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Tim Maia 80 anos: soulman aloprou durante show na Bahia em 1993; relembre

Parecia tudo fora do lugar naquela noite de 26 de junho de 1993: pra começar, Tim Maia tinha baixado em Salvador para ser a principal atração de uma festa, olha “que beleza”, de São João! Em seu show, claro, nem sinal de forró, assim como na apresentação anterior, do Ilê Aiyê. Mais provas de que era uma noite estranha com situações esquisitas foi a aparição de dois famosos atores de novela, que subiram no palco para recitar poema e falar um monte de groselha ao ponto do próprio Tim, que tava bebaço, voltar ao prumo admirado com a maluquice de um deles.

Quem é eu deixo pra contar no final, porque primeiro tenho que lembrar como o cantor, que completaria 80 anos na próxima quarta-feira (28), se excedeu no Parque de Exposições numa longa e caótica apresentação, na qual não conseguiu concluir uma canção sequer. Também como de costume, Tim reclamou o tempo todo do som, provocou quem tava quieto, fez piadas inconvenientes e sexistas, criticou a organização, o policiamento… Sobrou até para quem não tava.

“Olha o retorno, meu filho! Deixa a voz como tá, não mexe! Qual é a desse cara? Tá pensando que eu sou Luiz Caldas? (…) Bota mais eco, põe mais agudo. Tá pensando que eu sou Caetano? Esse cara quer me sacanear”, foram alguns dos comentários no show, que durou quase três horas, conforme relato do repórter Luiz Lasserre.

O título e a linha de apoio da matéria são um preâmbulo bem delimitado da performance: ‘Tim Maia confirma que vale tudo em seus shows’ e ‘Sem cantar uma música na íntegra, o aloprado soulman atiça o público com doidices’.

Renascer
O primeiro desvario geral era uma interrogação específica: será que ele vem? O texto descreve o clima na plateia. “Todo mundo esperava Tim Maia, que durante a semana reforçara a imagem de maldito, ao deixar Faustão e a Globo esperando em vão sua aparição dominical na telinha. ‘Ele vem. Me disseram que já está na cidade’, de em boca corriam as notícias. ‘Ih, tão dizendo que ele chegou, mas está bêbado no ônibus sem querer tocar’, soavam os boatos, só desfeitos quando o vozeirão atacou de ‘Vale tudo’, coisa que todo mundo já sabia, só não tinha ideia que o refrão seguinte seria berrado em tom profético: ‘Cheguei, quero ficar bem à vontade’. E mais ‘à vontade’ impossível”.

Dias antes, em 20 de junho, o Domingão do Faustão tinha anunciado Tim como a atração principal do programa, mas o homem não deu as caras. O apresentador mostrou que quem sabe faz ao vivo, contornou a situação, mas dias depois, o então chefão da emissora, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni), publicou memorando proibindo a participação do cantor em outros programas da emissora.

Ao saber da retaliação, Tim atacou Boni e a Globo, disse que não precisava da emissora nem de ninguém para nada, e que não tinha contrato com o grupo. Ainda justificou que não foi porque estava muito cansado após uma apresentação no dia anterior. Não baixou a cabeça, e a retaliação se estendeu: a música ‘Essa tal felicidade’, interpretada pelo artista e que era um dos temas da novela ‘Renascer’, foi tirada do ar, e a relação entre Tim e Globo era estremecida por anos.

Pentelhando
Bêbado e ficando cada vez mais durante o show, Tim Maia passou dos limites em vários momentos. “Teve de tudo. Do momento em que a poderosa banda Vitória Régia (com alguns músicos improvisados) atacou os acordes de ‘Vale tudo’ e ‘Descobridor dos sete mares’ – por volta de uma hora da madrugada – até a repetição dos dois hits, 2h40 minutos depois, o tal Palco Azul do Arraiá amarelou, corou, ficou roxo de adrenalina”, cita a reportagem. 

“Era o velho Tim, mesmo. Só que o mesmo motivo que seria o bastante para fazê-lo abandonar o palco, o fez remanchar em cada música, que durava dezenas de minutos. A interpretação era sempre segurada pelo backing vocal. Tim cantava partes, reclamava horas, contava piada, cantava gatinhas, curtia com os homens: ‘Esse cara tá careca e não sabe. Ó pra ali. Esse segurança cheirou? Só fica mastigando…’”, descreve o repórter. A turma da sonorização, claro, era o alvo preferencial: um operador foi chamado de alce e os demais de cornos.

Mas os fãs, em geral, foram poupados, afinal, Tim “estava louco de amores pelo público” baiano. “Brigou com seguranças e com a PM. Fez média. Em um momento se dirigiu a uma desmilinguida dançarina privilegiada por estar no palco com credencial. ‘Pô, ela é gostosa pra caramba. Mas não é só você não, viu, gatinha? Aí embaixo está cheio de princesinhas lindas’. A galera vai à loucura”.

Entre as brincadeiras com mulheres, ainda teve a hora que uma jovem subiu no palco e o abraçou, chorando. Tim perguntou o nome da moça, depois a mandou para trás do palco, e falou com cara de sacana: “Ela é amarrada em mim. Tenho culpa se a menina tem problema de visão?” O público também riu.

Ainda aplaudiu quando ele se rebelou contra a grade de segurança que mantinha a galera afastada do palco: “Isso é segura-boi, tem que tirar isso, qual é a da produção?” Nessa hora, um fã incitado tentou pular a barreira, e foi pego pelos seguranças e pela PM. “Solta este cara. Por que estão levando ele? Porque queria pular? Pois tragam ele, que depois do show vamos tomar um uísque no camarim”. E aí o cara e a namorada subiram e ficaram ao lado da banda, fazendo coreografias. 

“O público vai novamente à loucura e já não há nenhum ‘segura-boi’. É neste momento em que todos se aproximam dele, já sentados na beira do palco, que Tim Maia está mais bêbado e feliz. Desconfiado, toca nas mãos das pessoas, mesmo morrendo de medo de ter seu corpo mastodôntico puxado para baixo. ‘Aperta minha mão, mas não puxa’, repetia assustado. Depois confessa: ‘Eu morro de medo de avião, mas tomei uma gorobas e vim pra aqui e está o máximo’”, relata o texto.

Vamp
E se a relação com a Globo estava estremecida, com os funcionários da emissora a história era outra. “A explosiva dupla Guilherme Leme e Vera Holtz adentrou o palco. Primeiro ela, chamada por Tim Maia: ‘Venha Vera, anuncia a sua peça. Esta é a Vera Vamp, poxa, como você tá gostosa?’, gritou o gordo para mudar de adjetivo depois que La Holtz e Guilherme Leme entraram trôpegos para ler um poema feito por ele para o Tim. Depois da leitura tipo ‘Tim Maia, além de Tim, você é massa (sic)’, o homenageado retribui: ‘Pô Vera, você é doidona, hein, não sabia que você era tão doidona…’”, espantou-se o artista em seu teatro dos vampiros particular, no qual o que era demais nunca era o bastante.

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