Transparência e ética devem ser pilares indispensáveis em organizações públicas ou privadas.
A cada mudança de governo, seja no âmbito municipal, estadual ou federal, somos confrontados com uma situação peculiar que envolve a nomeação de ocupantes de uma série de funções na administração pública. Ainda que na maioria das vezes, as indicações para cargos em comissão considerem a qualificação e a experiência necessárias para as posições a serem preenchidas, em muitos casos é evidente a influência de posicionamento político ou relações pessoais ou familiares. Que, em algumas delas, chega a se sobrepor às qualidades e talentos dos postulantes. Importante salientar que tal situação não se restringe à esfera pública.
A prática do aparelhamento de órgãos técnicos, governamentais ou privados, com o intuito de atender interesses específicos ou pessoais, é condenável. Tal ato coloca em risco a ética, a imparcialidade e a isenção na condução da gestão pública ou privada. Quando profissionais que ocupam cargos de liderança agem de forma ideológica, colocam em risco a credibilidade e a confiança da organização perante a sociedade e seus stakeholders, podendo afetar gravemente a reputação e gerar prejuízos financeiros e de imagem.
Em muitas situações, o processo de escolha de dirigentes de uma organização ou ocupantes de cargos dá margem a favorecimentos e retribuições que põem em risco a eficiência da gestão e o desempenho. Não é raro que empresas ou pessoas envolvidas nessas negociações sejam posteriormente beneficiadas com contratos de serviço celebrados sem uma análise prévia criteriosa, justa e transparente das condições oferecidas. É o chamado conflito de interesse.
Esses conflitos são prejudiciais às instituições, sejam elas empresas, organizações governamentais ou não governamentais. Quando não detectados e tratados adequadamente, geram problemas, além de comprometerem a ética e transparência. Para evitá-los, é imprescindível haver mecanismos de controle que garantam a observância de critérios técnicos e de qualidade nas contratações.
Da mesma forma, critérios de qualificação e comprovada experiência devem pautar a escolha dos ocupantes de cargos. Para isso, é fundamental ter um sistema de governança bem estruturado, com procedimentos internos e mecanismos de controle eficazes para garantir a integridade da gestão e o sucesso da organização. Somente com essa estrutura sólida e bem definida é possível garantir a escolha dos melhores líderes para uma organização ou instituição.
A falta de procedimentos internos claros abre espaço para escolhas baseadas em fatores subjetivos, como popularidade ou relações pessoais, em vez de qualificações técnicas e habilidades em gestão. Além disso, a ausência de mecanismos de controle pode permitir práticas inadequadas ou até mesmo ilegais, como corrupção, nepotismo e favorecimento de grupos específicos, comprometendo a integridade da instituição e afetando negativamente sua credibilidade perante a sociedade.
É necessário que a transparência e a ética sejam valores essenciais à cultura de qualquer órgão ou organização, de forma que não haja espaço para práticas ilegais ou antiéticas. A implementação de uma cultura forte, com a adoção de códigos de conduta e políticas de integridade, também é importante para prevenir a ocorrência de conflitos de interesse e outras práticas que possam prejudicar a gestão, a reputação e os resultados.
Paulo Gomes é diretor-geral do Instituto dos Auditores Internos do Brasil – IIA Brasil.