A saga Game of Thrones, inspirada nos livros de George R.R. Martin sobre a disputa do trono numa sociedade medieval, não se transformou em fenômeno da cultura pop à toa. Teve 9,3 milhões de espectadores na noite de seu capítulo final, só nos Estados Unidos. Encerrada em 2019, alcançou a marca histórica de 59 prêmios Emmy recebidos em suas oito temporadas.
Isso sem contar com as inúmeras citações em filmes e outras séries, a reprodução de frases como “Você não sabe de nada, Jon Snow” e “A noite é escura e cheia de horrores” em diálogos corriqueiros, e as reações virais nas redes a episódios muito marcantes, como o massacre do Casamento Vermelho.
Veja o trailer de A Casa do Dragão:
Não será, portanto, uma jornada fácil para o spin-off A Casa do Dragão, nova série da HBO, que estreia neste domingo, criada também sob inspiração no material de Martin. Dessa vez, a trama se reduz em escala para focar no emaranhado de relações entre a família Targaryen, quase 200 anos antes da chegada de Danaerys ao Trono de Ferro.
Quer dizer, se reduz em escala apenas no quesito geográfico. Porque a ambição dramatúrgica, os cenários impecáveis, os efeitos especiais deslumbrantes (os dragões coloridos dão um show) e as manobras políticas estão presentes nesta primeira temporada. O texto é irregular, mas o saldo geral é bom – pelo menos, nos seis primeiros episódios (do total de dez) aos quais tivemos acesso.
O príncipe Damon tem o desequilíbrio emocional dos Targaryen (divulgação) |
A história começa quando o justo rei Viserys (Paddy Considine) declara a filha, a feminista Rhaenyra (Milly Alcook/Emma D’Arcy) como herdeira da coroa, deixando de lado o irmão dele, o cruel Damon (Matt Smith). À essa altura, o rei era recém-viúvo e sem herdeiros homens. A complicação surge quando Viserys se casa novamente com a ambiciosa Alicent Hightower (Olivia Cooke), até então melhor amiga de Rhaenyra. Com a nova rainha, ele gera dois meninos. Estabelecido, portanto, o jogo dos tronos no reino forjado para machos.
Duas observações, porém, são importantes. Ainda que a intriga principal neste início de temporada se fundamente na ação de Damon, Rhaenyra e Alicent, há um excesso de personagens, de casas nobres, que confunde o público. Outra coisa: os protagonistas, com exceção de Viserys e Alicent, ainda não têm um desenho definitivo de suas personalidades.
A nova série da HBO narra a história da família da rainha Danaerys (divulgação) |
Mas, quem, como a atriz Eve Best (princesa Rhaenys) nunca viu nada de GoT, não precisa correr para maratonar as oito temporadas na plataforma HBO Max. A Casa do Dragão funciona bem de forma independente, de maneira geral. O que está em jogo ainda é o poder e a falta de limites para obtê-lo que delineia toda a obra literária (ainda inacabada) de Martin.
Há uma ambientação mais íntima, e com razão de ser, neste recorte temporal. Ainda é uma trama épica, mas com bastante ênfase nas relações interpessoais da família de cabelos platinados.