A estratégia de usar a “herança maldita” para tentar livrar o PT da culpa pela queda na qualidade da educação e pela crescente onda de violência na Bahia, adotada recentemente por Jerônimo Rodrigues, candidato do partido a governador, foi considerada um tiro no pé entre líderes da própria base aliada. Em conversas reservadas, cardeais governistas afirmam que, com os petistas prestes a completar 16 anos no comando, será impossível convencer o eleitor de que a responsabilidade pela péssima posição do estado em duas áreas sensíveis é de quem deixou o poder há uma década e meia. Em suma, avaliam, a tática tende a se transformar em um tipo de atestado de incapacidade do PT contra si mesmo.
Carvão molhado
“Essa desculpa pode colar com quatro anos de governo. No máximo, oito. Com 16 não dá liga. Ainda mais porque a Bahia virou campeã brasileira em mortes violentas durante a gestão do PT. Para piorar, foi com Jerônimo à frente da Secretaria de Educação que o estado se tornou dono do pior ensino público do país”, resume um cacique da base.
Ajuda da concorrência
Para políticos que integram a tropa de choque do governo, a justificativa utilizada nos últimos dias pelo petista fortalece, de modo substancial, o ex-prefeito ACM Neto, candidato da União Brasil ao Palácio de Ondina. Embora tenha assumido a prefeitura após oito anos de uma gestão que provocou intenso processo de decadência em Salvador, Neto conseguiu elevar sucessivamente o índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) da capital e saltos graduais no ranking nacional de ensino, sem jamais culpar a administração anterior por eventuais dificuldades. Desempenho semelhante se repetiu na saúde, com o aumento da cobertura da atenção básica, e na área financeira, com equilíbrio das contas e superávit de caixa. Até o fim do segundo mandato, em 2020, nunca empregou o discurso da “herança maldita” diante de críticas.
Choque de realidade
A tentativa de jogar o desgaste do PT no colo dos rivais também esbarra na percepção do eleitorado. Em todas as pesquisas qualitativas encomendadas pela oposição, os governos petistas são majoritariamente apontados como responsáveis por levar a Bahia a perder importância econômica, protagonismo e relevância nos últimos anos.
Botão de pânico
A visita de ACM Neto a Jequié, na última sexta-feira, acionou o alarme de emergência no comitê da pré-campanha de Jerônimo Rodrigues. Além da presença maciça de lideranças políticas de expressão antes alinhadas ao bloco governista, caso do prefeito Zé Cocá (PP), a passagem de Neto atraiu uma multidão em quantidade bem acima das expectativas e gerou forte impacto simbólico. Isso porque a cidade é reduto da primeira-dama do estado, Aline Peixoto, e privilegiada na distribuição de verbas do governo estadual.
Calor na geleira
A forte mobilização popular gerada durante a agenda de Neto em Jequié, antes dominada pelo PT, reforçou as projeções feitas pelo QG oposicionista que indicam derretimento do grupo adversário nos 20 maiores colégios eleitorais do interior baiano.
Quando corta R$ 3,2 bilhões do MEC e fala em cobrar mensalidade nas universidades públicas, o inominável mostra o seu desprezo pela educação. Principalmente, quando pesquisa mostra que os mais jovens não votarão nele
Lídice da Mata, deputada federal pelo PSB, ao criticar o presidente Jair Bolsonaro