Após longa temporada fazendo aparições apenas no meio digital, chegou a hora da já popular e aplaudida Koanza, personagem criado e interpretado pelo ator baiano Sulivã Bispo, subir no palco para um espetáculo teatral só seu, afinal ela tem muito a dizer.
De cabelos brancos e com notícias do futuro, a ialorixá senegalesa Koanza dá vida à peça “Koanza: do Senegal ao Curuzu”, que faz temporada no Teatro Sesi Rio Vermelho a partir de quinta-feira (15). A curta temporada dura três fins de semanas, com sessões sempre às sextas-feiras e sábados, às 20h.
“Apesar de Mainha ter se popularizado primeiro, Koanza é o meu primeiro personagem feminino, e essa será a primeira vez que piso sozinho num espetáculo inteiramente dedicado a ela, para contar a história dela”, comenta Sulivã Bispo.
Sulivã afirma que o solo é uma grande oportunidade de tratar de temas que lhe são caros como indivíduo e como ator: o combate ao racismo e à intolerância religiosa.
Quem é essa mulher?
Senhora riquíssima nascida no Senegal, bem-sucedida no comércio de jóias e tecidos senegaleses para a diáspora negra, makota (cargo feminino de grande valor no Candomblé), sofisticada e moradora do Corredor da Vitória, Koanza (nome de um rio angolano e da moeda de Angola) é uma mulher de saberes ancestrais.
Chique e consciente do mundo desigual em que vivemos, ela é comprometida com um papel ativo na reafricanização das lutas antirracistas na diáspora negra, que ela refina com empenho, elegância e humor.
Quando estava construindo a personagem, Sulivã queria fazer de Koanza uma senhora muito elegante, capaz de discutir o racismo sem descer do salto, com retidão, força e também encanto, e ela é assim, tem uma fineza e uma classe que incomodam.
“Minha inspiração para criá-la veio de muitas mulheres negras empoderadas. Uma delas é minha tia Arany Santana, principal referência para esse personagem, mas Koanza também se inspira em Elza Soares, Ruth de Souza, Jovelina Pérola Negra, Maíra Azevedo, Michelle Obama, Oprah Winfrey, Rita Batista, Maju Coutinho, Aline Midlej e tantas e tantas outras”, conta.
Koanza é o segundo monólogo da carreira de Sulivã, que confessa estar surpreso com as proporções que ela tomou nas redes sociais. O primeiro foi Kaiala.
“Ela denuncia o racismo que sofro cotidianamente, e ela traz uma força que eu digo que eu não sei se tenho, porque sou muito sensível, e ela trata as questões de uma forma muito didática e poética, e às vezes fala umas coisas difíceis que eu não sei o que ela está falando… E aí eu fico brincando se ela seria uma entidade ou o meu alterego, mas a realidade é que eu admiro muito Koanza, ela é uma referência, como tantas mulheres que me cercam, que me moldam e me ensinam muito”.
Para o diretor do espetáculo, o carioca Thiago Romero, que também é ator, coreógrafo e arte educador, Koanza é mais um passo que Sulivã Bispo dá no sentido de trazer à cena narrativas que pautam sua vida.
“Acredito que Koanza aprofunda minha parceria com Sulivã no sentido da construção de solos a partir de personagens que trazem como debate o racismo religioso e tantas intolerâncias. Assim como iniciamos com Kaiala, seguimos procurando, na construção desses solos, formas poéticas e de utilização do humor como ferramentas potentes para o encontro com o espectador”, comenta ele.
Além de “Koanza: Do Senegal ao Curuzu” e “Kaiala”, Romero já esteve dirigindo Sulivã em “Rebola”, espetáculo de nascimento de Koanza, no musical “Delicado”, na peça “Anoitecidas” e na versão baiana de “Madame Satã”.
Se quiser ir, adiante seu lado e corra para o Sympla: só há ingressos disponíveis para a sessão do próximo sábado (16). O resto, esgotou. Koanza não é mole, não.