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A bajulação a Lula e os fatos ululantes

Em meio ao espetáculo de bajulação a Lula, ao qual assistimos no armazém de secos e molhados em que se transformou parte importante da imprensa brasileira (se é que foi transformação), os fatos vão se impondo e só nos resta ir precificando a fatura a ser paga lá adiante. 

Os fatos:

O governo Lula não tem plano nenhum para a economia, a não ser o de endividar pobre com carnezinhos gostosos, para recriar aquela ilusão da “nova classe C”, como fez nos seus primeiros dois mandatos. Em meados de janeiro, na posse da nova presidente do BB, o guia genial dos povos foi explícito quanto às suas intenções: “A minha conta agora vai ser do Banco do Brasil. E quero que seja o campeão do crédito consignado”. Crédito consignado, uma invenção do primeiro governo Lula, é como caderneta de boia-fria em loja de latifundiário: o devedor tem o dinheiro descontado diretamente do salário e acaba ficando sem as calças.

O grande timoneiro torpedeia a independência da autoridade monetária, coitada, porque a taxa Selic muito alta é empecilho para o crescimento baseado em consumo, além de aumentar o serviço da dívida do Estado perdulário que mora no enorme coração de Lula — enorme coração patrocinado pelos pagadores de impostos. Como a responsabilidade fiscal, ou o que restou dela, também é obstáculo para o governo gastar à tripa-forra, Fernando Haddad foi incumbido de criar um novo arcabouço fiscal, nome adequado para a carcaça que as contas públicas vão virar.

O governo Lula quer a Petrobras para chamar de sua outra vez. A empresa, caixa histórico do PT e de outros partidos tão honestos quanto, já sofre intervenção na sua política de preços, com a reoneração meia calabresa, meia mozarela sendo compensada por uma redução forçada no preço dos combustíveis. Para completar a calabresa e a mozarela da reoneração e, assim, “fechar a conta”, como disse Bernardo Appy, o governo decidiu pela taxação provisória, punitiva aos investidores da empresa, do óleo cru que a Petrobras exporta — em prejuízo também das demais petroleiras que exploram os campos leiloados pela ANP, o que pode configurar quebra de contrato.

Para os lulistas, o lucro dos acionistas da Petrobras é “indecente”. Compreende-se: decente é estourar o Tesouro com gastança assistencialista-eleitoreira, a pretexto de salvar os pobres — aliás, os primeiros a serem carbonizados pelo dragão da inflação, olha ela aí, gente. O reaparelhamento da Petrobras é questão de tempo.

O governo Lula tem ao lado de si uma esquerda que despreza a propriedade privada e que tem o MST como um dos seus tentáculos. Inerte durante o governo de Jair Bolsonaro, o MST já invadiu quatro fazendas no sul da Bahia. Sim, aquele mesmo MST que Lula elogiou, na campanha eleitoral, como “o maior produtor de arroz orgânico do Brasil”, para mentir que os seus integrantes não invadiam terras produtivas.

Três das fazendas invadidas são da Suzano, gigante que fabrica papel e celulose. O MST avisou que as invasões vão continuar. Até o momento, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, limitou-se a afirmar que ligaria para o MST e pediria a esses amigos do alheio que negociassem com a Suzano. A empresa conseguiu liminares para tirar os invasores, mas está difícil fazer com que o governo petista da Bahia as cumpra. Sabe como é, o MST apoia Lula e o pessoal do agronegócio é “fascista”. Merece, em lugar do império da lei, a terra de ninguém.

O governo Lula tem atração fatal por regimes autoritários. No dia 28, dois navios de guerra do Irã receberam permissão para atracar no Rio de Janeiro. À sorrelfa, oficiais da Marinha e diplomatas participaram de uma cerimônia para comemorar os 120 anos de relações diplomáticas entre os dois países. O Irã, pária internacional, alvo de sanções do Ocidente, tem como filhote o grupo terrorista libanês Hezbollah, arma com foguetes o grupo terrorista palestino Hamas e fornece drones para o tirano russo Vladimir Putin bombardear alvos civis na Ucrânia.

No plano doméstico iraniano, quem se rebela contra a ditadura dos aiatolás, é censurado, espancado, preso, torturado ou até morto. Atualmente, o Irã é palco de um grande movimento feminino que tenta livrar as mulheres do jugo medieval que lhes é imposto pela lei islâmica.  A permissão para que os navios de guerra iranianos atracassem no Rio de Janeiro foi adiada para depois da ida de Lula a Washington. O Departamento de Estado americano, por meio do seu porta-voz, criticou a confraternização com “um regime que é responsável por uma repressão brutal e violenta contra o seu próprio povo”.

Verdade seja dita, o governo Jair Bolsonaro também fez  aceno ao Irã, com a ida do então ministro Carlos França, a Teerã, para aprofundar laços comerciais. Mas a) dois erros não fazem um acerto; b) foi Lula a ser visitado e a visitar, no seu segundo mandato, o então presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, tratado como amigão. Juntinhos, ambos reclamaram  “uma nova ordem mundial” e protagonizarem a farsa de um acordo para o Irã não fabricar bombas atômicas.

Enquanto isso, no armazém de secos e molhados.

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