Foto: Reprodução/X(Twitter)
Deputada Sydney Kamlager Dove 12 de março de 2024 | 09:02
Uma delegação de congressistas americanos da bancada negra viajará ao Brasil dos dias 24 a 29 de março. O grupo deve visitar um quilombo em Brasília, ter reuniões com governo e parlamentares e finalizar a agenda em um terreiro em Salvador. As informações foram antecipadas para a Folha.
O objetivo é chamar a atenção para o Japer, sigla em inglês para Plano de Ação Conjunta para Eliminar a Discriminação Racial e Étnica, e discutir sua implementação. O acordo foi fechado entre Brasil e Estados Unidos em 2008 para estabelecer esforços conjuntos de combate ao racismo.
Participarão da comitiva os deputados Sydney Kamlager-Dove, que também é presidente da bancada brasileira no Congresso dos EUA, e Jonathan Jackson. Os dois serão acompanhados por representantes do Fundo de Defesa Legal da Naacp, organização histórica do movimento negro americano, da Mothers Against Police Brutality (mães contra a brutalidade policial) e da Universidade Howard.
“O objetivo de trazê-los nesse momento é fortalecer a agenda do Japer. Estamos em um momento estratégico de saber com as autoridades o que eles vão fazer com todos os documentos que foram produzidos em 2022 e 2023, e pensando que ainda temos mais dois anos de governo Lula pela frente”, diz Rodnei Jericó da Silva, diretor do Programa Brasil no Instituto Internacional sobre Raça, Igualdade e Direitos Humanos, organização que está financiando a viagem da comitiva.
Ele afirma que a ideia é que o governo federal desenvolva um olhar específico para esse acordo e para o avanço dos direitos da população afro-brasileira e indígena. Outro objetivo é envolver o Congresso no Japer e oferecer um espaço para organizações da sociedade civil se apropriarem de documentos internacionais que apontam violações e fazem recomendações concretas ao Brasil.
Para Kamlager-Dove, a viagem é uma oportunidade para revigorar o papel da bancada negra na política externa americana em relação às populações afrodescendentes.
No dia 24, a comitiva vai visitar o Quilombo de Mesquita, próximo de Brasília. No dia seguinte, há reuniões previstas com o Ministério da Igualdade Racial, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do Ministério da Educação, a Assessoria Especial para Equidade do Ministério da Saúde e as assessorias de Participação Social e Diversidade do Ministério da Justiça e do Itamaraty.
No dia 26, a delegação participa de um café da manhã com a Frente Parlamentar Antirracista do Congresso brasileiro. Segundo Rodnei, deputados indígenas e da frente LGBTQIA+ também estarão no evento.
Depois, a comitiva segue para encontros com o Conselho Nacional de Justiça e embaixadas –até agora, estão confirmadas as representações de EUA, Alemanha e Holanda.
No fim do dia, eles participam de um evento sobre o Japer com o objetivo de articular a sociedade civil americana e brasileira.
De 27 a 29 deste mês, a comitiva estará em Salvador. Estão previstos na agenda encontros com políticos locais e candidatos nas eleições municipais, afirma Rodnei. Um dos objetivos é discutir a violência política contra negros e indígenas, diz.
À tarde, o grupo tem novo encontro com a sociedade civil em um evento na Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Do lado brasileiro, devem participar organizações como Criola, CEN (Coletivo de Identidades Negras), AMIM (Associação das Mulheres Indígenas em Mutirão), Fundação Steeve Biko, Selo
Juristas Negras e Defensoria Pública da Bahia.
A viagem termina com uma visita ao terreiro Mãe Jaciara com o objetivo de discutir racismo religioso no Brasil. “Esse tema não faz parte do Japer, mas achamos importante abordar”, afirma Rodnei.
“Essa viagem para mim ressoa como uma volta para casa para se reunir com sua família”, afirma o deputado Jackson. “Levarei também a saudação de meu pai, o reverendo Jesse L. Jackson, que visitou e trabalhou com brasileiros por mais de uma década no combate ao racismo e com justiça racial e na defesa de mais diversidade nos setores público e privado.”
“Os negros brasileiros e os negros americanos continuam sofrendo racismo e injustiça agudos, ecoando a discriminação profundamente enraizada, a negação de direitos e os abusos que se estendem por séculos”, diz Janai Nelson, presidente e diretor-conselheiro do Fundo de Defesa Legal da Naacp.
Folha de S. Paulo