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Sucessão de Leite no PSDB tem Aécio fortalecido e tentativa de contornar disputas

Foto: Maurício Tonetto/Divulgação

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite 27 de novembro de 2023 | 07:08

Com a decisão do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, de não continuar à frente do PSDB, o partido chega à semana da sua convenção nacional com parte das disputas internas equalizada numa chapa única para o diretório nacional, mas restam controvérsias em relação a cargos da executiva.

A convenção está marcada para quarta-feira (29), com votação pela internet, e quinta-feira (30), com votação presencial em Brasília.

O ex-governador e ex-senador Marconi Perillo, de Goiás, é favorito para comandar o partido, embora outros nomes ainda sejam ventilados para presidir a executiva, como o líder da bancada na Câmara dos Deputados, Adolfo Viana (BA), o ex-senador José Aníbal (SP) e até o próprio Leite, que mantém a preferência da maioria por ser uma escolha mais consensual.

O processo de escolha da cúpula tucana evidenciou a influência do deputado federal Aécio Neves (MG), que integrará a nova executiva como todos os ex-presidentes do PSDB, incluindo Leite. A maioria dos membros do futuro diretório é ligada ao ex-governador e ex-senador mineiro, que foi quem indicou o nome de Perillo –restou a Leite aderir à composição.

Aliados do gaúcho minimizam a disputa de poder entre Aécio e Leite, que a princípio tentou emplacar o ex-senador Tasso Jereissati (CE) na presidência do partido, mas houve veto do mineiro. Na visão deles, ambos têm boa relação e não há alternativa para um partido combalido como o PSDB senão a unificação.

“A mim só interessa [ser presidente do PSDB] se for para fazer um trabalho amplo e plural”, diz Perillo à Folha, ressaltando não ter pretensão de comandar o partido.

Para ele, o próximo presidente do PSDB terá o “trabalho hercúleo” de comandar as eleições municipais, atrair parlamentares e novos nomes, se reconectar com eleitorado e apresentar novas propostas, o que exige tempo e dedicação.

O recuo de Leite na presidência do PSDB, segundo tucanos ouvidos pela reportagem, foi considerado compreensível diante das demandas do governo do estado, que acumula uma série de tragédias causadas pelas chuvas.

De qualquer forma, dizem, o projeto de lançá-lo à Presidência da República em 2026 segue como prioridade no partido, pois ter um presidenciável seria essencial para que a sigla não encolha ainda mais.

Já Aécio Neves, agora absolvido pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região da acusação de corrupção no caso JBS, quer se dedicar à atuação política em Minas Gerais –a ideia é que ele concorra ao governo do estado em 2026.

No entorno de Leite, a leitura é a de que ele manterá seu protagonismo na condição de presidenciável e Perillo não deve atuar como um interventor de Aécio.

Em nota, Aécio afirma que a liderança de Leite é inconteste e que ele “é a nossa grande figura e a nossa grande aposta para 2026”. O deputado define a escolha da nova executiva como harmoniosa, convergente e democrática e reforça o papel de oposição do PSDB ao governo Lula (PT).

Na nova fase, tucanos cobram contundência do partido na crítica ao petista, algo que Leite não tinha condições de fazer na posição de governador, dependente de verbas federais e obrigado a manter boa relação com o Planalto.

Leite, no entanto, enfrenta oposição da ala do PSDB paulista ligada aos ex-governadores João Doria e Rodrigo Garcia (PSDB). Uma vez no comando da sigla, o gaúcho interveio para destituir o comando tucano no estado e na capital e, ao menos provisoriamente, seus aliados Paulo Serra, prefeito de Santo André, e Orlando Faria, ex-secretário municipal, passaram a exercer o domínio local.

Por isso, Fernando Alfredo, presidente afastado do PSDB paulistano, que chegou a ser reeleito em convenção não reconhecida por Leite, diz preferir que o partido lance Aécio para o Planalto em 2026 no lugar do gaúcho.

Também apoiador de Marconi Perillo, Alfredo afirma esperar que, se eleito presidente do PSDB, o ex-governador desfaça as medidas de Leite em São Paulo –os aliados do gaúcho dizem o contrário, que nada será revisto pela nova executiva.

“Leite não respeitou a política e não respeitou São Paulo. A próxima executiva deve corrigir os equívocos que ele cometeu. É isso que se desenha”, completa Alfredo, que tem o apoio de vereadores e deputados para manter-se à frente do diretório na capital.

A partir de terça-feira (28), os tucanos devem se reunir em Brasília para acertar os postos da executiva. A preocupação é que os estados mais importantes na hierarquia tucana, como São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, estejam contemplados.

As disputas são para definir secretário-geral, tesoureiro e vice-presidente da sigla. Hoje a secretaria é ocupada por um aliado de Aécio, o deputado federal Paulo Abi-Ackel (MG), e a tesouraria por um aliado de Leite, Paulo Serra. Além dos dois, outros nomes cotados para esses postos são Rodrigo Garcia e Reinaldo Azambuja (MS).

Apesar de certos entraves, políticos do partido demonstram otimismo e afirmam que a convenção deste ano tende a ser mais tranquila do que edições passadas. Em 2019, Bruno Araújo foi eleito com o apoio de Doria em meio a uma disputa com aecistas por vagas na executiva –as desavenças em torno do ex-governador só se ampliaram desde então, até que ele deixou o PSDB em outubro de 2022.

Em janeiro deste ano, Araújo entregou o comando do PSDB para Leite de forma provisória, e o governador adiou para novembro a convenção nacional inicialmente prevista para maio.

A opção de Leite para sucedê-lo era Tasso, e uma chapa começou a ser montada nesse sentido, embora muitos duvidassem da disposição do ex-senador de assumir o partido.

Aécio, no entanto, passou a articular uma chapa alternativa para eleger Perillo devido a uma briga com Tasso pelo comando do partido em 2017, após o mineiro ter se afastado com o escândalo da JBS.

Leite, então, resistiu a ceder a Aécio e buscou emplacar Aníbal, mas tampouco houve consenso. Como o mineiro montou uma chapa mais robusta e não havia grande objeção a Perillo, acabou fortalecido no processo de unificação das chapas.

Em outubro de 2018, Perillo chegou a ser preso por um dia em uma operação que investigava pagamento de propina em campanhas eleitorais. Em 2022, o STF (Supremo Tribunal Federal) anulou a operação por considerar que a competência não era da Justiça Federal, mas da Justiça Eleitoral.

“Esse processo foi uma aberração política e jurídica, com absurdas ilegalidades, tanto que foi anulado pelo STF. Estou tranquilo em relação a isso”, diz Perillo.

Carolina Linhares/Folhapress

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