InícioEditorialQuer trabalhar com podcasts? Saiba onde buscar capacitação, inclusive de graça

Quer trabalhar com podcasts? Saiba onde buscar capacitação, inclusive de graça

Você ouviu algum podcast? Não é rádio, mas pode ter música e notícia. As plataformas de criação de conteúdo em áudio estão em alta e se transformaram em um enorme campo de trabalho. Uma pesquisa da plataforma CupomValido.com.br, que usou dados do IBOPE e Statista, mostrou que o Brasil é o terceiro país que mais consome podcast, ficando atrás apenas da Suécia e Irlanda. Desde o início da pandemia, são mais de 30 milhões de ouvintes e mais 40% dos brasileiros escutaram um programa no último ano. 

Todo esse consumo de conteúdos por áudio vem criando um novo nicho de atuação profissional para produtores de conteúdo em áudio, editores, locutores, técnicos em áudio (sound designer), roteiristas, músicos para trilha sonora, entre outros.

De acordo com a pesquisadora em comunicação e produtora de conteúdo da Súbito (www.instagram.com/subitopodcasts)  Verena Petitinga, as narrativas em áudio fazem parte do universo simbólico do brasileiro. “Acredito que toda pessoa que tem uma boa história para contar pode atuar no universo de conteúdo em áudio. A base de tudo é sempre a história, o que desejamos contar para os ouvintes”, esclarece. 

Verena Petintinga defende que a alma do podcast reside nas histórias que podem ser contadas sobre os mais variados temas (Foto: Acervo pessoal) 

Professor do curso gratuito Roteiro e Criação de Podcast do Instituto João Carlos Paes Mendonça de Compromisso Social (IJCPM), Anderson Shon faz questão de esclarecer que o podcast é um programa de rádio na internet que, diferente da rádio, pode ser ouvido em qualquer momento, com diversos temas, sem ter que se vincular a uma grande empresa de comunicação ou ter a obrigatoriedade de ser exibido em um tipo específico de horário. “Apesar de ser algo voltado para a comunicação, o podcast pode ser criado por qualquer pessoa que tenha algo para dizer. O meio é bem democrático, pois com um simples celular já é possível a produção do mesmo”, reforça.

Cultura sonora

Verena salienta que apesar do mercado abrir espaço para novas atuações profissionais, o formato podcast não é novo e já era feito no Brasil há mais de duas décadas. “Hoje, vemos criadores de conteúdo em podcast com perfis diferentes – de pessoas que já criavam conteúdos em outros canais, como redes sociais e Youtube, a pessoas que trabalham com jornalismo ou audiovisual e perceberam no podcast uma plataforma para criar novos conteúdos”, explica.

Anderson Shon defende o fato de que os podcast podem ser produzidos com poucos equipamentos, fato que torna o meio bastante democrático (Foto: Acervo pessoal)

Shon diz que o Brasil sempre foi um país característico pela conversa livre e solta sobre todos os temas possíveis e que esse traço do brasileiro facilita na produção da mídia. “O que começou abordando questões do universo nerd, já evoluiu para o comportamental, política, humor e, hoje, o grande gênero dentro da podosfera é a entrevista, a exemplo o PodPah, que já teve o  rapper Mano Brown, e o Flow Podcast”, diz. O professor destaca ainda o UmbuCast, BahiaCast, o Pode.Com como expoentes locais.

Na experiência realizada pelo IJCPM(www.ijcpm.com.br), 20 jovens, de 16 a 30 anos, moradores dos bairros Pernambués, Saramandaia, Boca do Rio, saíram aptos a criar, editar, gravar e publicar seu podcast. A oficina contou com aulas que mostraram a origem do gênero e culminou na gravação do podcast de cada grupo de jovens. Entre os podcasts que fazem parte da culminância do curso, estão o Podcast Afro e o A sutil Arte de Ser Negro, todos abordando e debatendo o racismo em suas mais variadas esferas. 

A estudante Samira Da Silva Jovita, 18, foi uma dessas contempladas. Ela conta que sempre ouviu podcasts, mas nunca passou por sua cabeça que pudesse produzir um. “Quando soube que teria um curso sobre roteiro e criação de podcast , acendeu uma lâmpada da curiosidade na minha cabeça e eu fui fazer com o intuito de saber realmente como se faz um podcast e quem sabe algum dia lançar um”, conta.

Samira Jovita produziu um podcast com os colegas de turma e, hoje, anseia por uma oportunidade para trabalhar profissionalmente na área (Foto: Acervo pessoal) 

Usando um aplicativo chamado Anchor, ela e os colegas um produto chamado Preto Pod. “Eu achei o curso incrível porque me ensinou principalmente a trabalhar minha criatividade e usar as ferramentas que tenho, sem aquela pressão de que eu preciso ter equipamentos incríveis para produzir um bom conteúdo”, afirma, garantindo que trabalharia na área se tivesse a oportunidade.

Profissões futuras

A pesquisadora acredita que num futuro bem próximo, o país irá experimentar mais novos formatos, como já é feito no exterior. “É o caso dos filmes sonoros, um episódio único que conta uma história, como se fosse um longa ou curta-metragem de cinema”, defende. 

Verena também cita as áudios séries documentais e ficcionais como tendência a ser seguida, como já acontece com o sucesso da série documental/jornalística Serial, um dos podcasts mais ouvidos do mundo, ganhador do Peabody Award e tem milhões de plays, até séries de ficção como a adaptação recente de Batman para podcast.

Ela reforça que o mercado para absorver profissionais capazes de produzir podcasts ainda está em construção e algumas demandas só agora foram percebidas, inclusive no que tange à formação e remuneração. “Se a pessoa já cria hoje conteúdos online, por exemplo, talvez seja importante ela entender as ferramentas de produção em áudio (ferramentas de edição, mixagem, especificidades de um arquivo para subir na plataforma, etc) e assim perceber em quais etapas se identifica mais”, explica. 

Para a pesquisadora, é essencial que as pessoas que desejem atuar na área busquem os conhecimentos necessários e testem formatos, criando pilotos para as ideias. “Sugiro que os interessados conversem com pessoas que atuam na área, pois a troca nesta construção é muito importante. Vemos que há mais ouvintes de podcasts nos locais em que há mais produção de podcasts, em que o pólo criativo é mais aquecido”, finaliza. 

Onde buscar formação

Verena Petitinga preparou uma curadoria de boas dicas acessíveis na Internet. Confira:

•    e.b.a.c. (português)- lá tem o curso de desenho de som (é uma formação mais extensa e que forma para sound designer em audiovisual): ebaconline.com.br/sound-designer 

•    BBC (em inglês, gratuito) – a BBC, grupo de comunicação inglês, tem um site The BBC Academy Podcast. Lá tem muito conteúdos sobre produção de podcast: https://www.bbc.co.uk/programmes/p02pc9zz 

•    Gimlet Academy (em inglês, gratuito) – a Gimlet, uma das maiores produtoras de podcasts do mundo, tem esse podcast em que traz dicas de como fazer conteúdos em áudio: gimletmedia.com/shows/gimlet-academy 

•    Tem dois podcasts que sempre ouço e que trazem muitos conteúdos sobre o fazer podcast. Pode ser bacana para quem está começando também (ambos em português): A Era do Áudio (open.spotify.com/show/6x3HIICARJliEUlUne6pUg) e Radiofobia Alôténica (open.spotify.com/show/6hGz0Jim6jZUDUF182mh4T?si=361f6fa9d62f4472). 

•    Tem um blog ótimo também chamado Cochicho: https://cochicho.org 

Para conhecer mais:

•    Brouhaha – áudio série sobre histórias inusitadas e pessoais do rock nos anos 90 aqui na Bahia. Lançaremos em breve uma segunda temporada. https://open.spotify.com/show/0qbHI6i9KXgkA7zvHrznN9 

•    Mercado do peixe – audiodrama ficcional que criamos com elenco, desenho de som, tudo feito aqui na Bahia.

•    open.spotify.com/show/0XMA5sFsGDS2AbkRL302Oz

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