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Se arrependeu da tatuagem? Saiba o que fazer quando a arte na pele vira frustração

O nome do boy tóxico nas partes íntimas, um risco mal feito, uma noitada inconsequente que culminou num desenho aleatório que ninguém lembra como foi feito, ou apenas um dragão antigo e desbotado que precisa de retoques. O que fazer quando aquela tatuagem te atordoa toda vez que se olha no espelho? Conversamos com especialistas no assunto, que contaram sobre as duas maneiras de corrigir a frustração. Atualmente, as principais são a remoção a laser ou a técnica cover-up. Contudo, antes de escolher entre apagar ou substituir, é preciso corrigir um ponto crucial: o lado psicológico. 

No final de junho, duas situações envolvendo famosos e ilustres chamaram atenção. A cantora Pepê, que faz dupla com Neném, tatuou o nome dos dois filhos gêmeos no rosto e se arrependeu logo em seguida. Um pouco antes, a influenciadora Nathalia Valente foi tatuar uma cobra nas costas e não gostou do resultado final, chorando nas suas redes sociais pedindo ajuda. Ora, se a primeira tatuagem foi feita por impulso, o que te faz crer que a segunda, que serve como substituta, irá suprir sua satisfação?

O experiente tatuador João Paulo (@jptattoo) aponta alguns fatores que levam ao arrependimento: uma tatuagem antiga e desbotada que precisa de retoques, uma imagem ou frase que não deixaram boas lembranças, além do mais comum no mundo das celebridades:  o imediatismo. 

“Estamos num processo muito imediatista. Viu a imagem no Instagram, chegou, tatuou e foi embora. Geralmente se arrepende depois. O digital influencer manda mensagem para cinquenta tatuadores e, o que responder, ele vai lá e faz. Claro que eu estou generalizando, mas é mais ou menos assim. A gente vive uma vida de imediatismo, né? Estou feliz hoje e amanhã não estou mais feliz. A tatuagem é um reflexo também comportamental da sociedade”, disse João, que também faz cover-up, uma técnica que faz um desenho em cima do outro. Contudo, antes deste processo, o artista prefere investir em muita conversa com o cliente. 

Para João, a relação entre tatuador e tatuado precisa ser de muita conversa, justamente para reduzir erros e arrependimentos, seja numa tatuagem do zero ou reposição. “O cuidado básico é o emocional. Quando você quer fazer uma tatuagem nova, do zero, e procura um estúdio, é o tesão que te leva lá. É o desejo de ter sua tatuagem, uma representação nova. Alegria, né? Já quando alguém vai fazer uma cobertura [cover-up],  o que te leva ao estúdio é uma insatisfação, frustração e tristeza. Aí vai cair na besteira de chegar no estúdio querendo qualquer coisa, caindo no mesmo ciclo de erros”, explica João. Ele lembra que tem cliente tão frustrado que pede para o próprio tatuador escolher o desenho. 

“Tem gente que chega num grau de insatisfação tão grande que realmente qualquer coisa serve. Eu lido com mulheres que não tiram a roupa pra transar [por conta da tatuagem] ou não botam biquíni há vinte anos. Tem gente que chega no estúdio se tremendo. Às vezes, a tatuagem nem está feia, mas existia um sentimento ruim ali. Tenho um divã no estúdio, man. Posso dizer que sou um psicólogo frustrado, pois tenho muita preocupação com o processo da elaboração e cuidado com a pessoa que está lá me pedindo ajuda”, completa. 

Alana Rocha tinha Bocão nas costas…

… Mas resolveu substituir por flores

A jornalista Alana Rocha é um bom exemplo sobre agir por impulso ou no calor da emoção. Ela tinha nas costas uma tatuagem de Zé Eduardo, o Bocão. Quando foi contratada pela emissora rival do ídolo, resolveu fazer um cover-up com um buquê de flores, apagando o rosto do comunicador. A mudança ainda teve o cunho provocativo, pois resolveu sobrepor no programa que ela era repórter, ao vivo, para toda Bahia.

“Foi um erro, decepcionei Bocão, uma pessoa que até hoje admiro muito. Ele sabia da minha tatuagem e se decepcionou com a provocação. Fiz [o cover-up] ao vivo no programa, foi uma provocação direta. Foi coisa da TV, rivalidade à flor da pele, um impulso inconsciente. Foi até bom fazer, pois o desenho do rosto dele foi feito por um tatuador inexperiente, que eu escolhi sem pensar. Outro impulso, né? Então foi bom neste aspecto. Porém, vou fazer novamente o rosto de Bocão e da apresentadora Renata Alves em algum outro lugar. Continuo admirando eles”, garantiu.  

Para quem pretende fazer a substituição, é bom preparar o bolso. Se uma tatuagem do zero que custa R$ 2 mil, se for para repor o valor, em média, será 50% a mais. “Pode ser mais, a depender da complexidade do desenho antigo e do que o cliente quer. Uma tatuagem de R$ 2 mil pode chegar a R$ 6 mil. Depende muito do caso, mas não é barato. É uma especialidade que nem todo tatuador quer fazer ou tem técnica para isso”, disse o tatuador Sábio Tattoo (@cobertura_sabiotattoo), que tem um estúdio especializado em cover-up. 

Sábio diz que é preciso ter muito cuidado na escolha do tatuador, pois não se trata apenas de um desenho. “Nem todo tatuador se mete em fazer porque é um trabalho que exige muita técnica. Se o tatuador não tem especialização. Fica um borrão preto. Já chegou clientes aqui com um cover-up que dava para ver a tatuagem antiga. Outro chegou com uma perna toda preta, pois o profissional sugeriu riscar o tribal todo da perna. Ficou uma grande mancha preta. Mas aqui a gente resolve”, desafiou Sábio Tattoo. 

Sábio diz que a procura é grande, uma média de 50 pedidos de orçamento, todo mês. “Nem todo mundo faz, justamente pelo valor. Mas atendo todos os dias, o número de pessoas que querem apagar a tatuagem antiga é grande, principalmente a turma que homenageia o namorado ou a namorado”, diz. 

Sábio Tattoo precisou fazer um cover-up da cover-up (Fotos; Acervo pessoal)

Uma pesquisa feita pela University of Portsmouth, no Reino Unido, apontou que uma a cada três pessoas se arrependem da tatuagem que fizeram. A maioria dos arrependidos alegaram que o fato de terem feito por impulso contribuiu muito, principalmente quando o motivo foi homenagear algum relacionamento. No estudo, feito em mais de mil pessoas em 2018, apontou que 35% dos homens que fizeram o nome de alguém (ex) querido se arrependeu. Entre as mulheres, 24%. Dessa turma, 67% pensavam em cobrir ou apagar a tatuagem. 

Foi o caso de Ana Victoria Paz. “Coloquei o nome de uma pessoa num lugar bem íntimo. Foi uma paixão incerta. Meu primeiro amor, tinha 15 anos. Me arrependi e demorei para mudar, apenas quando fiz 18 anos coloquei uma rosa em cima. Estou bem agora”, disse Ana, atualmente com 21. 

Remoção
Para quem pretende tirar a tatuagem e limpar a pele, o cover-up não é a solução. Neste caso, a melhor opção é mesmo a remoção à laser. “A luz produzida pelo laser atravessa a pele e quebra as moléculas da tinta da tatuagem em minúsculas partículas, separando as cores e gerando uma ‘inflamação’ controlada e proposital”, explica Maria Hartmann, especialista em estética e diretora da Clínica Hartmann, especializada na remoção de tatuagem.

O processo também não é simples, tampouco barato. O método é bem semelhante a depilação definitiva (com laser). Por isso, quem faz a remoção de pelos em locais com tatuagem pode prejudicar o risco. O número de sessões para a retirada definitiva também depende de diversos fatores, como tamanho da tatuagem, tinta utilizada e até a profundidade da pigmentação na pele. O valor também é salgado. A depender da situação, cada sessão pode custar até R$ 1 mil  e levar um ano inteiro até desaparecer. Ah, também dói. 

“É uma técnica que não deixa cicatrizes, mas não significa que seja uma tarefa simples. Aqui recebemos pessoas que se arrependeram, que possuem uma tatuagem antiga desbotada ou até mesmo as pessoas que querem fazer cover-up, mas preferem primeiro clarear a antiga para, só depois, fazer a tatuagem nova. Estamos aqui removendo uma Jesus Cristo do braço para que o cliente coloque uma outra imagem de Jesus com um risco mais moderno”,  disse Andrea Vilas Boas, do estúdio Cais 59 (@cais59_tatuaria), que faz tatuagem e remoção. 

Andrea acrescenta que também é comum remoção de erros gramaticais ou de informação. No próprio estúdio, uma cliente chegou para tatuar as substâncias que ela tinha alergia na pele. Depois de tatuada, ela procurou o estúdio dizendo que disse a substância errada. Está no processo de remoção. Por isso, é preciso escolher certo entre remoção ou cover-up. A psicóloga Dayse Xavier optou pela substituição, mas só depois descobriu que a remoção seria a melhor opção.

Andrea Vilas Boas precisou remover um equivoco. a cliente disse a substância errada sobre suas alergias. Ainda está na primeira sessão (Foto: Acervo pessoal)

“O tatuador errou uma frase que tatuei. Cobri com outra tattoo, mas me arrependi de ter coberto, ao invés de remover. Arrependimento total! Ainda vou removê-la, não quero mais”, lembra Dayse. A frase era ‘Por onde for floresça’, mas o tatuador esqueceu o ‘s’ do floresça. 

A remoção também pode significar superação. Brisa Espinheira repaginou duas tatuagens e outra está indo no mesmo caminho. A primeira, o nome do cantor Ian Curtis, da banda Joy Division. “Me incomodava ter o nome de uma pessoa que se matou. Substitui por uma moça voando com balões”, diz. Na perna, ela tinha um dragão em homenagem à série Game Of Thrones. “Fiz a remoção, não existe mais. Era muito impulsiva, me deixava exposta e incomodava no trabalho”. Não acabou. Outra tatuagem simboliza um período de depressão que ela teve em 2012. Também está num processo de remoção. “Só é caro, né? A minha última foram 11 sessões, acho que cada sessão custava R$ 300”, lembra.

No caso da cantora Pepê, o processo de remoção já começou. Contudo, ela deu o recado: “Estou vendo agora dermatologista para fazer a remoção. Mas vou continuar fazendo tatuagem, porque eu gosto, eu amo. O tatuador é incrível, ele não tem nada a ver com isso. A culpada fui eu, achei que ia ficar legal, mas não ficou”, disse a artista, nas suas redes sociais. 

Se depender do mercado e pelo imediatismo de ter sua pele marcada, o número de arrependidos não deve parar de crescer. No fim do ano passado, o  Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) divulgou que existem 22.568 estúdios de tatuagem no país, sem contar os não registrados. É um mercado, ainda segundo o Sebrae, que cresce 25% ao ano, mesmo na pandemia. A tatuagem pode não ser mais eterna, mas custa caro tirá-la. Pense bem antes de fazer. Ou melhor, o que fazer. 

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