Um dos maiores orgulhos eleitorais do brasileiro é a velocidade da apuração, uma das mais rápidas do mundo. Mesmo assim, boa parte dos eleitores não está interessada em contemplar a agilidade, acompanhar os comentaristas e, muito menos, tomar conhecimento dos resultados parciais durante a contagem dos votos.
O principal motivo desse fenômeno é a ansiedade. A competição deste ano – tanto no âmbito nacional quanto no estadual – está tão acirrada que tem muita gente torcendo por duas coisas, com parecido fervor: pela vitória do próprio candidato e pelo fim da contagem dos votos. Isso porque o processo, para os mais estressados, pode ser bem complicado.
“No primeiro turno eu quase tive um ataque cardíaco. Me tranquei no quarto, comecei a xingar tudo e todos. Nem o Vitória me deixa assim, foi uma das piores sensações que já tive”, revela o balconista Moisés Souza, 42. Para evitar o mesmo problema – ou coisa pior – na corrida de hoje, ele tentou apelar para farmacologia.
“Comprei um remedinho para me dopar às 17h e só acordar no dia seguinte, com o resultado definido. O problema é que eu vou trabalhar justo na hora da apuração e terei que ficar acordado. Estou lascado”, lamenta o rubro negro que não vai conseguir fugir da realidade.
Se Moisés tentou acionar um recurso laboratorial, a assistente comercial Natálya Gorsky, 32, tem um fenômeno natural a seu favor. A gaúcha mora em Paris, cidade com um fuso horário quatro horas na frente. Ou seja: por lá, a apuração só começa às 21h e o resultado só deve aparecer depois da meia-noite.
“Até tenho três opções de rolê com outros brasileiros que moram aqui, mas estou refletindo se vou. Estou cogitando aproveitar o horário e entrar em coma induzido para acordar apenas no dia seguinte”, brinca.
Pesa contra Natálya também a naturalidade. Segundo ela, os gaúchos tendem a ficar mais nervosos com esses eventos cívicos. “Meu candidato para presidente iniciou a apuração atrás, me deixando em desespero. Aí eu olhava para o lado e via um amigo meu cearense supertranquilo e confiante na virada. Acho que os nordestinos ficam mais tranquilos, eu não consigo”, lamenta a eleitora de Lula.
Se o lado vermelho sofreu com o início, o problema para os verde e amarelos foi desfecho. “Quando saíram os primeiros números, até fogos eu soltei. Achei que seria igual 2018, quando a vantagem de Bolsonaro se manteve. Mas, conforme o tempo ia passando, o outro se aproximou e virou. Fui dormir péssima. No segundo turno, vou tentar me manter desligada de tudo para saber apenas o resultado quando estiver definido”, conta a dona de casa Maria Tereza, 64.
Lembrando que, em 2018, os primeiros resultados para presidente só foram divulgados ao público às 19h, com a marcha já bem adiantada em alguns estados, por conta do fuso horário do Acre, duas horas atrás do de Brasília. Neste ano, todos os estados terminarão a votação simultaneamente.
A troca de liderança, provocada pela diferença de velocidade na apuração em estados do Nordeste, reduto lulista, e no Sul e Centro-Oeste, com maioria bolsonarista, também atormentou a estudante Renata Benigno, 21. Ela até bolou uma estratégia para escapar das parciais, mas foi vencida. Agora, adotará um novo método.
“Como eu voto no interior, me programei para voltar a Salvador justamente na hora da apuração. Como eu estava na estrada, e sem internet, não teria contato com o mundo exterior. Só que eu comecei a ter uma crise de ansiedade e sempre que chegava em alguma cidade, ia correndo ver como estava o ritmo. Nesse domingo, vou tentar simplesmente dormir e só acordar no dia seguinte. Espero conseguir”, torce a jovem.