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Maioria dos jogadores da Seleção Brasileira não deve votar em 2 de outubro

Neste domingo (2/10), 156 milhões de eleitores têm o direito de ir às urnas escolher o próximo presidente do país, além de governadores, deputados e senadores. Na Seleção Brasileira – que faz nesta terça-feira (27) seu último amistoso antes da Copa do Mundo –, porém, a eleição parece não existir.

Jogadores e comissão técnica evitam manifestações públicas de cunho político. Mesmo em ambiente privado, é raro alguém tocar no tema. A situação eleitoral entre os jogadores da Seleção repercute isso: a maioria não deve ir às urnas em 2 de outubro.

O portal Uol apurou que, dos 26 convocados por Tite para a data Fifa atual, 21 têm títulos em domicílios fora da cidade onde vivem ou estão com o documento cancelado. O número equivale a 80% dos atletas.
Não há uma orientação oficial da CBF aos jogadores quando o assunto é política, mas os próprios atletas criaram uma espécie de pacto silencioso. A ideia é criar uma bolha para evitar possíveis divergências na reta final de preparação para o Mundial do Qatar. O torneio começa em 20 de novembro; o Brasil estreia no dia 24, contra a Sérvia.
O atacante Raphinha, disse, durante a semana de treinamentos em Le Havre, antes da vitória por 3 a 0 sobre Gana, que, “assim como religião, no assunto política cada um tem a sua opinião”. “A gente opta por não falar desses assuntos para não ter opiniões diferentes. Por mais que um respeite a opinião do outro, religião e política são assuntos que não têm que ser debatidos”, disse.
O lateral Alex Telles vai na mesma direção. “Comigo, pelo menos, não teve nenhum assunto de política. Obviamente é um assunto importante, mas o nosso assunto principal aqui é a Copa do Mundo. A gente tem que deixar isso [política] de fora e focar no nosso trabalho, porque a Copa está aí, e todo mundo quer estar lá”.
Antes da viagem para os amistosos contra Gana e Tunísia, o atacante Richarlison deu uma declaração que foi criticada por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. “Hoje em dia o pessoal leva muito para o lado político. Isso faz a gente perder a identidade da camisa amarela e da bandeira”, disse.
Esse comportamento dos jogadores, de isolar a discussão eleitoral do contexto da Seleção, reflete o desejo de parte significativa da população.
Estudo exclusivo do Uol com o Instituto Mind Miners indicou que ao menos 50% dos brasileiros concordam que futebol e política não se misturam. A pesquisa on-line foi feita com 1.800 pessoas, homens e mulheres das classes A, B e C, de todas as regiões do país.

“A gente não conversa diretamente sobre isso e a gente nem quer que a seleção seja relacionada a política. O povo brasileiro sempre foi unido com a seleção, e a gente espera que continue do nosso lado, para que a gente possa dar alegrias aos brasileiros”, disse o meia Lucas Paquetá, ao ser perguntado pela reportagem.

Jogadores não devem votar

Independentemente da preferência política de cada um, o cenário dos registros eleitorais dos jogadores indica que a maioria da seleção atual não é engajada no período de votação. Só cinco dos 26 jogadores convocados têm título nas cidades em que jogam atualmente, segundo levantamento exclusivo do Uol.

Apenas três jogadores entre os que atuam no exterior votam na mesma cidade em que vivem: o zagueiro Marquinhos tem a situação eleitoral regular e local de votação em Paris.

Os atacantes Vini Jr. e Rodrygo também poderão ir às urnas, pois votam em Madri. Pedro e Everton Ribeiro, representantes do Flamengo na Seleção, estão com título no Rio.

Os demais teriam de se deslocar para outra cidade, ou outro país, para exercerem o direito ao voto.

Quatro jogadores estão com títulos cancelados. Isso acontece quando deixam de votar em três turnos seguidos, sem justificativa e a regularização posterior junto à Justiça Eleitoral não acontece.

Um jogador não teve título eleitoral encontrado – esse dado é público, mediante cruzamento do nome completo com a data de nascimento.

Segundo o governo federal, os eleitores que votam no Brasil não podem votar em trânsito no exterior. Esse cenário afeta diretamente 12 jogadores, que estão com título ligado a domicílio eleitoral em solo brasileiro.

Tite descarta ida a Brasília

Durante a Copa do Mundo, a presidência da República ainda será ocupada por Jair Bolsonaro. Independentemente do cenário político futuro, Tite já avisou para pessoas próximas e dirigentes da CBF a decisão de que não participará de encontros com o presidente em Brasília antes ou depois do Mundial.

Se algum jogador ou dirigente quiser fazê-lo, que o faça por decisão própria e consciente de que não é algo desejável. A posição vale, segundo ele, mesmo se o Brasil for campeão, o que desobedeceria a uma tradição dos cinco títulos conquistados pelo Brasil, em 1958, 62, 70, 94 e 2002.

O treinador também não quis se encontrar com o ex-presidente Michel Temer antes da Copa de 2018, na Rússia, e não visitaria Brasília em caso de hexacampeonato. Isto, para ele, é inegociável, porque considera o atual contexto político dividido e não quer o uso político da seleção ou o desgaste da imagem do time para uma parcela da população.

Há menos de um ano, Tite dizia que seu voto não seria nem em Bolsonaro, nem em Lula. Ele se define como “humanista, não comunista” no contexto das alegações de que é apoiador do ex-presidente Lula. Segundo soube o UOL, procurava uma terceira via para votar nas eleições. Ultimamente, tem evitado o assunto até nas rodas mais próximas.

Esse distanciamento de Tite do discurso político vem de boatos de que ele seria de esquerda. Isso provém de uma série de imagens de 2012 que mostra o técnico ao lado do ex-presidente Lula. Três semanas depois do título da Libertadores, uma comitiva do Corinthians visitou a sede do Instituto Lula para que ele visse a taça e fosse presenteado com uma réplica.

Dez anos depois do episódio, Tite diz que se arrepende de ter posado e não faria de novo. Mas reforça: Lula já não era presidente na época da visita.

As imagens viralizaram durante o imbróglio da realização da Copa América de 2021, quando apoiadores de Jair Bolsonaro entenderam que a postura crítica da seleção tinha a ver com o técnico ser supostamente “comunista”. Fizeram parte do argumento do vice-presidente Hamilton Mourão e do senador Flávio Bolsonaro.

Na mesma época, grupos bolsonaristas difundiram uma suposta foto de Tite prestando homenagem ao túmulo de Fidel Castro em Cuba. Houve milhares de interações nas redes sociais, mas essa visita nunca aconteceu: a foto é do presidente cubano Miguel Díaz-Canel, cuja semelhança com Tite não passa do cabelo grisalho.
Rogério Caboclo, presidente da CBF no período que antecedeu a Copa América, disse que Bolsonaro não chegou a pedir a demissão de Tite do cargo e classificou o chefe do Executivo como “respeitoso” em relação ao assunto. “Nunca tentou influenciar nada”, resumiu.

O episódio público mais recente relacionado à política que gerou desconforto no núcleo da Seleção envolveu Matheus Bachi, filho de Tite e um dos assistentes técnicos. Matheus curtiu postagens de páginas ligadas à extrema direita com teor machista e, alguns, transfóbicos.

Em outubro do ano passado, a CBF se posicionou dizendo que “tomou conhecimento dos fatos e conversou diretamente com o funcionário citado, que reconheceu seu erro ao curtir o post, pois não compartilha de tal opinião”.
A situação gerou uma reunião interna também com os demais membros da diretoria de seleções. A orientação foi para que não fizessem manifestações políticas nas redes e tomassem cuidado com interações com páginas, de qualquer espectro político.
Depois do episódio, Matheus descurtiu as postagens e deixou de seguir as páginas em questão. Na convocação seguinte ao caso, Tite falou de forma mais genérica sobre o assunto: “Colocaste e não trouxeste para mim na medida que sou pai do Matheus. Todo preconceito… E me foi perguntado em termos raciais um tempo atrás em relação os técnicos negros. Todo preconceito não deve existir, estamos num processo de igualdade na sociedade, seja de cor, raça ou sexo”.
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