Cerca de 170 mil sinistros de trânsito registrados em estradas nacionais em 2022 tiveram como causa principal ou secundária questões relacionadas à condição de saúde dos motoristas. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), somente o sono motivou 961 mortes e deixou 7,5 mil feridos ano passado. Em comparação com o ano anterior, o número de sinistros relacionados a esse fator aumentou em 25%.
“Observamos que um terço dos mortos e feridos nas rodovias monitoradas pela PRF podem ter sido acometidos por problemas como déficit de atenção (permanente ou circunstancial), deficiências visuais, distúrbios de sono e comprometimento motor ou de raciocínio ”, pontua Antônio Meira Júnior, presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).
Assim, mais de 50 mil pessoas ficaram feridas e outras 5 mil morreram em cerca de 119 mil sinistros ocorridos em 2022 por falta de resposta imediata às circunstâncias que comprometeram a direção. “Diversos fatores podem comprometer o tempo de reação, julgamento, visão e dificuldades no processo da informação e memória de curto prazo do condutor”, alerta o diretor científico da Abramet, Flávio Adura.
A ingestão de bebida alcoólica é outra causa mais frequente, no que diz respeito à saúde de quem conduz. Foram mais de 28,6 mil sinistros nas rodovias, só no ano passado, que deixaram um saldo de 10,8 mil feridos e pelo menos 1,2 mil mortos.
“Sabe-se que o álcool compromete o reflexo dos motoristas. Se fosse apenas isso, já não seria pouco, mas também reduz a capacidade de percepção da velocidade e dos obstáculos, reduz a habilidade de controlar o veículo, diminui a visão periférica, prejudica a capacidade de dividir a atenção e aumenta o tempo de reação”, alerta Flávio Adura.
Já o chamado mal súbito levou à morte ou ao ferimento de mais de 2 mil pessoas. Esse fator engloba situações como perda de consciência devido a doenças cardiológicas (infarto, arritmias) e neurológicas (AVC, convulsões).
Segundo os dados analisados, 80% dos sinistros foram motivados exclusivamente pelo fator humano. Além das causas relacionadas direta ou indiretamente à situação clínica dos condutores (fadiga, estresse, cansaço, déficit de atenção ou comprometimento do raciocínio), são comuns fatalidades relacionadas à imprudência ou transgressão às leis de trânsito. A entidade aponta que é possível atribuir ao veículo 5% dos sinistros e, aos fatores via e ambiente, 13%.
Números totais são maiores
As informações contemplam apenas os sinistros registrados nas estradas e rodovias sob supervisão da PRF. Não foram contabilizados, portanto, transtornos em colisões que acontecem em pistas, ruas e avenidas dos centros urbanos. Com isso, avalia o presidente da Abramet, “o quadro pode ser muito pior, pois um número importante de colisões não entra nas estatísticas”