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Olodum: marca que saiu do Pelourinho e ganhou o mundo foi criada em guardanapo

O criador, João Silva e a sua cria: o símbolo do Olodum

Com as cores do movimento Pan-africano, verde, amarelo, vermelho e preto, e o símbolo da paz, que já era muito difundido desde os anos 1960 com os grandes eventos musicais, o publicitário baiano João Silva criou uma das logomarcas mais conhecidas no Brasil e, sem exagero, no mundo. Falo daquela que simboliza o Olodum, grupo cultural que nasceu no Pelourinho, mantem uma escola, uma banda, um bloco de Carnaval e, assim como o Ilê Aiyê, tem um grande prestígio junto à comunidade negra, parda e mestiça de Salvador.

A marca sempre foi forte na Bahia e no Brasil. Mas quando o pop star Michael Jackson veio a Salvador, em 1996, com o cineasta Spike Lee, gravar o clipe da música “They Don’t Care About Us”, aí foi a consagração. O mundo inteiro passou a conhecer a força e o trabalho dessa comunidade chamada Olodum. A ele se juntaram outros nomes como Paul Simon, que elevou a banda em 1991 para um concerto histórico no Central Park em New York. E tem sido assim durante anos. Além da música e da batida peculiar conhecida como samba reggae, criada pelo saudoso Neguinho do Samba, o símbolo do Olodum é uma atração à parte.

E para contar um pouco de como nasceu essa marca, em 1994, o Baú do Marrom foi conversar com seu criador. De férias ao lado da filha Vittoria, em New York, João Silva que foi convidado para dirigir o novo clipe do Olodum,  em Ilhéus, com a música “Amado para sempre”; revelou como foi o passo a passo da criação e do impacto que ela causou e ainda causa  e falou de outros assuntos como os trabalhos realizados com outros artistas e claro, como bom folião também deu seu pitaco sobre o que espera do Carnaval pós pandemia em 2023.

Banda Olodum Samba Reggae... - Banda Olodum Samba Reggae

A marca criada por João Silva em 1994 – Foto: Divulgação

Baú do Marrom – Como foi a concepção e criação da marca do Olodum?

João Silva – Alguns dias depois da reunião de briefing com João Jorge, Claudio Barreto e Zulu em Salvador, sobre a turnê que o Olodum faria pela Europa, eu fui a São Paulo acompanhar as gravações com a atriz Silvia Pfeifer para uma campanha imobiliária. Após um longo dia de trabalho, que entrou pela noite, quando cheguei ao quarto do hotel e liguei a TV e via algumas cenas de violência contra estudantes em Paris. No dia seguinte, voei para O Rio de Janeiro para gravar com Cláudia Raia na Barra da Tijuca outros comerciais e, de novo, ao chegar ao hotel a noite e ligar a TV ví cenas semelhantes de violência contra estudantes, dessa vez em Londres o que me deixou impactado com o clima de violência.

Uns dias depois, recebi a informação que um membro do Olodum havia sido baleado por um policial no Pelourinho. Aí, não tive mais dúvida, a marca que o Olodum, que já era conhecido pela sua batida de tambor precisava, era o símbolo da paz que teve origem nos anos 60. Fiz um rápido desenho em papel guardanapo, utilizando uma caneta hidrográfica futura que carregava sempre no bolso e indiquei as cores do movimento Pan-africano, verde, amarelo, vermelho e preto. Pronto estava criada a marca/símbolo da paz para o Olodum.

Baú do Marrom – Eu viajo muito pelo mundo e sempre vejo alguém com a camisa do olodum. Você chegou a pensar que seu trabalho poderia ter esse alcance?

João Silva – Honestamente não, mas é importante registrar que todas as marcas que eu crio, assim como todas as ações de comunicação e marketing, sempre estão estruturadas a partir do seguinte tripé: o momento em que estamos vivendo; o objetivo principal a ser atingido pelo cliente e de que forma podemos agregar valor aquela iniciativa. Normalmente, essa estruturação durante o processo de criação, ajuda a chegarmos ao melhor caminho e contribui bastante para o sucesso e perenização das marcas que são o capital intangível de uma instituição, seja ela produto, serviço ou até de imagem pessoal.  “A marca do Olodum é sem sombra de dúvidas a marca brasileira mais conhecida fora do Brasil.” , disse à época Paulo Gaudenzi, então Secretário de Cultura e Turismo da Bahia.

O astro Michael Jackson gravando no Pelourinho (Divulgação)

Baú do Marrom – Qual a sensação quando você viu o megastar Michael Jackson exibindo sua criação para o mundo?

João Silva – Eu não estava em Salvador durante as gravações, mas fiquei muito feliz e orgulhoso, em ver que as várias marcas e símbolos que aparecem estampadas nas camisas dos membros da bateria naquele clipe foram algumas das marcas que criamos para o Olodum. Se olhar direitinho aquele clipe, você verá que cada uma daquelas marcas contam alguma história e momento que o Olodum viveu ate chegar aqui.

Lembro que o jornal do sul me perguntou a época se eu achava que Michel Jackson tinha gravado o clipe por conta da música do Olodum ou da marca e eu disse que, com certeza pela batida do Olodum que era contagiante em qualquer parte do mundo, mas que considera também que o símbolo da paz, tinha também um alinhamento com a imagem de Michael Jackson transmitia. Michael Jackson era meu ídolo também, tinha todos os discos e gravava todos os clips que eram lançados anualmente. Levei inclusive minha filha Juliana ao show dele no Morumbi em São Paulo em 1993.

Baú do Marrom – Além do Olodum, você criou para outros artistas?

João Silva – Sim, eu sempre tive uma forte atuação na área cultural, talvez essa influência se dê pelo fato de meu irmão mais velho, Camelo, que era um grande baterista, me levar para algumas de suas apresentações. Quando era um pré adolescente, ele tocava no programa semanal da TV Itapoan chamado “Poder Jovem” com Big Bem e produzido por Domitila Garrido. Ele me deu de presente o compacto “Satisfaction” dos Rolling Stones, e a convivência com inúmeros artistas que vinham a Bahia para fazer seus shows e ia ensaiar lá em casa. Quase toda semana tinha algum musico de destaque nacional da época que ensaiavam lá em nossa casa no local onde meu pai tinha a marcenaria dele.

Por lá passavam de Waldir Serrão a Jerry Adriane, Wanderley Cardoso, Waldick Soriano, Armandinho que junto com Camelo e Carlinhos Max, criaram a banda CurtSom. Lembro que a primeira bateria transparente que chegou ao Brasil foi a dele. E foi ele também o primeiro baterista a tocar em cima de um trio elétrico graças a insistência de Orlando do Tapajós que ia muito lá em casa. Ele realmente era muito bom e bastante requisitado em todo o país, até o Rei Roberto Carlos, quando veio fazer uma apresentação aqui, pediu a ele a bateria emprestada.

 Como eu já gostava de desenhar desde essa época, sempre que aparecia uma oportunidade, estava lá fazendo alguma coisa, um cartaz, marcas da banda na bateria, pintando mortalhas com Gerson e Candido e até o trio elétrico do SacoXeio.   Já como publicitário, além do Olodum, criamos bastante para o Ilê Aiyê e varias outras entidades negras da Bahia, também para o Waltinho Queiroz e seu Chegando Bonito(pós Jacu), Tom Tom Flores, Alex Góes, além de varias capas de discos para WR a convite do saudoso e querido amigo Wesley Rangel que junto com Roberto Santana, estavam produzindo os discos de Lazzo, Roberto Mendes, Missinho, Jorge Zarath, Marcionilio, Rumbaiana, etc…

Baú do Marrom – Fale um pouco quem é João Silva?

João Silva – Eu sou da Cidade Baixa de Salvador, filho de lavadeira com marceneiro que sempre acreditou no que faz e que contei com muita gente boa e talentosa que me deram oportunidade. Ao longo desse tempo, adquiri uma certa experiência em estratégia de comunicação social e marketing político. Atuei nas principais agências do mercado e ao longo desse tempo, conquistei muitos prêmios, incluindo a medalha Zumbi dos Palmares, concedida pela Câmara Municipal de Salvador por trabalhos desenvolvidos para a luta pela igualdade racial no país. Fui escolhido o Profissional do Ano em 1991, pelo Prêmio Colunistas, cheguei a ser presidente do Clube de Criação da Bahia. Fui paraninfo da turma de formandos em Comunicação Social da Universidade Católica de Salvador e da Unifacs e tenho participado como palestrante de congressos e seminários no Brasil e exterior.

Baú do Marrom – O João Silva folião o que espera do primeiro Carnaval pós-pandemia?

João Silva – O carnaval da Bahia vai decretar o fim da pandemia. Irá devolver a alegria e a liberdade para todos que atravessaram esse clima de terror e pânico e ainda se sentem inseguros. Reestabelecer o clima de normalidade é importantíssimo também para que os pequenos e médios negócios, que são responsáveis por milhares de empregos diretos e indiretos, e que foram bastante prejudicados, voltem a funcionar com segurança. Em fim, estou bastante confiante também na nova diretoria do COMCAR que acabou de assumir e já começou a trabalhar no planejamento da festa para trazer de volta a alegria do Carnaval da Bahia. O Carnaval do Brasil.

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