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Os voos da FAB de Rui Costa, o apego do ex-governador e o balcão de negociações para colocar Aline Peixoto no TCM

Os voos de Rui
O ex-governador e atual ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), tem utilizado avião oficial da Força Aérea Brasileira (FAB) em seus deslocamentos para a Bahia, já que tem feito questão de vir ao estado semanalmente. Mesmo fora do governo desde 1º de janeiro, quando passou o bastão para Jerônimo Rodrigues (PT), Rui continua participando de agendas da administração estadual nos finais de semana ao lado do sucessor e afilhado político. “Rui tem feito questão de estar nestas agendas oficiais para justificar o voo da FAB. E isso parece que não vai acabar tão cedo”, revela uma fonte com trânsito no governo estadual. 

A sombra do ex
A forte influência de Rui tem causado desconforto no núcleo duro do novo governo, uma vez que Jerônimo tem um perfil mais discreto e retraído, enquanto o ex-governador parece ainda não ter desapegado do cargo e segue mandando e desmandando na gestão. Eles dizem que o governador prefere não se impor sobre Rui e tem atendido aos pedidos e desejos do antecessor, sem questionar – pelo menos por enquanto.  

Apego ao Palácio
O ponto mais simbólico desta situação é que Rui ainda não liberou o Palácio de Ondina para Jerônimo, após 40 dias do novo governador ter assumido. Segundo informações de parlamentares, Rui ainda segue planejando a morada em Brasília e, por isso, ainda não fez a mudança do Palácio, que é a residência oficial dos governadores do estado. Jerônimo, por enquanto, aguarda pacientemente a boa vontade do antecessor para se mudar. 

Tudo por amor
Para os novos governistas, o pano de fundo de tamanha influência de Rui no governo é a indicação da esposa dele, Aline Peixoto, para o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), uma vez que o ministro tem, ele próprio, negociado cargos e obras do governo estadual, passando por cima de Jerônimo. Para casos de maior resistência, houve até proposta de que o governo federal poderia dar um “plus” de obras e incentivos em suas bases eleitorais no interior do Estado. O governador, entretanto, pelo que dizem governistas, não se incomoda com a situação e, como se não bastasse, ainda é um dos principais entusiastas do pleito de Aline para o TCM. 

Enfermaria de Contas
A falta de conhecimento técnico de Aline para a função que seu marido pretende lhe empurrar virou tema de quase toda roda de conversa entre os políticos baianos. Mas em uma delas, em especial, ouviu-se a seguinte avaliação: “já pensou, você entrar no hospital e ser socorrido por um juiz, um engenheiro…? Do mesmo jeito, assusta pensar que uma enfermeira vai fazer uma análise contábil e jurídica de contas públicas dos municípios”, exclamou um interlocutor político ligado ao grupo governista, mas que resiste à ideia de ver a ex-primeira-dama na Corte.

Voto constrangido
A base governista já dá como certa a indicação de Aline, que, de acordo com influentes parlamentares, já tem mais de 35 votos na Assembleia Legislativa da Bahia, o que garante a ela o cargo vitalício com salário superior a R$ 41 mil. Há, contudo, uma insatisfação da base com a situação, o que foi evidenciado pelo semblante preocupado e o tratamento áspero por parte de deputados aliados ao governo com jornalistas na última quarta-feira. Um influente parlamentar petista chegou a xingar um repórter “idiota” após a publicação de uma matéria num veículo nacional sobre a indicação de Aline para o TCM. 

O perseguido
O próprio Rui tem reclamado bastante com pessoas próximas da cobertura negativa que tem sido feita na imprensa nacional sobre a possível indicação da esposa para o TCM. Ele confidenciou a um aliado que tem sido perseguido por alguns veículos, que não deram, na visão dele, o mesmo tratamento negativo a outros três ministros de Lula que também colocaram suas esposas em tribunais de contas de seus respectivos estados.

Silêncio conveniente
Enquanto isso, parte da esquerda baiana, que tanto critica o aparelhamento do estado e as influências familiares para cargos em instituições, simplesmente se cala. Até o momento, não há nenhuma crítica robusta vinda de PT, PCdoB e afins ao movimento de Rui Costa para indicar a esposa para o TCM. Coerência que chama, né?!

Governo dividido
O imbróglio em torno da possível indicação de Aline para o TCM expõe a disputa velada entre Rui e Wagner no governo de Jerônimo, que tem procurado se manter em cima do muro entre os dois padrinhos. A primeira batalha foi pelas indicações do primeiro escalão e, agora, está sendo para o segundo. Wagner, pelo menos por enquanto, tem levado vantagem após indicar o enteado Eduardo Sodré Martins para a Secretaria do Meio Ambiente e o assessor Bruno Monteiro para a pasta da Cultura, além de ter levado a presidência da Embasa. Entre os dois, não é novidade para ninguém que Jerônimo é muito mais próximo de Rui. Contudo, pelo menos por enquanto, Jerônimo tem procurado não se meter na briga. 

Nada de novo no front
Na educação, pasta que já foi comandada por Jerônimo, o novo governo começou com uma verdadeira crise no número de matrículas, que atingiu o menor volume dos últimos anos. O número de estudantes matriculados teve um baque de cerca de 50 mil alunos em relação a 2022, saindo de mais de 700 mil para cerca de 655 mil. Entre 2016 e 2021, por exemplo, o volume de estudantes sempre foi em torno dos 800 mil. O ensino médio da Bahia, vale lembrar, está entre os piores do país, de acordo com o Ideb, e o estado lidera o número de analfabetos no Brasil. 

Em compasso de espera
Completados 40 dias do novo ano, a Assembleia Legislativa não recebeu um projeto sequer do governador Jerônimo Rodrigues, nem mesmo a adequação para pagamento do piso nacional dos professores que ele já se comprometeu em cumprir. Um dos fatores que explica a vagareza estadual é a dependência de alinhar projetos e ações com o governo federal, a exemplo da pauta de combate à fome que, ao que parece, perdeu urgência e ficou a reboque de arranjos políticos.

Amigo da onça
Integrantes do PL na Bahia já dão como certo o alinhamento do ex-ministro João Roma, presidente do partido no estado e que se diz aliado de Jair Bolsonaro, com o grupo do PT no estado. O sinal mais claro, para eles, são os claros indícios de aproximação do deputado Vitor Azevedo, que foi chefe de gabinete de Roma, com o governo de Jerônimo Rodrigues. Um parlamentar comentou nos corredores da ALBA que já avisou a Roma que está fora da movimentação e que fará oposição ferrenha ao governo petista.

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