Além de prender integrantes de grupos criminosos responsáveis por homicídios na capital baiana e em Dias D’Ávila, a Operação Neutralização, deflagrada nesta quinta-feira (26), tem outro objetivo: impedir a atuação de facções nos circuitos do Carnaval de Salvador. De acordo a Polícia Civil (PC), mais do que participação em crimes de violência letal, os alvos da ação, que contou com cerca de 150 agentes da civil e da militar, tinham atuação em pontos fixos da maior festa de rua do mundo.
Quem explica isso é o delegado Oscar Vieira, diretor adjunto do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP). Ele indica que diferentes grupos ocupavam espaços das avenidas e, em determinados momentos, a festa virava palco de ocorrências violentas por confrontos entre os traficantes. Por isso, a operação vem também para garantir a tranquilidade dos foliões durantes os dias de Carnaval.
“O setor de inteligência da polícia fez um estudo que identifica que esses grupos se fixam em partes dos circuitos para venda de drogas. No decorrer da festa, eles acabam se encontrando e entram em confronto. A operação, além de evitar o tráfico, visa impedir essas ocorrências violentas próximas aos foliões”, explica Vieira, informando que a investigação desses grupos já acontecia há nove meses.
Tanto é que, em junho do ano passado, na Operação Ignis, um grupo rival do que foi alvo da operação de hoje já tinha sido desmobilizado pela PC. Na ocasião, oito pessoas foram presas nos bairros de São Caetano, Fazenda Grande do Retiro, Capelinha, Santa Luzia do Lobato, Bom Juá e Itapuã. Todos com práticas parecidas e atuação nos circuitos.
Atuação antiga
Coordenador do curso de Direito da Estácio e especialista em segurança pública, o professor Antônio Jorge Melo explica que a atuação das facções nos circuitos não é novidade. Ele entende que uma festa como o Carnaval traz consigo uma grande possibilidade de aumento na demanda por drogas.
“Esses grupos, claro, aproveitam para lucrar, além de se livrar de desafetos e impedir que outras facções vendam drogas durante a festa. Essa operação é feita já há muito tempo para impedir que esses criminosos atuem na distribuição de entorpecentes e levem casos de violência para os circuitos”, aponta Melo.
Mais do que dar mais tranquilidade para os cidadãos no período carnavalesco, a Operação Neutralização tem a intenção de reduzir os crimes de violência letal. Segundo dados da PC, entre homicídios, latrocínios, feminicídios e lesões corporais seguidas de morte, foram registrados 5.153 casos na Bahia ao longo de 2022.
Direcionando ao olhar para Salvador, a polícia aponta que 75% dos homicídios tem origem em conflitos entre grupos criminosos. “Essa disputa entre os grupos ocasiona muitos homicídios. Daí a importância da operação do DHPP. Paralelamente às investigações dos homicídios, nós precisávamos alcançar a causa. Não adiantar investigar as mortes sem agir contra a razão delas”, avalia o delegado Vieira, responsável pela ação.
A ação de hoje aconteceu nos bairros de São Caetano, Fazenda Grande e São Gonçalo do Retiro. As localidades foram escolhidas por serem sedes do grupo que foi alvo da operação. “São áreas prioritárias em que se tem confronto entre grupos criminosos. Hoje foi direcionada para um grupo, que é rival de outro que foi atingido em junho. As operações se complementam para evitar que exista confronto entre eles”, completa.
Balanço da operação
Apesar de ter bairros como foco, não foi só nestes que houve acão. Ainda no início da manhã, tanto os bairros de São Caetano e São Gonçalo do Retiro, em Salvador, como o município de Dias D’Ávila se encheram de agentes das polícias militar e civil. Ao todo, oito suspeitos foram localizados. Entre estes, cinco tiveram mandado de prisão cumprido, um foi preso em flagrante e outro suspeito assinou termo circunstancial para responder em liberdade por receptação dolosa de drogas.
O último, que tinha mandado de prisão nessa operação e entrou em confronto com a polícia na região de Dias D’Ávila, acabou baleado e não resistiu aos ferimentos. De acordo com informações da PC, os agentes já foram recebidos com tiros e precisaram revidar pela segurança dos policiais que estavam participando da ação.
Com os suspeitos, foram aprendidos celulares, relógios, munição, revólver e 110 porções de droga, entre cocaína, maconha e crack, prontas para a comercialização. Além do DHPP, equipes dos Departamentos de Polícia Metropolitana (Depom), de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP), da Coordenação de Operações Especiais (COE), do Departamento de Polícia Técnica (DPT) e diversas guarnições da Polícia Militar, trabalharam na operação.