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Após morte de jovens indígenas, lideranças pressionam por solução

Lideranças indígenas de Barra Velha, no extremo-sul do estado, onde viviam os jovens Nawir Brito de Jesus, 17 anos, e Samuel Cristiano do Amor Divino, 25, mortos na terça-feira (17), pressionam a polícia e as autoridades do governo para que o crime seja esclarecido. Os dois primos, da etnia Pataxó, foram baleados no distrito de São João do Monte, entre os municípios de Itabela e Itamaraju, no Km 787 da BR-101 após saírem do Povoado de Montinho em direção a uma das fazendas que foram recentemente ocupadas por um grupo indígena no processo de retomada das terras por parte dos povos originários.

Em uma reunião realizada nessa quarta-feira (18), integrantes de movimentos como o Miba, Mupoiba, Federação Indígena das Nações Pataxó e Tupinambá do Extremo-sul da Bahia (Finpat) e Conselho de Caciques do Território Pataxó Barra Velha cobraram da Polícia Federal e da Funai providências urgentes nas investigações e as prisões dos assassinos dos indígenas. Até agora, ninguém foi preso.

Os líderes indígenas estão em contato direto com a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, e com a Presidenta da Funai, Joênia Wapichana, e Polícia Federal em Brasília – Setor de Crimes Contra Indígenas, solicitando a intervenção da Força Nacional na investigação dos crimes e violências contra as comunidades indígenas e combate à pistolagem e milícias, principalmente com a participação do braço armado do Estado, atuando no extremo-sul da Bahia.

De acordo com o cacique Renato Pataxó, os indígenas da Aldeia Barra Velha sofrem há tempos com ameaças e perseguição. “O motivo do crime é a questão da autodemarcação do território. O povo Pataxó vem sofrendo diversos ataques e ameaças desde maio do ano passado”, comentou ele, citando ainda a morte do jovem indígena Gustavo Conceição da Silva, de 14 anos, vítima de disparos de arma de fogo em setembro do ano passado.

Propriedades abandonadas
Fazendeiros que vivem no extremo-sul da Bahia afirmam que estão sofrendo ataques e são as “verdadeiras vítimas” da disputa de terras. Segundo eles, indígenas ocupam as propriedades e dão até três dias para desocupação. Após o prazo, homens armados aparecem no local para expulsar os fazendeiros. 

“Aconteceu com um proprietário da região. Ele saiu às pressas porque foi expulso por homens fortemente armados. Ninguém está [nos] ouvindo, ouvem apenas a outra parte que se faz de vítima”, diz o advogado de terras Marcelo Almeida, representante de proprietários da região de Prado e Porto Seguro. 

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Em nota, o advogado nega as acusações de que os fazendeiros são mandantes do assassinato dos jovens indígenas Nawir e Samuel Cristiano. “São inteiramente infundadas e sem provas. A referida acusação, para além de desinformar a população sobre a veracidade dos fatos e estimular a propagação de informações manifestamente falsas, também macula a imagem, a honra e a dignidade dos Produtores Rurais”, reclama. 

Segundo o Sindicato Rural de Itamaraju, já são mais de 40 propriedades abandonadas por medo de agressão. “Não acreditamos que produtores iriam fazer isso [refere-se às mortes] porque são pessoas ordeiras que geram emprego e renda. Tem pessoas infiltradas no meio dos indígenas. É uma situação de insegurança para todos”, diz o presidente da entidade, Everaldo Melo. Ele diz que os fazendeiros abriram Boletim de Ocorrência e querem justiça por meios legais. 

O advogado dos fazendeiros informa que eles repudiam qualquer ato de vandalismo contra povos indígenas e ressalta que as mortes estão sendo investigadas pela Polícia Federal e os culpados serão encontrados. 

Indígenas negam acusação e culpam fazendeiros
O presidente da Federação Indígena das Nações Pataxó e Tupinambá do Extremo sul da Bahia (Finpat), cacique Aruã Pataxó, diz que os fazendeiros são os verdadeiros grileiros e usurpadores de terras tradicionalmente indígena, no Extremo Sul da Bahia. Assim como as essas acusações de invasão indígena armada em terras são infundadas e levianas.

“Os fazendeiros são os mandantes dos crimes contra os indígenas, na contratação de pistoleiros e milicianos, para atacar as comunidades e tirar a vidas dos nossos indígenas”, afirma. A Finpat acusa os fazendeiros de contratar policiais, como segurança particular, para agir como pistoleiros. 

O enterro dos jovens indígenas aconteceu na manhã da quinta-feira (19). O sepultamento de Samuel Cristiano do Amor Divino foi realizado na Aldeia Pataxó Boca da Mata, em Porto Seguro, e de Nauí Brito de Jesus, na Aldeia Pataxó Craveiro, em Prado. 

“É uma situação de muita tristeza. Pedimos por justiça”, lamenta o cacique Renato Pataxó.

A reportagem do CORREIO entrou em contato com o titular da 23ª Coorpin, delegado Moisés Damasceno, para ter atualização da situação. Ele informou que o caso ainda é recente e corre em segredo de Justiça. 

Relembre o caso 
Segundo o cacique Renato Pataxó, o crime foi cometido por pistoleiros contratados por fazendeiros. Os indígenas Pataxó Nawir Brito de Jesus, 17 anos, e Samuel Cristiano do Amor Divino, de 25, foram baleados no distrito de São João do Monte, entre os municípios de Itabela e Itamaraju, segundo a Polícia Civil. Ainda de acordo com o cacique, os jovens são membros da comunidade indígena de Barra Velha, em Porto Seguro.

O cacique ainda confirmou que esteve em uma reunião virtual, realizada nesta quarta (18), com a ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara e a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joênia Wapichana.

“A minha primeira agenda do dia será com lideranças indígenas do Extremo Sul da Bahia. Acompanharei de perto o que vem acontecendo na região e irei requisitar ação imediata do Estado”, escreveu a ministra em publicação nas redes sociais.

Guajajara afirmou que já tinha acionado o Ministério da Justiça para enviar a Força Nacional ao local, classificando o crime de “cruel assassinato”. “O território Barra Velha aguarda a portaria declaratória”, disse. 

Já Wapichana informou que pediu que a Funai acompanhe o caso, além solicitar apoio e proteção dos órgãos de segurança. “Da mesma forma, solicitei providências para a garantia e proteção dos povos indígenas dessa região da Bahia e medidas para garantir a justiça que o caso requer.”

Em nota pública, a Finpat confirmou que os jovens foram alvejados por disparos de arma de fogo, enquanto trafegavam em uma motocicleta, na BR 101, próximo ao Povoado do Montinho, município de Itabela.

“Os indígenas estavam sendo perseguidos por pistoleiros em um veículo Monza Prata, foram derrubados, rendidos e executados com vários tiros, inclusive na cabeça. Os indígenas foram assassinados, na entrada da Fazenda Condessa, uma das retomadas do Povo Pataxó, no Território Indígena Barra Velha, município de Porto Seguro”, declara.

“Nas últimas semanas, as lideranças indígenas, preocupadas e temendo por suas vidas e comunidades, vinham denunciando e comunicando a todas as autoridades, a presença de um grande grupo de pistoleiros na Fazenda Brasília, de um proprietário denominado de ‘Gaúcho’. Diariamente, pistoleiros fortemente armados com aparato de guerra, faziam ataques a tiros a uma comunidade indígena, localizada na Fazenda Condessa, usando arma de grosso calibre, deixando a casa totalmente perfurada a balas”, diz a Finpat.

A Federação ainda esclareceu que os episódios de perseguição foram denunciados, “porém, pouca atenção e providências foram tomadas para conter essas ameaças, muito menos medidas e operações policiais para o desarmamento e prisão de pistoleiros e milícias instaladas nos territórios indígenas”. A Federação alega que a Força Tarefa da Polícia Militar, que tem feito rondas em cerca de 20 localidades/retomadas no município de Prado, Itamarajú, Porto Seguro e Itabela, dispunham de poucas condições e pouco efetivo para a cobertura.

Investigações
A Polícia Civil reforçou as equipes no Sul do estado para acelerar a elucidação das mortes dos jovens indígenas. Delegados e investigadores da 23ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin/Eunápolis) realizam levantamentos e ações de inteligência na região. 

As vítimas estavam em uma moto sem placa quando foram baleadas. Equipes das polícias Militar e Rodoviária Federal fazem buscas na região.

“Todos os policiais estão em campo levantando informações e buscando possíveis testemunhas, além de imagens. Importante acrescentar que equipes do Grupo Especial de Mediação e Acompanhamento de Conflitos Agrários e Urbanos (Gemacau) da PC estão dando apoio na apuração”, explicou o titular da 23ª Coorpin, delegado Moisés Damasceno. 

Damasceno acrescentou que informações sobre o caso podem ser enviadas, com total sigilo, através do telefone 181 (Disque Denúncia da SSP). 
 

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