InícioEditorialPolítica NacionalLíder quilombola assassinada relatou ameaças a ministra do STF

Líder quilombola assassinada relatou ameaças a ministra do STF

Filho afirmou que Bernadete foi morta por mesmo grupo que assassinou seu filho Binho; casa tinha câmeras de vigilância

Divulgação/Conaq

Maria Bernadete Pacífico coordenava nacionalmente movimento quilombola

A líder quilombola Maria Bernadete Pacífico, de 72 anos, executada a tiros na noite desta quinta-feira, 17, na Bahia, denunciou ameaças que ela e outros membros da sua comunidade, Pitanga dos Palmares, sofriam durante encontro com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, em julho deste ano. A reunião aconteceu na comunidade Quingoma, em Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador. Em seu discurso, Mãe Bernadete, como era conhecida, falou de sua luta pelo esclarecimento da morte do filho, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, o Binho do Quilombo, assassinado em 2017 por homens armados, e contou que também estava sendo ameaçada.

“Para a senhora ter uma ideia, até hoje não sei o resultado do assassinato do meu filho. Abalou todo mundo. Foi no mesmo período em que aconteceu a morte de Marielle (Franco, vereadora assassinada no Rio). Inclusive, eu fui em diversos encontros com a mãe de Marielle. É injusto. Recentemente, perdi outro amigo e uma amiga em quilombo. É o que nós recebemos: ameaças, principalmente de fazendeiros, de pessoas da região”, disse à ministra. Em nota divulgada nesta sexta-feira, a ministra Rosa Weber disse lamentar profundamente a morte. “Mãe Bernadete, que me falou pessoalmente sobre a violência a que os quilombolas estão expostos e revelou a dor de perder seu filho com 14 tiros dentro da comunidade, foi morta em circunstâncias ainda inexplicadas”, disse a ministra.

As autoridades locais devem adotar providências para o urgente esclarecimento e reparação do acontecido, destacou Rosa Weber, “a fim de que sejam responsabilizados aqueles que patrocinaram o covarde enredo e imediatamente protegidos os familiares de Mãe Bernadete e outras lideranças locais”. “É absolutamente estarrecedor que os quilombolas, cujos antepassados lutaram com todas as forças e perderam as vidas para fugir da escravidão, ainda hoje vivam em situação de extrema vulnerabilidade em suas terras. Assim como é direito de todos os brasileiros, os quilombolas precisam viver em paz e ter seus direitos individuais respeitados”, acrescentou. Em nota publicada no Twitter, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também manifestou pesar. “O governo federal, por meio dos ministérios da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e Cidadania, mandou representantes e aguardamos a investigação rigorosa do caso. Meus sentimentos aos familiares e amigos de Mãe Bernadete.”

Defesa da cultura quilombola

De acordo com o filho Wellington Pacífico, no momento em que foi dominada pelos criminosos, Bernadete estava acompanhada dos netos que costumavam frequentar e dormir em sua casa. Segundo ele, a mãe “incomodava gente poderosa”, envolvida na morte do filho Binho. “É um crime de mando, são as mesmas pessoas. Se o governo, a polícia, a Justiça quiserem resolver esse crime está fácil. A casa tem câmeras”, disse, em entrevista. “Se a Justiça quiser resolver, ela resolve. Eu sei que sou o próximo alvo. Mas eu não tenho medo. Vou continuar lutando pelos meus direitos, porque quilombola é resistência”, disse.

* Com informações do Estadão Conteúdo

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