Se o Supremo Tribunal Federal quiser deixar de ser vidraça e agradar a maioria das forças políticas do país, que puna sem demora Pablo Marçal, se possível mesmo antes de punir Bolsonaro. O ex-coach, que bagunçou a eleição para prefeito de São Paulo, incorreu em crimes suficientes para se tornar inelegível.
A gritaria não será grande caso ele seja decapitado. Isso não impedirá o surgimento de outros Marçais. Muitos deles já surgiram e só esperam a hora de subir ao palco. Alguns estão na coxia a observar e a aprender com o desempenho do seu ídolo. A punição de Marçal serviria de exemplo para eles.
A direita que se diz civilizada, mas que teria votado em Marçal para derrotar Guilherme Boulos (PSOL), agradecerá à justiça o ato supremo de banir da política o candidato mais antissistema que apareceu até agora. Comparado a Marçal, Bolsonaro, e antes dele Fernando Collor, não passaram de amadores.
O chamado centro, ou seja, a direita que por vergonha ou conveniência não se apresenta como tal, também agradecerá. E a esquerda, com todos os seus matizes, essa agradecerá de joelhos, dando graças a Deus. Para o público externo, a esquerda diz que não foi tão mal na primeira etapa das eleições municipais.
Mas para o público interno, ela confessa que foi. E que se não mudar daqui por diante, colherá sucessivos fracassos, mesmo que Lula consiga se reeleger em 2026. Lula não se sente culpado por nada – joga a culpa no PT e nos seus aliados. Sempre foi assim e sempre será. Não quer dizer, porém, que ficou cego. Está velho.
Lula jamais deixou que ninguém se criasse à sua sombra a ponto de ameaçá-lo. Que outro líder do seu porte, aqui ou lá fora, deixou? Poder não se entrega, toma-se. Poder é uma coisa boa demais para que se perca. Pelo poder, mata-se reputações e pessoas, como faz impunemente o atual primeiro-ministro de Israel.
Ou o PT se renova ou sobreviverá à base de espasmos, ora ganhando pouco, ora perdendo feio. Começa-se a discutir ali o que deve ser feito para renová-lo. Qualquer tipo de renovação verdadeira, contudo, implica numa troca de peças. Esbarra-se, pois, na luta interna pela manutenção do poder. Aí reside o nó.
Nem que Lula viesse a concordar com uma renovação mais ampla dos quadros do PT, ela ocorrerá no curto ou médio prazo. A Lula só resta uma alternativa: governar cada vez mais pela direita. É o que fará doravante, e seguirá fazendo, se reeleito. Não se fala que o país é de direita e deve ser governado, no máximo, pelo centro?
Uma fotografia famosa, tirada tão logo ele se elegeu presidente pela primeira vez em 2022, mostra Lula fingindo tocar um violino. Combinaria com o que disse, um dia, o então senador Esperidião Amin (SC): “Ganha-se eleição pela esquerda, mas toca-se o poder pela direita”. Lula jamais esqueceu a lição.
Lula tomará o poder pela esquerda e governará pela direita, se eleito