InícioEditorialFesta de 15 anos do Neojiba teve valsa, exposição e concertos

Festa de 15 anos do Neojiba teve valsa, exposição e concertos

O flautista Lucas Caetano tem 25 anos de idade e já passou mais da metade de sua vida no Neojiba, programa social que, a partir da música de orquestra, promove a inclusão e a integração social. Lucas entrou no Neojiba quando o programa foi fundado, em 2007, quando tinha dez anos de idade.

Cresceu ali, amadureceu, fez faculdade de música e agora está concluindo o mestrado também em música. E mais: foi ali que conheceu a noiva, Mariana Herwans, 24, que toca oboé e foi surpreendida no mês passado ao ser pedida em casamento durante uma turnê que o Neojiba realizou pela Europa. O pedido foi com o glamour que poucos casais tem: em pleno palco da Concertgebouw de Amsterdã, uma das melhores casas de concerto do mundo, após uma apresentação.

Lucas e Mariana ficaram noivos numa apresentação do Neojiba

Neste domingo (23), Lucas e Mariana estavam juntos novamente para tocar com os colegas da Orquestra Dois de Julho, no Parque do Queimados, onde fica a sede do Neojiba. Estavam ali para celebrar os 15 anos do projeto, que hoje tem mais de 2,3 mil alunos que estudam música erudita gratuitamente em sete municípios baianos.

O clima foi de festa no sábado e domingo, com uma programação especial. Se por um lado, se apresentavam veteranos como Lucas, que hoje é professor de flauta, tinha também crianças iniciantes, de até sete anos de idade no palco. Ruan Reis, violinista de 11 anos, faz parte da OCI – Orquestra de Cordas Infantis, que se apresentou às 15h. 

Jucilei, mãe de Ruan, é que incentivou o filho a entrar para o Neojiba. Ela se diz impressionada com a transformação do menino:

“A música desenvolve outras habilidades, como o raciocínio lógico e desenvolveu nele um senso crítico apurado. Antes, ele era agitado e hoje é muito mais concentrado. As pessoas se surpreenderam muito com isso”, diz a pedagoga.

Ricardo Castro, fundador do Neojiba, celebra os resultados dos 15 anos de trabalho e fala sobre a importância que turnê pela Europa tem para os jovens do programa: “O mais bonito é você sentir no olhar desses jovens o impacto que é para eles representar lá fora o bairro deles, a essência deles, nos palcos mais cobiçados do planeta para um músico. E dá um orgulho danado você sair de lá já recebendo um monte de convite para voltar, porque isso mostra que o público pede mais daquilo que a gente faz. E o que a gente faz é colocar os jovens no centro da aprendizagem”.

Ruan, violinista, ao lado da mãe

A diversidade do repertório foi uma das marcas da festa: teve o Bolero de Ravel, a Valsa da Bela Adormecida (de Tchaikovsky) o dobrado Dois Corações (do brasileiro Pedro Salgado) e também muita coisa da música popular brasileira, como Águas de Março, de Tom Jobim; Aquarela, sucesso na voz de Toquinho, e Assum Preto, popularizada por Luiz Gonzaga.

A festa teve também exposição sobre a história do Neojiba, a exibição do documentário Volta ao Mundo, Camará – sobre a recente turnê europeia- e a realização de jogos musicais. 

Senso de solidariedade

Lucas Caetano reconhece a importância que o Neojiba tem para sua vida. Ele, que é morador do Caminho das Árvores, na região nobre da cidade, diz que o projeto lhe permitiu conviver com pessoas de classes sociais diversas e de bairros periféricos.

“Isso me tornou uma pessoa muito mais sensível com os outros. No meu mestrado, por exemplo, resolvi traduzir traduzir do inglês para o português um livro sobre flauta. Porque o original tinha um preço inacessível para muita gente e quero que a música esteja ao alcance de todos”, revela Lucas.

A oboísta Mariana é da Ribeira e está no Neojiba desde 2012. Ela jamais tinha tocado um instrumento quando entrou no programa, ao contrário do noivo, que aprendeu flauta doce na escola ainda criança. “Um dia, o Neojiba foi apresentar os instrumentos aos alunos da minha minha escola, o Sesi. Eu queria tocar o instrumento que tivesse o som mais bonito do mundo. Nunca tinha ouvido o oboé e fiquei impressionada ao ouvir. Decidi ali, na hora, que seria esse meu instrumento. E é o mais difícil de tocar”, diz ela, toda orgulhosa.

Ricardo Castro não escondeu a felicidade de, pela primeira vez, realizar uma grande festa de aniversário do Neojiba na sede do Parque de Queimados, inaugurado em 2019. “Sempre fazíamos na Cocha e no TCA. Mas este é o início da implantação de uma sede, um programa como o nosso precisa da melhor infraestrutura. Já é a melhor infraestrutura para música no Norte/Nordeste, sem dúvida. Mas ainda é pouco para a quantidade de pessoas. MInha próxima batalha é construir uma sala para esses músicos e suas famílias em ótimas condições”.
 

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