Depois da fantasia carnavalesca, é hora da realidade bater à porta. E, ao invés de glitter, o que ela traz são as dívidas ainda não pagas. Na Bahia, a visita indesejada chega para 4,4 milhões de baianos, considerados inadimplentes no mês de janeiro, ou seja, 39% da população adulta no estado.
Conforme dados da Serasa, o número é maior do que o registrado em dezembro do ano passado, quando a Bahia tinha 4,3 milhões de pessoas nesta situação. Somados os novos 100 mil inadimplentes, o estado saiu do quinto, para o quarto lugar no ranking da inadimplência do país, perdendo apenas para São Paulo (16,3 mi), Rio de Janeiro (7,1 mi) e Minas Gerais (6,6 mi).
Se o número de baianos com o nome sujo é grande, a quantidade de dívidas é ainda maior. Ao todo, a Serasa contabiliza 13,3 milhões de dívidas não pagas. A soma dos valores devidos chega a R$ 15 bilhões. O que corresponde a média de R$ 3 mil a ser pago por cada inadimplente no estado.
Destes, 27% estão em Salvador. Em números, isso equivale a 1,2 milhão de pessoas e a 4 milhões de dívidas não pagas. Juntos, os soteropolitanos devem R$ 5,7 bilhões aos seus credores. Dividido igualmente, o valor a ser pago por cada inadimplente na cidade é maior do que o devido por cada baiano, de R$ 4,5 mil.
O valor, no entanto, trata-se apenas de uma média entre a quantidade de devedores e de dinheiro preso na praça. O que, para a copeira Adailza Santos, 45 anos, é uma pena, já que provavelmente a dívida dela ultrapassou esse preço no primeiro ano do não pagamento. Desde lá, já se passaram outros quatro.
A restrição do nome veio depois que ela se separou do ex-marido e não pôde mais pagar as mensalidades da faculdade de administração que cursava há dois semestres. Até então, todas as contas de casa e a escola do filho eram divididas por dois, mas após a separação, ela precisou assumir os pagamentos sozinha.
“A faculdade ficou em segundo plano, porque minha prioridade era a escola do meu filho. A gente não quer ficar endividado, mas sempre que conseguimos nos planejar surge alguma emergência e o pagamento da dívida vai sendo adiado”, conta Adailza.
Ela é o retrato do perfil dos inadimplentes na Bahia, onde 53% são mulheres, contra 47% de homens. Em contrapartida, as baianas também são as que mais honram suas dívidas, segundo afirma o gerente da Serasa Daniel Bizanha. A explicação para a maior aquisição de dívidas está no fato de muitas serem as principais – ou até as únicas – responsáveis pelo sustento do lar em que vivem.
“Outra suposição é que, quando casadas, os companheiros usam o nome delas para fazer cartões de crédito ou tomar empréstimos, porque o nome dele já está sujo. Mas o que temos cem por cento de certeza é de que, hoje, as mulheres são as que mais honram seus compromissos [de pagamento]”, explica o gerente da Serasa.
As demandas que chegam com o avançar da idade também põem a população baiana de 41 a 60 anos, entre os mais endividados do estado, sendo 35%. Na esteira aparecem os jovens de 26 a 40 anos (34%), seguidos dos idosos acima de 60 anos (19%) e das pessoas com menos de 25 anos (12%), respectivamente.
Vilões
Os maiores vilões da inadimplência são os cartões de crédito. Segundo dados da Serasa, a forma de pagamento é responsável por 32% das dívidas não pagas na Bahia. Apesar de ser um velho conhecido no quesito, a pandemia foi um agravante para o uso indiscriminado dele.
Enquanto até 2020, os baianos usavam o cartão de crédito para emergências, como o conserto de um eletrodoméstico, reforma da casa e material escolar, agora, estão usando para o pagamento parcelado de necessidades básicas, como alimentação.
“A necessidade puxou e as operadoras ficaram cada vez mais apelativas, por isso, é preciso ficar atento às condições de contratação do cartão”, alerta o gerente da Serasa. Além do cartão de crédito, as maiores inadimplências são puxadas pelas contas básicas (20%) e pelo setor de Varejo (17%).
Feirão Serasa
Com a renda extra de dezembro, proporcionada pelo 13° salário, os empregos sazonais de fim de ano e oportunidades de negociações, fizeram a inadimplência recuar no Brasil pela primeira vez no ano passado, de acordo com o Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas da Serasa, pondo a Bahia como o quarto estado que mais negociou dívidas no período.
Mas sem essa ajuda, os números voltaram a crescer, como explicado anteriormente. Por isso, a Serasa retomou o Feirão Limpa Nome, um mutirão nacional de negociação, em que os baianos poderão quitar dívidas pagando até R$100. Para isso, a instituição reuniu 425 empresas de diversos ramos.
Entre os segmentos estão bancos, securitizadoras (empresas que compram dívidas), financeiras, empresas de telefonia, varejo, universidades e outros. Ao todo, estão sendo disponibilizadas 365 milhões de ofertas de negociações em todo o país, sendo que 113 milhões delas poderão ser quitadas por até R$ 100.
Para conhecer as ofertas, os interessados devem entrar no site serasa.com.br, ou baixar gratuitamente aplicativo da Serasa no Google Play ou na App Store. Também é possível negociar e pagar as dívidas por meio do Feirão, nas instalações do Correios. Neste caso, o serviço é feito mediante o pagamento de uma taxa, por isso, Daniel Bizanha indica que o procedimento seja feito online.
O gerente da Serasa também alerta para possíveis golpes, por isso ressalta que a renegociação das dívidas é feita somente pelo site da instituição e nos unidades do Correios. Para as duas modalidades, é necessário ter em mãos um documento com foto.
Passo a passo
1- Entre no site da Serasa ou baixe grátis nosso aplicativo no Google Play ou na App Store;
2- Realize o login na plataforma e clique em “soluções”;
3- Selecione a opção “validar meio de pagamento”;
4- Preencha o campo com o código recebido.
Atenção: caso o número não seja identificado, pode ser que o pagamento seja uma tentativa de golpe. Neste caso, a Serasa orienta que os dados sejam confirmados antes de realizar o pagamento (inclusive o beneficiário indicado)
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela