E aí, vai na farofinha? Não tem esse que vai abrir mão de uma porção bem generosa no prato. Bom, é ela quem passa na frente no Restaurante Casa de Tereza, localizado no Rio Vermelho. Além de chegar antes de qualquer coisa na mesa, é essa mesma farofa que vai ganhar o mundo, despertar paixões no paladar estrangeiro e matar a saudade dos brasileiros que moram fora do país.
A marca baiana Tabuleiro da Chef (@tabuleirodachef) – empresa e loja online de itens e produtos da cozinha prática – vai começar a exportar as farofas artesanais criadas pela chef de cozinha Tereza Paim, que já fazem sucesso no cardápio da casa. “Abri meu primeiro restaurante já com duas farofas na mesa. Então, a primeira coisa que o cliente recebia era farofa e até hoje é assim. Eles pediam para comprar e começamos a vender. Depois criei uma farofa para o casamento de minha filha e muita gente se interessou. E assim veio a decisão de produzir a linha, por um pedido do mercado consumidor”, conta.
O primeiro palete acaba de sair da Bahia com uma carga de 5 mil pacotes de farofa para atravessar o oceano direto para um importador de produtos brasileiros em Miami (EUA), como destaca a chef. Tereza também já negocia com novos compradores no Reino Unido e na América Latina.
“Acho que nosso ponto forte é que é extra-crocante, sabores suaves, feitos com bases naturais, sem conservantes ou aditivos químicos. Inicialmente era apenas a demanda dos restaurantes, hoje já estamos exportando e a farofa contribui com 70% do faturamento da nossa marca”.
Não precisa nem dizer o quanto a farofa tem uma presença mais que cativa em qualquer almoço, festa ou comemoração de família e é tão disputada quanto o prato principal. Ao todo, o Tabuleiro da Chef tem seis farofas à base da mandioca, temperos especiais e com a pitada de segredo da cozinheira, que a gente bem que tentou descobrir, mas ela não revela por nada.
São seis sabores de farofa à base de farinha de mandioca de origem da agricultura familiar (Foto: Marina Silva/ CORREIO) |
As versões disponíveis são a Farofa Baianinha (camarão, amendoim e castanha), Farofa Sertaneja (alho, cebola e licuri), Farofa Duquesa (castanha e amendoim), Farofa Amarelinha (dendê), Farofa Verdinha (castanha e manteiga) e Farofa Branquinha (alho e cebola).
“O segredo como dito ‘é segredo’ (risos). Farofa é uma coisa presente na minha vida, na vida do baiano e do brasileiro, na minha infância e no meu trabalho como um todo. A receita da sertaneja, por exemplo, me inspirei no licuri que é um super alimento, tem tudo a ver com o meu sertão. Sempre acreditei na farofa como um representante da cozinha brasileira e para mostrar a Bahia eu achei que era bom começar por ela”, ressalta.
Curadora dos festivais gastronômicos Tempero no Forte, em Praia do Forte, e Tempero Bahia, em Salvador, Tereza Paim é conhecida como embaixadora da gastronomia baiana. Além do Tabuleiro da Chef e do Restaurante Casa de Tereza, que acaba de completar uma década, ela comanda o Boteco da Tetê, inaugurado em maio desse ano e mais as unidades do Mesa de Tereza, nos aeroportos de Salvador e Fortaleza.
“Temos uma comida deliciosa e que conecta com a história e religiosidade de nosso povo. Isso é um grande valor agregado. Entregamos uma Bahia alegre, elegante e deliciosa a quem nos visita. Isso tem gerado outros negócios e muitas propostas de novos empreendimentos”.
Made in Bahia
A farinha de mandioca usada na receita da farofa tem origem nos sistemas locais de agricultura familiar na Serra da Copioba, no Recôncavo baiano, e toda a produção vem de energia limpa gerada pela Usina Maria Tereza, parque solar, localizado no município de Ibotirama.
“Faz parte do jogo ajudar o planeta e por isso somos sustentáveis. Nossa farofa é artesanal, pois ela nasce de um processo orgânico e o modo de produção até sua finalização sem outras interferências, o que justifica o nosso estilo artesanal. Um processo com nosso DNA”.
Ainda de acordo com a chef, o mercado da farofa está só começando, sobretudo, em um mercado que valoriza a cozinha prática e afetiva. O pacote da farofa gourmet custa R$ 19 nos pontos de venda. A marca já está nas principais redes de supermercados e delicatessens da Bahia e em mais 11 estados do país, entre eles São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Amapá, Pernambuco, Alagoas, Sergipe.
“Acredito que cada vez mais as pessoas vão ver a farofa gourmet como um acompanhamento além de saboroso, também elegante. O tabuleiro é 100% Mercado da Saudade. Ele produz itens que afagam a alma dos baianos e dos que passam por aqui e ficam com saudade de nossas comidas. Temos um feedback direto desta saudade, através de mensagens dos clientes e muito mais. Memória e referência são imprescindíveis e criam esta saudade afetiva”, comenta.
A consultora especializada em varejo e ceo da AGR Consultores, Ana Paula Tozzi, concorda que há muito espaço para expandir no Mercado da Saudade. “Mercado da Saudade é um termo usado para nomear o comércio especializado em produtos típicos de uma nação para as comunidades de um país que vivem fora do país. A partir da crise de 2014, a imigração de brasileiros bateu recorde ao ponto dos historiadores chamarem o período de maior ‘diáspora da história’. Assim, o desafio é enxergar as oportunidades nessa saudade e investir na memória”.
E a culinária brasileira tem, cada vez mais, agregado valor e significado a esses produtos, como complementa a especialista: “A culinária brasileira é reconhecida pela variedade de cores, texturas e sabores. Apesar de ainda sermos mundialmente conhecidos pela feijoada, churrasco e caipirinha, o nosso país pode ser considerado como uma das cozinhas mais ricamente diversificadas no mundo. Nos últimos anos, nossos restaurantes e chefs vêm conquistando espaço importante nos mercados internacionais”.