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O dia que Iemanjá ficou a ver navios, sem o presente principal

Em 2011, presente principal não ficou pronto a tempo: dilúvio derrubou uma viga sobre ele e, ao ser reconstruído, desmontou (Foto: Antônio Saturnino/Arquivo CORREIO)

Um presente ausente: foi simplesmente essa a situação de uma fatídica Festa de Iemanjá na qual o escultor responsável pelo presente principal, encomendado por pescadores do Rio Vermelho, não conseguiu entregar a obra a tempo, após um temporal provocar a destruição da estrutura às vésperas do 2 de fevereiro. 

A situação é única nos 100 anos da popular celebração à orixá, e foi classificada pelos pescadores e outros devotos como “humilhação”, “falta de respeito” e, claro, interpretada como um mau presságio. “Pela primeira vez, em 88 anos de tradição, Iemanjá ficou sem receber o tradicional presente oferecido pelos pescadores e que marca as celebrações do 2 de fevereiro. O artista plástico responsável diz que chuva derrubou viga e quebrou escultura”, anunciava o preâmbulo da reportagem de Victor Albuquerque, na edição do CORREIO de 3 de fevereiro de 2011.

Doze anos depois, o escultor Alexandre Fadini, que lembra daquilo como “um episódio muito triste para todo mundo”, conta que pretende se “redimir” de alguma forma (mesmo se tratando de um acidente provocado por um fenômeno natural), e nos conta que tem a ideia de erguer uma estátua para Iemanjá com 5 metros de altura, no mesmo lugar onde aquele presente principal não foi entregue.

Mas antes de falar do novo projeto, é preciso relembrar como as águas doces da chuva de 2011 impediram que o presente principal – um imenso balaio estilizado, ofertado pela Colônia de Pescadores do Rio Vermelho (Z1), com presentes de milhares de pessoas – flutuasse nas águas salgadas do RV, para ser depositado no Buraco de Iaiá, a 7,5 km da costa, após procissão marítima.

Frustração
Naquele 2 de fevereiro, estava previsto que o presente chegaria ao barracão da Colônia Z1 às 5h da matina, porém, até o meio-dia, nem devotos nem pescadores sabiam o destino da escultura, que costuma ser levada ao mar por volta das 16h. “O pessoal foi em Lauro de Freitas nesse instante e deve estar ajeitando para trazer”, dizia, ainda esperançoso, o então vice-presidente da Associação de Pescadores, Nilo Garrido. “Mas as horas passaram e a escultura não chegou. Em 88 anos de tradição, essa foi a primeira vez que Iemanjá ficou sem a oferenda principal”, citava Albuquerque.

O sentimento de frustração então tomou conta. “Isso é horrível, uma falta de respeito”, criticou uma filha de santo. Um pai de santo de São Paulo, que já frequentava a festa há três décadas, considerava que a não entrega do presente poderia ser um mau sinal com relação à orixá.

“Isso mostra que Iemanjá não está feliz com a festa desse ano. Está chateada com alguma coisa ou com alguém”, comentou ele.

“Em 40 anos que participo da festa, esse acontecimento é a maior vergonha para os pescadores. Uma humilhação”, sentenciou um pescador. 

Na falta do material encomendado, os pescadores então pegaram carona no presente preparado pelo Terreiro Odé-Mirim, do Engenho Velho da Federação. “Sob o comando de Mãe Alice, os filhos e filhas de santo levaram um balaio com tudo que a orixá mais gosta: alfazema, pentes, espelhos, joias, muitas flores e uma imagem da divindade com colares de pérola”, narrou o repórter.

Desculpas
Outro repórter, Leo Barsan, foi encarregado de ir a Lauro de Freitas investigar o que tinha acontecido com o presente, que não tinha tomado rumo da capital ainda. Chegando no ateliê, encontrou Alexandre Fadini ainda trabalhando, mas em outro projeto com a mesma finalidade. “O presente – uma concha feita à base de cimento estrutural – não tinha nada de concreto”, comentou o repórter, antes de explicar a nova obra em progresso.

“No ateliê, o escultor contou que o primeiro presente quebrou, mas ele tentou reconstruir. No entanto, quando Fadini retirou a concha da forma, na noite de anteontem, a obra se partiu. Diante do problema, garantiu a entrega de uma nova estrutura até o meio-dia de ontem. Mas, após 18 horas de espera, revoltados, os pescadores deixaram o ateliê às 13h20”, relata a reportagem. 

Antes da desistência, o escultor explicava com mais detalhes a saga do presente não embalado. “Uma chuva em dezembro derrubou uma viga sobre a escultura que estava guardada em um depósito e acabou quebrando. Era uma concha aberta com um cristal na ponta que levou três meses para ficar pronta. Corri para fazer uma nova, estou há dois dias trabalhando sem parar. Foi um acidente”, reforçava ele, sobre a sua incapacidade de conter fenômenos naturais.

Escultor agora quer construir estátua de 5 metros de altura de Iemanjá, no Rio Vermelho (Imagem: Divulgação)

Mas, naturalmente, ficou um sentimento de culpa, que ele pretende compensar agora.

“Tenho hoje esse projeto, que almejo fazer ainda este ano. Uma obra com tamanho e beleza indiscutíveis. Uma obra com mais de 5 metros de altura, com o máximo de realismo. Com essa oportunidade, acredito que virão coisas positivas a acontecer”, explicou Fadini, que atualmente tem 47 anos e é, além de escultor, servidor da Prefeitura de Lauro de Freitas.

O projeto da nova estátua é para ser erguido sobre as pedras, a alguns metros do local onde o presente principal fica (quase) todos os anos, ao lado da Igreja de Santana. A estrutura seria feita em cimento estrutural epóxi com pigmentos aditivos para fortalecer a estrutura. Fadini destaca que todo o material necessário para tornar a ideia realizável custaria entre R$ 16 mil e R$ 20 mil, e a mão de obra, claro, fica por sua conta. Gostou da ideia e gostaria de financiar? Basta entrar em contato pelo Instagram @fadini_esculturas. Odoyá!

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