Apesar de ter sido originalmente escrito em finais da década de 80, quando as fanfics ainda não eram comuns, e nunca ter sido publicado, “O Sequestro da Rosa” é lançado agora pela estreante Editora Aiê.
O inusitado na obra é que ela é escrita e ilustrada por dois primos que têm o mesmo nome: José Amarante (Santos Sobrinho) e José Amarante (Santos Neto), um é neto do tio do outro. Ambos são fãs assumidos da história do Príncipe com a Rosa e também gostam de histórias.
As aquarelas dessa primeira edição também estarão presentes através de uma exposição das pinturas, no mesmo local. O evento acontece justamente na abertura do mês da criança, dia 01 de outubro, das 17h às 19h30, no Palacete das Artes.
As fanfics, cada vez mais comuns, são histórias de ficção que se originam a partir de outras existentes. Pois bem, quem leu O Pequeno Príncipe talvez vá reconhecer no livro a Rosa que vivia com ele em seu pequeno planeta.
Dessa vez, pois, ela – sempre tão vaidosa – ressurge na Terra, num jardim em que um jardineiro, alérgico a perfumes, não gosta de rosas, mas de margaridas. E a Rosa, agora, vai ter que lidar com a nova situação: não ser mais a única no mundo, como imaginava ser naquele planetinha perdido. Não será fácil para ela, principalmente porque a história ainda envolve o seu sequestro.
E se alguém perguntar o que faria a imagem de um sequestro num livro infantojuvenil, o próprio autor responde num verso, quando declara que tudo “é somente um resgate em poesia”, de modo que se configura como uma metáfora para a própria fanfic, quando a Rosa é tomada de uma história pré-existente e renasce, resgatada, em outra história.
Para contar essa história, José Amarante propõe uma brincadeira com três gêneros textuais. Então, primeiramente o livro apresenta uma notícia sob a forma de poema, que anuncia o incomum sequestro acontecido; segue-se um conto, em que Seu Grilo, personagem importante da peça que fecha o livro e bastante envolvida no sequestro, dará seu testemunho sobre o ocorrido; por fim, o livro estampa uma peça teatral infantojuvenil, quando toda a história acontece numa proposta a ser lida, e/ou encenada, com os estudantes em suas escolas ou com grupos de amigos da comunidade.
Ainda do ponto de vista da composição, boa parte das falas da Rosa, na peça teatral, foram tomadas da edição portuguesa de O Pequeno Príncipe, na clássica tradução do poeta Dom Marcos Barbosa, que se publica no Brasil desde 1952.
É, pois, também, uma forma de homenagear aquela tradução que ficou no nosso imaginário de infância. Sem pretensão de didastimos ou moralismos, mas considerando o provável uso do livro em ambiente escolar, o autor tematiza, ao final do volume, um conjunto de questões importantes em nosso tempo, como o dilema das fake news e o capacitismo.
Natural de Ituaçu, o autor do livro recorda que a Congregação Mariana já encenou O Sequestro da Rosa em sua cidade natal.
Além disso, a obra mescla gêneros textuais que podem se converter em objeto de estudo no contexto escolar e discute, inclusive, sobre o texto teatral como um gênero que pode ser apreciado também via leitura e não apenas pela encenação.
Entretanto, o volume estimula a ideia de representação da peça, razão pela qual apresenta, ao final, dicas de encenação para que os estudantes, sob a orientação de algum adulto sensível a projetos criativos de crianças e jovens curiosos, possam encarar o desafio.
A peça foi originalmente escrita quando o autor também era um jovenzinho e quando não se falava tanto em fanfics; ela já foi representada na Amazônia paraense, com alunos da Fundação Educacional do Jari, por volta dos anos 90; em Salvador, Bahia, no Teatro Jorge Amado, com alunos do Colégio Villa, nos anos 2000; e, também nos anos 2000, na Congregação Mariana, em Ituaçu-Bahia, cidade dos dois Josés, o autor e o ilustrador.
Também no sábado, a Aiê lança a segunda edição de “Ainda em flor”, obra do mesmo autor de “O Sequestro da Rosa”, agraciada com o Prêmio Braskem de Literatura de 2006. Entre as edições gratuitas, a editora lança seu primeiro e-book acadêmico “Flexão verbal da língua grega antiga”, da paraibana Alcione Lucena de Albertim, já disponível em seu site.