Vamos anexar o texto da coluna de hoje ao inquérito policial de Sergipe x Botafogo, apresentando ao doutor delegado a materialidade do dolo.
Verifica-se o “dólo” na investigação de clubecídio e nordestinofobia, pois além da autoria, seria acrescentada a intenção de matar. Eu dizia “dôlo” (errado, com O fechado) até um juiz digno da magistratura, Anderson Bastos, me corrigir. (Isso foi quando servi ao Poder Judiciário. Aprendi com magistrados desta magnitude como é bom ser honesto, em vez de aderir…).
Vamos à prova do ilícito: oito minutos de acréscimos, mais um. Somando, dá 54 minutos. O gol saiu aos 54… e 38 segundos! E tantos seriam concedidos até sair o empate! Estão provados, na precisão inexcedível de Cronos, o roubo e o dolo.
Faltam vergonha aos cúmplices tagarelas, na gaveta dos maus, e competência ao suposto ladrão, para furtarem na manha, pois se continuarem escancarando, pode sujar para investidores, intermediários e afins multimídia.
Não soube roubar o danado lalau, ao contrário da fábula de Nelson Rodrigues, na qual o soprador é tão ético, mas tão ético, a ponto de deixar-se subornar pelos dois times, pulando cercas ao final do jogo, escorraçado por todos.
Vamos ao debate moral: qual time saiu apequenado, aquele superdotado de mimos ou o Sergipe fiel à dignidade do desporto?
Vai depender do caráter da pessoa. Se vale passar o rodo, não importa como, pois o mocinho seria o “carióóca”, tudo bem. Mas se prevalecem a honradez dos cangaceiros de muito menor remuneração e condições de trabalho, eliminados à traição, como na Angico de 1938, nosso Sergipe meteu foi de goleada.
Privilegiada por tudo, do mercado ao apito, a Estrela já não se diz Solitária: era seu dever golear por uns 10 ou talvez 20×0, em vez de afogar-se no Rio dos Siris (si-ri-u-pe, em tupinambá).
Davi acertou a funda na testa do gigante, ao enfiar-lhe a peixeira afiada de Zé Sereno Potiguar. Mas na “vida como ela é…” (Nelson Rodrigues) foi Golias quem levou a rapadura.
Um Golias incapaz de se garantir, frouxo, recorreu a sua laia de coiteiros, virou um flamengo. Desde o menor sirizinho ao governador, Sergipe tem raça pra escarreirar esta malta. Sorte dos cabra foi Lampião, Cacheado, Volta Seca e Meia Noite não terem ido ao Batistão.
Há entre os ‘sulistas’ exceções dignas do mocofato, mas os biltres pululam: no fundo ladeles, desejam é oferecer o fio-fó ao bando – e a doação seria lícita, diga-se. Morrem de inveja do forró, do baião, do xote e do xaxado (tem diferença).
Sergipe tem cada caranguejão massa, habitado por gente habituada, não a práticas maliciosas, mas à saudável “pontaria”, na cama ou na caatinga.
O embate revela o Brasil como ele é, as vantagens ficam lá por baixo: desde a Coroa, nos rebelamos (conheça a história!) e lutamos por justiça, por isso somos tratados desse jeito.
Temos aqui, neste Boletim de Ocorrência, a chapa do raio-x deste país em metástase. Pois esta coluna proclama o Sergipe CAMPEÃO DO BRASIL. Prezado presidente, fineza providenciar a entrega das faixas.
Vamos “Dadá” ao goleiro Dida Corisco a “Maria Bunita” Taça Virgulino Ferreira, e eternizar, em letra de mármore de carrara, esta frase: “Você é uma vergonha, CBF, UMA VERGONHA!”
Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.