a indústria brasileira caiu 4,8%, compara Vladson Menezes. “Claramente eu estou tendo uma inversão de movimento. Obviamente, nós viemos de uma base deprimida, estava tudo muito parado, mas a gente está retomando, o que aponta para boas perspectivas”, pondera.
Ele destaca o desempenho da construção civil, que tem um grande potencial para a geração de empregos e renda. “A construção civil hoje já empregava em março 15% a mais do que empregava antes da pandemia, em fevereiro de 2020”, afirma. Segundo ele, são 133 mil trabalhadores atualmente, contra 114 mil naquele período. “Está havendo uma recuperação em outros setores”.
Olhando para perspectivas de futuro, Vladson Menezes lembra que a Bahia é o estado brasileiro com as maiores perspectivas de crescimento no setor mineral. Atualmente, o estado é o terceiro maior produtor do país. “Nós somos a terceira província do país, bem abaixo de Minas Gerais e do Pará, mas já passamos Goiás recentemente e vamos crescer porque tem vários investimentos previstos”, projeta. “Claro que depende de infraestrutura e de outras ações, mas não tem outro estado brasileiro com previsão de investimentos tão grande”, diz.
Outra aposta para o futuro está nos serviços industriais de utilidade pública (Siup), que engloba o fornecimento de energia e saneamento básico, por exemplo. “A Bahia já é líder na produção de energia solar e está alcançando em breve a liderança na produção de energia eólica. Isso é uma realidade, mas nós temos a chegada do hidrogênio verde. São várias possibilidades que apontam um desempenho melhor”, destaca.
“Não posso dizer que está tudo bem, mas há um movimento que é positivo, cabe a nós estimularmos movimentos como o agronegócio, por exemplo. Quando o Oeste da Bahia cresce, nós temos uma indústria que pode se desenvolver lá”, projeta.
A indústria é o setor econômico que costuma pagar os melhores salários, lembra Menezes. “Com os melhores salários, as pessoas tendem a consumir mais e isso gera renda, consumo e impostos, o que faz a economia crescer”, destaca.
“Todos os segmentos da economia tem a sua importância, mas a indústria tem um efeito multiplicador maior”, completa. Além disso, ele lembra que o ritmo de inovação é significativo e exerce um papel transformador para os outros setores econômicos.
O projeto Indústria Forte é uma realização do Correio com patrocínio da Unipar e Acelen, apoio institucional do Sebrae e apoio da Wilson Sons, Braskem, J.Macêdo, Larco, AJL, Jotagê e Comdados.