Entre as várias palavras que podem defini-lo, talvez um dos mais corretos seja forte. Isso resume bem o que foi o desfile da Meninos Rei no 53º São Paulo Fashion Week. Do choro de Maíra Azevedo ao dar ‘a bença’ ao filho Alodê, à emoção de Jessilane por pisar numa passarela pela primeira vez, passando pela presença do ex-atacante Grafite – desfilando com a naturalidade semelhante à que fazia seus gols – até os protestos pela vida negra cantados por Mariene de Castro e nos cartazes que fizeram da passarela um objeto de luta.
Pois é, deu para perceber que muita coisa aconteceu. E foi isso mesmo. Na terceira vez em que estiveram na SPFW, os irmãos estilistas Céu e Junior Rocha, 40 e 42 anos, respectivamente, emocionaram do início ao fim. A abertura trouxe trechos de reportagens que falavam sobre as diversas violências sofridas por pessoas negras no Brasil: sufocamento em viatura, prisões injustas, acusações infundadas… foi duro de ver o começo. Mas era necessário.
Mariene veio logo depois, cantando o Canto das Três Raças, à capela – no gogó. Visceral. Apagaram-se as luzes e vieram os modelos com os patchworks que levaram a marca baiana ao lugar onde estão hoje, quase 8 anos após o nascimento. Novamente, a marca foi convidada pelo projeto Sanfoka, que seleciona marcas de afroempreendedores para desfilar no SPFW.
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Mariene de Castro abriu o desfile cantando música de Clara Nunes (Foto: Victor Alquezar/Senac) |
Foram a segunda marca baiana a aparecer nesta edição do evento paulista- a primeira na passarela física. Antes, a Dendezeiro desfilou com um Fashion Film da coleção Tabuleiro. “
“Nosso protagonismo é o povo preto, é falar da nossa raça, do que a gente acredita. Então somos reis e rainhas e precisamos festejar, comemorar, homenagear sempre essas pessoas”, disse Céu em entrevista ao Alô Alô Bahia.
A Meninos Rei trouxe uma passarela diversa, com diferentes corpos. E a presença mais que ilustre da biomédica Jaqueline Goes, uma das primeiras profissionais brasileiras a sequenciar o RNA do SARS-CoV-2 – o vírus que causa a covid-19 – após 48 horas do primeiro caso no Brasil. Cerca de 80% do casting era soteropolitano. Designer de Aracaju, Lucas Lemos (Tsuru) desenvolveu as sandálias do desfile. Luana Rodrigues assinou os acessórios, brincos e anéis, enquanto Kelba Varjão ficou com os colares. Os balangandãs vieram da Casa de Ilê de Odé, na Feira de São Joaquim.
A Bahia ainda aparecerá em mais duas vezes na São Paulo Fashion Week, ambas no sábado (4). O Ateliê Mão de Mãe desfilará no Komplexo Tempo, seguida de Isaac Silva, que faz o encerramento da semana de moda paulistana. Vale destacar que todas as três são parceiras do Afro Fashion Day, evento de moda do CORREIO que acontece em novembro.