Na cidade de Coronel Pilar (RS), na Serra Gaúcha, o Partido dos Trabalhadores (PT) garantiu a maioria dos votos válidos e levou a melhor sobre o Partido Liberal (PL) na disputa pela prefeitura neste ano. O placar reverte o cenário de 2022, quando Jair Bolsonaro (PL) conquistou a maioria dos votos válidos. Essa mudança de fluxo, da direita para a esquerda, se repetiu em 135 cidades brasileiras, conforme mostra levantamento do Metrópoles.
Das prefeituras conquistadas pela esquerda neste ano, 52 são do Partido Socialista Brasileiro (PSB). O Partido Democrático Trabalhista (PDT) levou outras 52, e o PT, 31. Para o levantamento, a reportagem analisou dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) relativos às Eleições Municipais de 2024 e às Eleições Gerais de 2022.
Em Coronel Pilar (RS), onde a direita teve 78% dos votos, em 2022, Ivan Agatti (PT-RS) e Lucas Antoniolli (PL-RS) travaram a disputa pela prefeitura da cidade no pleito deste ano. O candidato do Partido dos Trabalhadores superou o candidato do Partido Liberal, garantindo 63,5% dos votos válidos, e foi eleito prefeito pelos próximos quatro anos.
Veja a lista de cidades:
O levantamento do Metrópoles ainda aponta que o Rio Grande do Sul concentra 52 dessas cidades que registraram vitória da direita em 2022, mas que agora serão comandadas pela esquerda. Na sequência figura o Espírito Santo, com 16 cidades, e Minas Gerais, 14.
O professor de ciência política e administração pública da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Rodrigo Horochovski destaca que esses movimentos na política brasileira não são estranhos. Ele considera que esse tipo de mudança pode refletir fatores como a mudança na Presidência da República e uma “reacomodação política”.
“Temos um presidente da República que, embora lidere uma frente mais de centro, que foi muito mais anti-bolsonarista do que orientada ideologicamente pela esquerda, é um governo identificado com a esquerda”, indica. “É um recurso de poder importante. Contar com o Executivo Federal pode explicar, em parte, este fenômeno”.
Horochovski considera que o resultado apresentado pelas eleições municipais demonstra, principalmente, uma reacomodação do sistema político após um crescimento dos personagens que se apresentam como “antissistema”, especialmente em 2018.
“O que nós vemos, no fundo, inclusive o fenômeno do centrão tem a ver com isso, é um retorno ao que mais ou menos era a política brasileira em sua tradição. Com a sua correlação de forças mais clássica, mais tradicional, embora, digamos assim”, destaca. “Então, há uma mudança no cenário da política nacional nos últimos dois anos, e eu diria que essa mudança é uma reacomodação. E dela, até o PT se beneficia”, exemplifica.
Eleições 2024
No primeiro turno, eleitores de mais de 5,5 mil municípios foram às urnas para definir quem ocupará, pelos próximos quatro anos, os cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador. Mais de 120 milhões de brasileiros exerceram o direito de voto, o que corresponde a mais de 78% do eleitorado.
Em mais de 50 cidades brasileiras, entretanto, a população terá de regressar às urnas no dia 27 de outubro para o segundo turno da disputa. Segundo informações da Justiça Eleitoral, são 15 capitais na disputa. Vale destacar que a legislação eleitoral prevê essa possibilidade somente para aqueles municípios com mais de 200 mil eleitores.