A princípio, ao pensar no Sudeste e no Sul, as regiões mais desenvolvidas do Brasil, apoiar para prefeito de uma grande capital um sacripanta como Pablo Marçal pareceria algo capaz de acontecer no Rio de Janeiro, e em nenhum outro lugar.
Pelé, uma vez, disse que o povo não sabe votar e o mundo desabou na cabeça dele. Não me arrisco a dizer que os moradores do Rio não sabem votar. Mas, desde a redemocratização do país, apenas dois governadores do Rio não foram investigados por corrupção.
A saber: Leonel Brizola e Marcello Alencar. Outros três, vices que assumiram temporariamente o cargo, também não foram investigados por corrupção: Nilo Batista, Benedita Silva e Francisco Dornelles. Cinco governadores já foram presos.
O atual, Cláudio Castro (PL), foi indiciado pela Polícia Federal por suspeitas de corrupção passiva e peculato em um esquema de desvio de recursos públicos do Estado. Virou um governador pato manco, que se assusta ao ouvir a sirene de uma ambulância.
Manda a cautela que esperemos a próxima pesquisa Datafolha para saber se a candidatura de Marçal (PRTB) está aos saltos e ladeira acima, como sugere a que foi divulgada na última quinta-feira (22). Pode estar. Pode ter sido apenas um soluço. A ver.
Se estiver ladeira acima, os orgulhosos paulistanos, que já foram governados de 1985 para cá por prefeitos acima de suspeitas (à exceção de dois: Paulo Maluf e Celso Pitta) e que se revelaram bons administradores, estarão diante de um baita desafio.
O que fazer para impedir que se eleja prefeito um sujeito de péssima reputação, condenado no passado por falcatruas em bancos, parceiro de pessoas suspeitas de ligações com o crime organizado, e candidato sem ideias de um partido de aluguel?
Marçal promete revelar em breve as ideias que diz ter para governar a mais populosa e importante cidade do país. “Não é isso o que vocês querem?” – ele perguntou, ontem, a um grupo de jornalistas. Outro dia, ele falou em encher a cidade de teleféricos.
Falou em construir o mais alto prédio da América Latina. E, num surto de falsa humildade, pediu perdão porque, para chegar aonde chegou, sentiu-se obrigado a “chamar atenção de um jeito” que talvez não tenha agradado a uma grande parcela de eleitores.
É possível acreditar em quem se tornou famoso por mentir compulsivamente, a exemplo do seu mentor? A resposta é sim. Bolsonaro construiu sua carreira à base de mentiras e quase se reelegeu presidente. Marçal não passa de uma cópia dele.