Às 6h da manhã, desta sexta-feira (2), Maria Iris, 50 anos, viu a parede da sua casa, na Rua Fazendinha, no bairro Phoc I, em Camaçari, cair em cima dos eletrodomésticos. Assustada, ela saiu às pressas para alertar os vizinhos sobre a situação. Do lado de fora, todos perceberam que um deslizamento de terra havia derrubado parte da residência da moradora e estava abalando a estrutura de outras ao lado.
“Eu só ouvi aquele pipoco de manhã e quando levantei já estava tudo no chão. A parede da cozinha veio toda. Até o meu cachorro ficou preso. Eu saí desesperada e liguei para a Defesa Civil. Eu só não estou morta neste momento porque a minha casa tinha estrutura para laje”, revela Maria Iris.
Maria Iris foi a primeira a ter a casa atingida pelo deslizamento (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) |
A Defesa Civil de Camaçari chegou ao local duas horas após o chamado dos moradores. De acordo com o coordenador do órgão, Ivanaldo Soares, o incidente foi provocado pela queda de um talude – terreno inclinado que limita um aterro e tem como função garantir a estabilidade do mesmo.
“Aqui tem chovido todos os dias. O talude recebeu muita água, encharcou e deslizou em cima da cozinha da casa. No local, constatamos que outros três imóveis próximos também haviam colapsado e tinham um risco grande de desabar, por isso, optamos por demoli-los” explica o coordenador da Defesa Civil.
Ao todo, três imóveis já foram demolidos e um está previsto para ser derrubado na próxima segunda-feira (5). As famílias que moravam nas residências estão recebendo auxílio aluguel. Todas já estão realocadas e ninguém ficou ferido.
Três casas foram demolidas na Rua Fazendinha e uma ainda será demolida (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) |
Nos últimos três meses, 160 imóveis foram demolidos em Camaçari, devido a enchentes e deslizamentos de terra. Os dados são da Defesa Civil.
Local de risco
Há seis meses uma casa já havia sido demolida no Phoc I após apresentar rachaduras. De acordo com Ivanaldo Soares, a área consiste em um pequeno barranco com residências no topo e embaixo. As casas demolidas hoje ficavam na parte inferior, lado a lado umas das outras.
Diante da situação, a preocupação dos moradores agora é com a reconstrução das moradias. A dona de casa Daniela da Conceição, 30 anos, foi uma das prejudicadas e afirma não ter condição de arcar com os custos da obra. Ela vive com os cinco filhos e o marido.
Daniela está morando em uma casa alugada com o auxilio aluguel fornecido pela prefeitura (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) |
“Graças a Deus a vizinha tinha essa casa alugando e pegamos. Agora é tentar seguir em frente. Mas já sabemos que não poderemos viver de auxílio aluguel para sempre. O terreno da minha casa está lá, mas não temos condições de reconstruir do zero”, afirma afirma a moradora.
Maria Iris vive um dilema parecido. Ela já havia deixado a casa que morava uma vez, também por risco de deslizamento do talude. Na época, a Defesa Civil construiu uma contenção para evitar o problema e a moradora voltou para o imóvel, no entanto, seis meses depois, o pior aconteceu. Agora, ela teme não receber uma nova construção.
“Passei três meses fora pagando o aluguel, porque na época me disseram que eu não tinha direito. Hoje falaram que eu não teria direito a casa porque eu recebi uma indenização na época. Só que eles derrubaram a minha casa e me colocaram no auxílio aluguel”, conta Maria.
A Defesa Civil informou que será feita uma contenção no local e que os imóveis serão reconstruídos.
A reportagem entrou em contato com a terceira moradora que teve a casa demolida, mas ela preferiu não dar entrevista. O quarto morador não foi localizado.
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela