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Referendado para perder

A política alemã muito mudou desde a saída de Angela Merkel da chancelaria. Após 16 anos de um nome forte interna e externamente, a maior economia da Europa entrou em um período de estagnação econômica permeado por três anos de um governo apático e que será facilmente esquecido. O político pacato de Hamburgo, que chegou à liderança de um dos partidos mais importantes da Alemanha, Olaf Scholz, jamais pensou que realmente se tornaria Chanceler do país algum dia. Sua campanha feita de maneira sóbria e os graves erros da oposição conservadora em apontar Armin Laschet, político igualmente pouco carismático, como candidato, lhe trouxeram grande responsabilidade em tempos de crise.

Para sermos justos com o Chanceler Scholz, assumir o país durante a segunda grande onda de contaminações da Covid-19 não foi nada fácil e para piorar um cenário já desastroso, antes de completar seis meses no cargo, a Guerra da Ucrânia eclodiu, trazendo enormes incertezas econômicas e geopolíticas para toda a Europa. Em tempos adversos, outros chanceleres mais habilidosos politicamente conseguiram atravessar a tempestade de maneira mais assertiva. Na reconstrução da Alemanha no pós-guerra, o conservador Konrad Adenauer conseguiu dar a estabilidade necessária para fazer a nação renascer.

No auge da Guerra Fria, os sociais-democratas, Willy Brandt e Helmut Schmidt deram passos importantes para não escalar a situação com a Alemanha Oriental e até mesmo dialogaram com a União Soviética. Durante a reunificação alemã, Helmut Kohl conseguiu deixar as diferenças históricas de lado e unir uma país literalmente rachado, assim como Angela Merkel teve habilidade política de garantir a sobrevivência da União Europeia mesmo após a drástica crise de 2008. Infelizmente, em mais um período desafiador, a Alemanha não pode contar com alguém da habilidade de Schmidt ou a postura firme de Kohl, mas apenas a monocórdica presença de Scholz, e chega ao final de 2024 sem ver uma luz no fim do túnel.

A crise política iniciada pela escolha de aumentar os gastos públicos, ocasionou a demissão do ministro liberal das finanças Christian Lindner e culminou com o desmanche da coalizão governista. As eleições antecipadas para fevereiro de 2025 trazem poucas certezas para a Alemanha, mas uma certeza para Scholz: ele não continuará na posição de chefe de governo. Acompanhando os números alarmantes das últimas pesquisas de opinião, o tradicional partido social-democrata se viu em uma posição de lutar pelo seu futuro político daqui 4 anos em detrimento a uma derrota mais acachapante agora.

Com os altos índices de rejeição de Olaf Scholz, a SPD cogitou lançar o atual ministro da defesa, Boris Pistorius como candidato a Chanceler, como uma última alternativa para evitar um vexame eleitoral. Todavia, tal manobra poderia desperdiçar uma chance de renascimento político da SPD ao médio prazo, utilizando um nome popular e competitivo em uma eleição já perdida. Consequentemente o nome do atual Chanceler, Olaf Scholz, foi referendado pelo partido como o candidato oficial da legenda nas eleições antecipadas, em uma decisão que deixa claro ao mandatário alemão que ele será o responsável publicamente pelos insucessos desse governo e pela altamente provável derrota eleitoral. 

A possibilidade de uma coalizão governista liderada pelos conservadores em cooperação com os sociais-democratas ainda existe, mas cada vez menos entusiasmante para alas mais à direita da CDU-CSU. Com os índices dos Verdes e dos Liberais cada vez menores nas pesquisas, os sociais-democratas olham para a Chancelaria de maneira já nostálgica nesse final de ano. Tudo indica que a situação econômica e migratória da Alemanha continuará longe do que o país precisa e do que pode alcançar sendo o motor da Europa, mas novos ares e um novo governo em breve, poderão trazer uma perspectiva mais animadora para os alemães, além do cansado olhar de Olaf Scholz. 

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