Segundo a história bíblica, os magos ofereceram três presentes ao menino Jesus: ouro, incenso e mirra. Na adaptação da fé católica, são os fiéis que têm direito a fazer três pedidos no último dia de homenagens ao Senhor do Bonfim, em Salvador. Neste domingo (15), centenas de fiéis voltaram às ruas da Cidade Baixa para participar da Procissão dos Três Pedidos, ato que finaliza os 10 dias de Festa do Bonfim.
Em mais uma caminhada, mas três vezes menor que os 8 km da Lavagem – são cerca de 3 km – , devotos saíram da Igreja Nossa Senhora dos Mares e levantaram coro até a Colina Sagrada, onde a tradição é dar três voltas ao redor da Basílica Santuário Senhor do Bonfim para pedir três desejos. A procissão foi repleta de louvores, oração e aplausos às imagens de Santa Dulce, Nossa Senhora dos Mares e Senhor do Bonfim, acompanhada por um trio elétrico que puxava “corinhos” católicos.
O percurso das voltas para fazer pedidos, no entanto, foi diferente desta vez, devido à ocupação de uma unidade de saúde montada ao lado da Basílica, para a Lavagem. A tenda ainda não foi desmontada e inviabilizou passagem do público ao lado da igreja. Para conseguir fazer as voltas, foi preciso adaptar. A imagem do Senhor do Bonfim arrodeou o Largo acompanhando de apenas alguns fiéis, eles saíram três vezes da frente da igreja e deram o giro na região. Os outros devotos continuaram nas escadas e de frente à Basílica seguindo a imagem com os olhos e fazendo os pedidos do lugar que estavam. O momento concluiu com a bênção do Santíssimo Sacramento e queima de fogos de artifício.
Nem por isso a emoção e os pedidos fervorosos enfraqueceram. Em súplica coletiva, fiéis estenderam às mãos ao Senhor do Bonfim enquanto o padre Edson Menezes, reitor da Basílica do Bonfim, fez três pedidos gerais, um para cada volta. Os clamores foram de fim da violência, da pandemia da covid-19 e pelo conforto de pessoas que perderam entes queridos.
Quanto aos individuais, as preces são de livre critério. Podem ser por amor, saúde e até dinheiro no bolso. O cozinheiro Wellington Santana, 68, conta que não costuma ir na Procissão dos Três Pedidos porque mora longe, mas hoje pegou metrô e carro para clamar pela cura da esposa. “Ela está com problema de diabetes e vai ser operada porque está perdendo a visão. Ela está bem, mas tenho esses pedidos [de cura e recuperação] para fazer hoje”, diz.
Enquanto a fé fica por conta dos fiéis, a realização fica a cargo do Senhor do Bonfim. A festa também é para quem o pedido foi atendido. A auxiliar de serviços gerais Giucélia Silva, 42, lembra quando pediu pela saúde do bisneto e ele recebeu a cura. “Recebi a bênção do meu bisneto estar vivo. Os médicos não deram esperança, mas o Senhor do Bonfim, sim. Ele [bisneto] nasceu doentinho, ficou entubado por 22 dias e hoje ele está vivo e traquinando muito”, diz rindo.
“São muitas emoções, hoje é um dia de fé, mais espiritual. Tenho muitos pedidos e agradecimentos. Este ano peço paz, saúde e dinheiro”, revela a advogada Monica Soraia, 56.
Três Pedidos foi uma inovação
Criada há apenas oito anos pelo Padre Edson Menezes, a Procissão dos Três Pedidos encerra a Festa do Bonfim, que, em 2022, contou com 10 dias de comemoração especial e retorno de festejos, devido à pausa por conta da covid-19. “É uma sensação de muita gratidão a Deus, muito contentamento e renovação da nossa fé e do nosso compromisso Foi uma festa muito bonita, muita gente tanto na novena, como nas procissões, missa. Foi uma festa que deixa saldo bastante positivo”, comemora o padre.
Ele ainda conta que a ideia para o festejo foi porque sentia um vazio na comemoração do domingo à tarde. A inovação tornou a data em que se comemora oficialmente o dia do Senhor do Bonfim ainda mais especial. “Festa do senhor do Bonfim […] é uma das festas populares da Bahia que continua. Outras passaram por processo de decadência mas a Festa do Bonfim continua com mesmo vigor que atrai turistas e devotos do Brasil e mundo inteiro”, declara.
O dia festivo começou às 5h com alvorada e consecutivas Santas Missas – às 5h, 6h, 07h30, 9h e 15h. Às 10h30 houve uma Santa Missa Solene presidida por Dom Sérgio da Rocha, Cardeal Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese de São Salvador da Bahia.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo