Fabricadas em laboratório, não sendo, portanto, produtos naturais, as drogas sintéticas são as que mais circulam nas estradas baianas. Os comprimidos de rebite e o ecstasy representam as maiores apreensões da Polícia Rodoviária Federal neste biênio em relação ao mesmo período do ano passado, superando as ações que retiraram também de circulação cargas de maconha e a cocaína.
De acordo com a PRF, as apreensões de rebite, substância derivada da anfetamina usada por caminhoneiros para permanecerem mais tempo dirigindo, somam 497 comprimidos, recolhidos entre janeiro e fevereiro de 2022, contra 775 nos dois primeiros meses de 2023 – um crescimento de 56%. Já o ecstasy, a PRF retirou das estradas 70 mil comprimidos neste biênio – não houve apreensão da droga no mesmo período do ano passado.
Já os resultados das ações de combate ao tráfico de maconha resultaram 202 kg em janeiro e fevereiro de 2023 – em 2022, o total no mesmo intervalo de tempo foi de 784 kg. Uma redução de 74%. A quantidade de cocaína retirada foi de 723 kg (2022) contra 10 kg (2023). Uma redução de 98%.
O fato das apreensões de drogas sintéticas ultrapassar as outras substâncias ilícitas, consideradas mais comuns nas rodovias, tem alguns motivos. “Tanto a possibilidade de comercialização pode ter crescido, ficando mais fácil de vender essas drogas, como também as nossas intensas fiscalizações têm contribuído na apreensão das quantidades, com abordagens mais direcionadas, juntamente com o uso de tecnologias”, declarou o inspetor Mário Henrique, chefe do Núcleo de Comunicação Social da PRF-BA
Rebite
A operação da PRF mais recente entre os meses de janeiro e fevereiro que tirou das estradas uma carga de droga sintética aconteceu no último dia 28, quando o motorista de uma carreta foi autuado pelo porte de 45 comprimidos de rebite na cidade de Itaberaba, na região da Chapada Diamantina.
Flagrante aconteceu na BR-242. Uma carreta Scania de placas do Rio Grande do Sul foi abordada no km 225 da rodovia. A equipe perguntou ao motorista se ele portava alguma droga para se manter acordado e o homem apresentou três cartelas de um “rebite” sem registro na Anvisa.
Para a situação, foi instaurado um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e o motorista se comprometeu a comparecer para responder em juízo. A PRF alerta que dirigir sob influência de “rebites” é infração gravíssima de trânsito, de acordo com o Art. 165 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
A droga à base de anfetamina estimula o sistema nervoso central e é utilizada geralmente por profissionais do volante para inibir o sono e se manter acordado por longas horas durante a viagem para garantir a produtividade. “Infelizmente, é muito consumida por caminhoneiros para poder tentar fazer viagens mais longas, não cumprindo o tempo de descanso conforme a lei, colocando muitas vidas em risco, por estar dirigindo sob efeito de uma substância psicotrópica, principalmente, porque, depois que passa o estado de alerta, o motorista sofre uma espécie de apagão, momento em que passa o efeito da droga e vem a sonolência”, explicou Mário Henrique.
Segundo o inspetor, o rebite é “uma droga hoje que circula por todo o território nacional”. “Existem muitos laboratórios espalhados pelo. É usada para substituir a cocaína, que é uma droga cara e dá uma falsa sensação de bem-estar semelhante aos efeitos da cocaína, então por isso está sendo muito utilizados nas rodovias, em postos de combustíveis, principalmente, onde são realizados pontos de parada dos caminheiros”, declarou.
Drogas sintéticas superam mocanha e cocaína nas rodovias baianas (Foto: Divulgação/PRF) |
Rota
Só nas rodovias e estradas que cortam a Bahia, a PRF apreendeu, de janeiro a dezembro de 2022, 286.451 unidades de comprimidos de rebites – o número é 70 vezes maior em relação ao ano de 2021, quando 4.085 unidades da substância foram apreendias no estado. Os valores representam mais de 70% do total de apreensões no país em 2022. Feira de Santana lidera o ranking com 282 mil unidades de comprimidos da droga em uma única ocorrência, na BR 116.
Segundo a PRF, a grande maioria das apreensões são em pequenas quantidades, indicando o porte da droga para consumo próprio. Entretanto, a quantidade encontrada em Feira levanta a suspeita de que a cidade estaria sendo utilizada como rota de abastecimento. “Feira de Santana é um grande anel rodoviário que temos no estado, com saída para vários lugares, tanto dentro do estado quanto para fora”, disse o inspetor.
A ação que ocasionou a apreensão dos comprimidos em Feira fez parte da Operação Cerco Fechado, focada no combate ao tráfico de drogas e armas. Foi estimado um prejuízo de R$ 1,69 milhão aos traficantes. Os pacotes de anfetamina foram localizados em uma caixa que estava no bagageiro de um ônibus. O casal responsável pelo material foi preso pelo crime de tráfico de drogas.
Entidades
A reportagem procurou algumas entidades ligadas aos trabalhadores em rodovias, como a Cooperativa de Caminhoneiros da Bahia (CCBA), através de um de seus representantes, Washington Machado, mas ele não atendeu às ligações e nem respondeu às mensagens. Por telefone, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Terrestres (CNTTT) informou que enviaria um posicionamento, mas até o momento nenhum documento havia chegado à redação. A reportagem procurou também o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Intermunicipais de Cargas de Salvador (Sindicar), através de telefone divulgado em sua página na internet, mas ninguém atendeu.
Ecstasy
Um dia antes da abertura oficial do Carnaval de Salvador, uma adolescente foi flagrada transportando aproximadamente 70 mil comprimidos de ecstasy na cidade de Feira de Santana., quando uma equipe da PRF abordou um ônibus no Km 429 da BR 116, que fazia o itinerário Rio de Janeiro (RJ) – Natal (RN).
Após revista, a equipe encontrou parte da com uma das passageiras e o restante – a maior quantidade – na bagagem dela, que estava no compartimento externo do ônibus, embalada a vácuo e já pronta para venda. A apreensão é considerada a maior já feita no país neste ano.
A passageira entregou aos policiais uma carteira de identidade falsa e confessou que era menor de idade e disse também que recebeu a droga em São Paulo (SP) e levaria todo o material ilícito para Natal (RN). “Mas nada a impedia de fazer a entregas aqui também”, disse o inspetor.
De acordo com ele, o ecstasy é conhecido como “pílula” do prazer. “ A substância produz alterações no sistema nervoso central e são geralmente usadas em festas frequentadas por jovens, provocando euforia e alucinações. Se usado em altas doses, pode provocar convulsões, parada cardiorrespiratória e até morte”, declarou.