Deputados que integram o grupo de oposição na Bahia cobraram do governo do estado respostas sobre a execução do subtenente Alves, que colaborava com a segurança do candidato a governador ACM Neto (União Brasil), após as imagens do caso divulgadas nesta sexta-feira (28) pela TV Bahia. Os vídeos divulgados comprovam que de fato o profissional foi executado durante uma operação desastrosa da Polícia Militar e desmentem a afirmação do governador Rui Costa (PT) de houve troca de tiros.
O deputado federal Paulo Azi (União Brasil) afirmou que há indícios de crime político. “São muito graves as imagens que mostram a execução do subtenente Alves, que colaborava com a equipe de segurança de ACM Neto. O vídeo, divulgado ontem pela TV Bahia, desmente a declaração do governador Rui Costa de que houve troca de tiros. As imagens são muito claras e exigem uma resposta do governo”, ressaltou.
“O governo precisa explicar por que estava monitorando os profissionais que colaboram com a segurança de Neto e por que eles foram colocados no sistema de acompanhamento como traficantes. Esse caso é escandaloso e exige uma apuração aprofundada, porque há indícios de crime político”, acrescentou o parlamentar, que é presidente estadual do União Brasil.
O deputado estadual Soldado Prisco (União Brasil) questionou quem determinou a operação que terminou na morte do subtenente e deixou ferido outro policial que colaborava com a segurança de ACM Neto. O sargento D’Almeida foi atingido por disparos, mas sobreviveu e relatou o caso, negando a versão apresentada pelo governo de confronto.
“O comandante-geral da PM (coronel Paulo Coutinho) e o governador do estado mentiram vergonhosamente. Não houve confronto, os vídeos estão aí e provam. O povo da Bahia quer saber: quem ceifou a vida de um irmão? E poderia ter ceifado a vida dos quatro. Quem determinou aquela operação? Vejam que absurdo essa Bahia. Esse governador tem que pagar por aquele sangue que foi derramado”, salientou.
Já o deputado Tiago Correia (PSDB) defendeu uma apuração aprofundada e isonômica. “Eu não quero acreditar que trata-se de um crime eleitoral cometido pelo governo do Estado. É preciso uma investigação isonômica, séria e célere da Polícia Federal. Não vejo razoabilidade de a investigação ser tocada pelo próprio governo da Bahia. As imagens mostram claramente uma execução que vitimou o subtenente Alberto Alves, que fazia a segurança do candidato ACM Neto”, frisou.
Para ele, há diversos questionamentos que precisam ser respondidos. “Por qual motivo estavam rastreando os veículos alugados pela campanha de ACM Neto e as equipes do candidato antes da execução do subtenente Alves? De onde partiu o comando para atirar para matar? Por qual motivo o comandante-geral da PM e o governador mentiram ao afirmar que houve troca de tiros na ação? Todas essas perguntas precisam de respostas”, destacou.
Imagens
As imagens divulgadas pela TV Bahia mostram que Alves estava desarmado, vestindo apenas uma cueca e foi rendido, sem qualquer reação, por pelo menos quatro policiais fortemente armados que arrombaram a porta do quarto em que ele estava dormindo. O segurança estava agachado junto à porta quando foi alvejado pelos tiros e desfaleceu de imediato. Seu corpo foi carregado em seguida pelos agentes para um camburão. Ele estava hospedado em uma pousada em Itajuípe, no Sul do estado.
O caso ocorreu na madrugada do dia 27 de setembro. O registro mostra também que outro policial que colaborava com a segurança do candidato, o sargento Adeilton Rodrigues D’Almeida, foi fuzilado por dois policiais diferentes e ficou 31 minutos sem receber socorro. Ferido, conseguiu se arrastar até a entrada do cômodo onde estava hospedado na pousada.
D’Almeida, posteriormente, foi internado no Hospital Base de Itabuna e sobreviveu. Em seu depoimento à investigação, o sargento relatou que ele, Alves e outros dois profissionais que colaboravam com a campanha do candidato do União Brasil estavam dormindo na Pousada Itajuípe quando foram surpreendidos por policiais arrombando os quartos, o que pode ser comprovado pelas imagens das câmeras de segurança.
As imagens ainda mostram que dois dos policiais que participavam da ação, um homem e uma mulher, foram feridos por tiros disparados por outro agente que atuava na operação, e não pelas vítimas. Outros dois seguranças que colaboravam com a campanha foram rendidos sem qualquer reação.
O caso está sendo investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. A Justiça já determinou a apreensão dos celulares de todos os envolvidos na operação. No entanto, a determinação ainda não foi cumprida pelo governo do estado. Pessoas que acompanham as investigações dizem que o governo só pretende entregar os aparelhos após as eleições, que serão realizadas no próximo domingo (30).
Conversas em grupos de WhatsApp entre os agentes envolvidos na operação revelaram que a equipe de segurança de ACM Neto foi monitorada pela Polícia Militar desde que saíram de Salvador até a chegada a Itajuípe. Os prints das conversas foram anexados a um pedido feito ao Ministério Público e à Polícia Federal pela coligação do candidato, a fim de que o caso fosse investigado a fundo.