Uma jornalista brasileira que está cobrindo a Copa do Mundo do Catar relatou momentos de tensão para as mulheres no jogo entre Irã e Estados Unidos. Emocionada, Domitila Becker contou da agonia ao ver iranianas sendo vigiadas, intimidadas, perseguidas e até agredidas após sua tentativa de conversar com elas sobre as questões do país árabe – que proíbe mulheres até mesmo de frequentar estádios.
Em suas redes sociais, Becker começou: “Entrei na torcida para tentar conversar com as mulheres, para ver como elas torciam, como estava a situação no Irã e se alguma delas ainda estava protestando porque lá os conflitos só estão piorando”.
Ao tentar se aproximar, a jornalista disse ter sido ela própria hostilizada e intimidada por várias pessoas que estavam na torcida.
“Começaram a me perseguir, onde eu ia eles iam me acompanhando. Começaram a tirar foto minha, das pessoas que eu estava conversando e do meu crachá. As mulheres não queriam falar comigo e uma delas me passou o telefone e disse que elas estavam sendo vigiadas”, contou.
Ao conversar com um homem que estava no estádio e preferiu não se identificar, ele a explicou que há fiscalização do governo sobre o que está sendo dito e denunciado pelas mulheres no Catar.
Para ter um controle e repressão maior sobre as torcedoras iranianas e os possíveis protestos, pessoas infiltradas estão vigiando as atitudes consideradas “suspeitas”.
Agressão a mulheres no estádio
Juntando suas imagens com a de outro repórter, Becker contou que mulheres foram agredidas após o jogo e uma delas, segundo a jornalista brasileira, apareceu com o rosto ensanguentado.
“Que noite desesperadora. ‘Não podemos misturar futebol com política’, eles dizem. Fala isso na cara de uma mulher que não consegue parar de tremer depois de ter sido cercada e agredida por um bando de ‘torcedores'”, escreveu.
“Fala isso para um pai que não pode segurar as lágrimas ao explicar como os filhos de 6 e 9 anos foram ameaçados dentro de um estádio. Fala, se você conseguir achar uma torcedora iraniana que não está com medo de ser morta”, acrescentou.
A própria Fifa anunciou punições para possíveis manifestações políticas e tem sido criticada pela contradição, já que cita respeito pela diversidade.
Pedindo “foco no futebol” antes do início do Mundial, algumas questões que se tornaram públicas pelas torcidas não tem sido deixadas de lado por ativistas.
Protestos pela morte de Masha
As iranianas por exemplo, estão protestando pela morte de Masha, de 22 anos. Uma onda de protestos tomou conta do país desde que ela morreu enquanto estava sob custódia da polícia moral de Teerã, capital do país.
A jovem teria sido presa após violar as regras sobre o uso de hijab, o lenço tipicamente islâmico que cobre a cabeça das mulheres.
Com uma faixa, que dizia “Liberdade da vida da mulher”, um casal tentou protestar durante a partida entre País de Gales e Irã. No entanto, logo eles foram abordados por seguranças que vetaram a manifestação.