A música passou a ser usada como terapia após a Segunda Guerra Mundial, segundo historiadores, quando os músicos começaram a tocar em hospitais de diversos países da Europa e também nos Estados Unidos. Em Salvador, do outro lado do hemisfério e mais de meio século depois, não é diferente. Tanto que ontem foi a vez da equipe de saúde que trabalha na linha de frente da covid-19 do Hospital Espanhol seguir o dia com mais leveza após a apresentação do Coral da Polícia Militar da Bahia (PMBA).
Hoje, já é comum que as instituições usem a musicoterapia não só para pacientes, mas também para os profissionais. O Hospital Espanhol realiza todo mês ações que possam levar entretenimento e um pouco de alegria aos pacientes e colaboradores. O coral foi pensado especialmente como uma forma de homenagem ao Dia dos Pais, com músicas que falam de amor e que levam autoestima para os ouvintes. É o que explicou o tenente da PM Josué da Paz, de 58 anos, que foi o maestro da apresentação.
“Nós temos o coral há 15 anos, que foi de onde saiu o projeto de coro terapêutico. Todos nós do coral fizemos uma pós-graduação em musicoterapia e levamos apresentações, representando a Polícia Militar, para hospitais, asilos e orfanatos. Cantamos músicas que falam de amor, de vencer, que levam autoestima, entretenimento e espiritualidade para as pessoas”, disse o tenente.
O coral foi acompanhado pela melodia do piano comandado pelo tenente Josué. A apresentação durou cerca de uma hora com canções clássicas, como Primavera de Tim Maia, e a junção de várias músicas de Luiz Gonzaga, que fizeram com que todos os colaboradores cantassem juntos e também acompanhassem o ritmo com palmas. O supervisor financeiro Atila Fernandes Costa, 38, foi um dos funcionários que aproveitou o momento e deixou o som fazer seu papel de acalmar, divertir e acolher.
“Ter o carinho do coro da PM faz com que a gente se sinta mais confortável. Temos uma rotina desgastante, estamos aqui para trazer assistência aos nossos pacientes e a música traz uma paz de espírito tão grande, faz com que a gente se sinta mais leve no dia a dia”, afirmou.
Para a enfermeira Claudiana Pereira, 42, que é gerente assistencial do hospital, qualquer ação de humanização dos profissionais de saúde é extremamente importante. “No decorrer desses mais de dois anos trabalhando na linha de frente contra a covid, as pessoas só lembram da gente como trabalhadores que estão tentando recuperar a vida de doentes, mas somos pessoas comuns, temos nossas famílias, passamos pelos mesmos problemas da pandemia, também perdemos pessoas e sofremos do mesmo jeito. Então, a partir do momento que temos uma ação que acolhe colaboradores, para mim é extraordinário, humano, divino”.
Infectologista e diretor médico da instituição, Roberto Badaró, 70, ressaltou a importância da musicoterapia no período de pandemia. “As pessoas foram segregadas de suas famílias, perderam muito da afetividade e do carinho. Quando o paciente está internado, é importante que a gente ofereça algo que possa amenizar esse sofrimento e nós temos um coral aqui que visita os doentes e canta para eles”, contou o médico.
Nos primeiros dois anos da pandemia, principalmente em 2020, a musicoterapia levou um resultado muito positivo para a recuperação dos pacientes, diminuindo o estresse, a ansiedade, o medo e a tristeza. Quem detalhou essa experiência foi o musicoterapeuta do Hospital Espanhol, Marcos Barbosa, 45.
“Eu vou de leito a leito, faço uma pesquisa sobre a situação do paciente e sobre o seu histórico musical, vendo, assim, a melhor forma de atuar. A música tem um histórico na nossa vida desde a infância, desde a barriga da nossa mãe, ela transcende toda nossa vida. Os nossos colaboradores também participam e relatam que a terapia traz tranquilidade. Hoje não poderia ter sido diferente”, relatou Barbosa.
O musicoterapeuta também é pai e como o coral da PM realizou uma apresentação elaborada especialmente para eles. Barbosa não escondeu sua gratidão. “Como pai me sinto muito abraçado por essa ação, ser presenteado já é bom, ser presenteado com música é melhor ainda. Hoje, nós mudamos daquele lugar de atendimento às pessoas e passamos a ser atendidos”, concluiu o profissional.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro