Todos os dias cerca de 700 mil pessoas circulam pela Rodoviária do Plano Piloto. O grande fluxo de passantes torna o local mais vulnerável a crimes. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF), em 2022, houve aumento de 17% no número de apreensão de arma branca em todo o DF. Na Rodoviária, esse número chega a 150 facas, canivetes, entre outras objetos perigosos. Contudo, ele não representa nem a metade do total recolhido no local, pois há subnotificação de registros.
O registro de furtos cresceu de forma anda mais assustador neste ano se comparado com o ano passado. Entre janeiro e setembro, a SSP-DF registrou 384 ocorrências, o que representa um aumento de 93% em relação ao mesmo período do ano anterior. Com a maior exposição a riscos, as pessoas que transitam diariamente pelo terminal se sentem inseguras. A vendedora de uma loja de bolsas e mochilas, Cleudinice Lacerda, 50 anos, convive com o medo há 8 anos. “Toda vez que saio de casa tenho que orar, porque trabalhar aqui é tenso”, afirma.
Ela conta que é comum ver pessoas portando armas, como facas, e que os roubos viraram rotina. “Roubo é todo dia e toda a hora, é o que mais tem. Uma vez arrebentaram a porta da loja, quando ela estava fechada e levaram alguns itens”, conta a comerciante.
Para Cleudinice, o que torna a experiência de trabalho ainda mais difícil é a falta de um banheiro seguro e com estrutura. De acordo com ela, o sanitário não tem segurança, por isso, ela evita ao máximo ter de usá-lo. “Quando vou ao banheiro, tenho que deixar o celular e as coisas aqui. Ás vezes chegamos a segurar o xixi”, conta.
No mês passado, dois casos de violência assustaram os frequentadores do maior terminal de passageiros da capital do país. No dia 10 de outubro, um morador de rua e usuário de drogas morreu após entrar em atrito com um adolescente, também em situação de vulnerabilidade social. No dia 25 de outubro, um homem foi esfaqueado após furar fila para embarcar em um ônibus na plataforma A.
Experiência dos frequentadores A profissional autônoma Alorrane Souza, 23 anos, reforça que o roubo de objetos é comum, principalmente nos horários de grande movimentação. Ela mesma já viu com os próprios olhos homens tentando roubar a bolsa de uma jovem. Além disso, Alorrane presenciou brigas entre usuários de drogas que costumam frequentar o local.
“Dependendo do horário, é bem perigoso aqui. De noite tem umas pessoas meio estranhas”, conta a frequentadora da Rodoviária desde os 11 anos.
Luana Safira, 21, também já presenciou furtos na loja de capinhas e acessórios para celular onde trabalha, localizada no segundo andar da Rodoviária. “Aqui em cima tem muito furto, os bandidos passam, pegam as mercadorias e a gente nem vê”, diz.
O estudante de letras aplicadas da Universidade de Brasília (UnB) Joel Nanudo, 25 anos, conta que, embora não tenha sido vítima de nenhum crime, já ouviu muitos relatos de assaltos de amigos e colegas de curso. “Para andar aqui é necessário ter muito cuidado, colocar a mochila para frente e evitar mexer no celular ou pegar algum objeto de valor”, aconselha.
Medidas de segurança Apesar das ocorrências ainda serem frequentes, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e a Administração da Estação Rodoviária de Brasília (ERB) empenham esforços para tornar o ambiente mais seguro à população. O administrador da Rodoviária do Plano Piloto, Josué Martins, aponta que são realizados dois tipos de segurança: a pública, com policiamento 24 horas para cuidar das pessoas e atuar no combate a atos ilícitos; e a patrimonial, com vigilantes armados que cuidam do patrimônio e dos equipamentos públicos.
Há, em média, 30 policiais por turno na base de monitoramento, viaturas e dentro do terminal. Por meio da base móvel, localizada na plataforma inferior da Rodoviária, as pessoas podem realizar denúncias e oferecer informações a respeito de crimes. A coronel comandante do 6º Batalhão da PMDF, Kelly Cezário, destaca que uma das novidades é o policiamento ciclístico, modalidade que começou há dois meses.
“Esse tipo de policiamento dá mais mobilidade e permite que a gente consiga fazer atuações rápidas. O bandido é muito rápido, troca de roupa, some no meio da multidão, então, com as bicicletas temos tidos bons resultados”, explica Kelly.
A Rodoviária também conta com o monitoramento de 48 câmeras, mas Josué conta que 29 novas câmeras já estão sendo instaladas para reforçar essa fiscalização. Além disso, ele destaca que mais um corpo de vigilantes, brigadistas e ascensoristas para os elevadores estão sendo contratados. Para tornar os banheiros mais seguros, o administrador da Rodoviária anuncia que novos profissionais vão integrar a equipe que auxilia na limpeza, conservação e fiscalização dos espaços, vistos como um dos mais expostos a crimes.
Outros crimes Enquanto a quantidade de furtos na Rodoviária cresceu, os crimes violentos registraram queda. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do DF, entre janeiro e setembro deste ano, não foram computadas ocorrências de crimes violentos letais intencionais, tais como homicídio, latrocínio e lesão corporal seguida de morte, na área central do DF, que abrange a Estação Rodoviária de Brasília (ERB).
Em relação às tentativas de homicídio, houve queda de 60% nos índices da região, considerando o período de janeiro a setembro de 2022, em relação ao ano passado. Foram três tentativas de homicídio neste ano, contra cinco ocorrências, de janeiro a setembro de 2021, na área central.
A SSP/DF também registrou queda de 63,6% nos furtos em comércio, na Rodoviária de Brasília. Ao todo, oito ocorrências foram registradas entre janeiro e setembro deste ano. No ano passado, foram 22 ocorrências, no mesmo recorte de tempo.
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